OIT: ataques contra os salários estão na origem da crise da Zona Euro

24 de January 2012 - 23:05

A baixa constante dos salários dos trabalhadores na Alemanha durante os últimos dez anos como motor da competitividade das exportações do país é a “causa estrutural” da crise da Zona Euro, segundo um relatório divulgado terça-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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O crescimento das desigualdades na Alemanha já nem se compara ao período da anexação da antiga RDA. Foto INSM/Flickr

Ao nível interno, a situação provocou, de acordo com o documento, uma crescimento das desigualdades a uma velocidade nunca vista recentemente, nem mesmo durante o período da anexação da antiga RDA.

“Os custos do trabalho na Alemanha caíram na última década em comparação com os dos seus concorrentes, pondo o crescimento sob pressão, com consequências nefastas para a viabilidade das suas finanças públicas”, sublinha o relatório publicado na sede da OIT, em Genebra. Mais grave ainda, prossegue, “os países em crise não puderam utilizar o caminho das exportações para compensar a fraqueza da procura doméstica porque a sua indústria não consegue tirar proveito de uma procura interna mais forte na Alemanha”.

A situação não decorre apenas da política laboral do consulado Merkel, que está a ser tomada como modelo em toda a Zona Euro e o primeiro ministro italiano pretende pôr em prática dentro de um mês. A OIT sublinha que a origem está nas reformas liberais postas em prática em 2003 pelo governo Schroeder de aliança entre os sociais democratas e os Verdes. O relatório recorda que essas reformas assentaram na “redução dos rendimentos de baixo nível (…), nomeadamente nos serviços ou novos empregos, essencialmente à base dos salários”. Ao mesmo tempo, sublinha, “pouco foi feito para melhorar a competitividade através de uma progressão da produtividade”.

Por isso, acrescenta o relatório da OIT, “a política de deflação salarial não apenas amputou o consumo, que se estabeleceu um ponto percentual abaixo do verificado no resto dos países que compõem a Zona Euro no período entre 1995 e 2001, como conduziu a um crescimento das desigualdades a uma velocidade jamais vista, mesmo no choque a seguir à reunificação”.

Com base em dados da OCDE, a OIT deduz que ao nível europeu este quadro “criou as condições para um marasmo económico prolongado porque os outros países veem cada vez mais a política de deflação dos salários como solução para a sua falta de competitividade”.

A análise da OIT considera ainda que a contribuição da deflação salarial para a criação de emprego na Alemanha “não é assim tão clara” porque “os recentes êxitos da exportação se devem pouco a essa política salarial explicando-se mais pela orientação dos exportadores alemães para os mercados emergentes dinâmicos”.


Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu.