Está aqui

Quem faz parte do governo atual da Ucrânia?

A Rússia não fez segredo do seu desprezo pelos “terroristas e bandidos” que expulsaram Viktor Ianukovich do governo de Kiev. Mas quem são os novos governantes da Ucrânia? Por Harriet Salem The Guardian
No passado, Yatsenyuk teve cargos importantes, incluindo o de chefe do Banco Central, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do Parlamento. Foto de ВО Свобода, creative commons

O novo governo da Ucrânia tem uma composição variada. Formado por 21 ministros, muitos são do partido Pátria de Arseniy Yatsenyuk. Uns quantos vêm do partido nacionalista de extrema-direita Svoboda. Há também um punhado de caras novas, principalmente ativistas que tiveram um papel predominante no movimento Euromaidan de Kiev, e jornalistas. O partido Aliança Democrática Ucraniana para as Reformas do boxeador transformado em político Vitali Klitschko não está representado depois de ter rejeitado ofertas de participação.

Olexander Turchynov – Presidente interino

O vice-líder do Pátria mantém ligações muito próximas com Yulia Tymoshenko, a controversa ex-primeira-ministro, que foi presa sob o antigo regime. Tem 50 anos e é de Dniepropetrovsk, e muitos veem a sua nomeação como uma manobra para abrir o caminho ao regresso da recentemente libertada e oligarca do setor do gás, Tymoshenko.

Turchynov teve um papel proeminente nos protestos de Euromaidan e foi posto sob investigação pelos serviços de segurança do ex-presidente Ianukovich pelo seu envolvimento na organização das unidades de autodefesa.

Apesar disto, Turchynov não era popular entre as massas da praça da Independência. Foi criticado pelos manifestantes quando disse que estes tinham obtido os objetivos e que deviam ir para casa, depois da queda de Ianukovich.

Turchynov tem uma longa carreira política e teve antes cargos, incluindo o de chefe da serviço secreto da Ucrânia (SBU), primeiro-ministro interino e vice-primeiro-ministro. Os documentos da Wikileaks sugerem que durante o seu mandato enquanto chefe do serviço secreto em 2005 destruiu documentos que alegadamente implicavam Tymoshenko com o crime organizado – alegações que ela sempre negou.

Arseniy Yatsenyuk – Primeiro-ministro

O político de 39 anos assumiu o leme do partido Pátria de Tymoshenko depois de esta ser presa em 2011. Apesar de ter aparecido no palco de Maidan com Tymoshenko imediatamente depois da sua libertação, muito pouco amor restou entre ambos. No passado, chamadas telefónica intercetadas mostraram Yatsenyuk a gritar com Tymoshenko. O novo primeiro-ministro nasceu na cidade de Ahernivtsi, na Ucrânia ocidental, tem reputação de ser difícil de se trabalhar com ele, e teve muitos conflitos com vários membros do seu partido.

Rejeitou o cargo de primeiro-ministro quando o agora derrubado Ianukovich lho ofereceu em janeiro, mas aceitou-o depois da vitória dos manifestantes de Maidan.

No passado, Yatsenyuk teve cargos importantes, incluindo o de chefe do Banco Central, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do Parlamento.

Yatsenyuk desvalorizou as suas origens de judeu ucraniano, possivelmente devido à prevalência de antissemitismo no seu partido.

Oleksandr Sych – Vice-primeiro-ministro

Com 49 anos, é membro do partido nacionalista de extrema-direita Svoboda (Liberdade). É um ativista antiaborto e sugeriu uma vez que as mulheres deveriam “ter um estilo de vida que evitasse o risco de violação, abstendo-se de beber álcool e de ter companhias controversas”. Foi criticado por grupos de direitos humanos e das mulheres.

Arsen Avakov – Ministro do Interior.

O especialista em médias sociais Avakov ganhou reputação por usar o Facebook para difundir atualizações sobre a situação respeitante à lei e à ordem e às ações do novo governo, às vezes antes mesmo dos comunicados de imprensa serem feitos. Exemplos recentes incluem o anúncio da extinção das forças especiais Berkut, famosas pela agressão aos manifestantes antigoverno, e a reação aos recentes acontecimentos na Crimeia, que Avakov descreveu como uma “invasão e ocupação militar”.

Avakov é membro do partido Pátria. Em 2012-13 viveu na Itália depois de as autoridades ucranianas o investigarem sobre alegada privatização ilegal de terra. A Itália recusou-se a extraditá-lo e alegou que o processo tinha motivos políticos. Em 1990, Avakov fundou e dirigiu duas empresas financeiras, Investor e Bank Basis, que se tornaram no Commercial Bank em 1992.

Andriy Deshchitsya – Ministro dos Negócios Estrangeiros

Com 50 anos, é diplomata de carreira e foi um dos primeiros ucranianos enviados para apoiar as manifestações antigovernamentais. É principalmente visto como um burocrata e antes ocupou cargos importantes nas embaixadas da Finlândia e da Polónia. Mais recentemente, foi o representante da Ucrânia na Organização para a Segurança e Cooperação da Europa. Entre os recentemente nomeados, é um dos mais neutros politicamente.

Andriy Parubiy – Chefe da segurança nacional

Parlamentar e membro do partido Pátria, Parubiy teve um papel proeminente no terreno durante os protestos Maidan como autodenominado comandante do acampamento de protesto

Foi ativo na luta pela independência da Ucrânia da União Soviética, que foi obtida em 1991, e foi um dos líderes da Revolução Laranja de 2004.

Dmitry Yarosh – Vice-líder da segurança nacional

Militante do grupo ulltradireitista Praviy Sektor (Setor de Direita), que obteve proeminência durante as manifestações EuroMaidan devido à sua postura sem compromissos.

Muitos atribuem grande parte da violência por parte dos manifestantes – incluindo o uso de cocktails molotov e pedras contra a polícia – ao grupo. Algumas fontes ocidentais expressaram preocupação acerca da inclusão de Yarosh no novo governo.

Dmytro Bulatov – Ministro dos Desportos e da Juventude.

Empresário de 35 anos, foi o líder da Avtomaidan (maidan motorizada), uma patrulha móvel que usava carros para proteger os manifestantes de Maidan dos ataques de bytitushki (um novo termo calão usado para designar os bandidos contratados pelo governo) em Kiev.

Foi raptado em janeiro e desapareceu durante oito dias. Quando reapareceu, disse que fora sequestrado por homens com sotaque russo que o torturaram, incusive cortando-lhe parte da orelha. Fugiu para a Lituânia temporariamente, temendo pela sua segurança na Ucrânia.

Tetyana Chernovil – Outra proeminente ativista que foi recompensada por ter sido agredida durante os protestos. Com 34 anos, obteve fama pelas suas investigações jornalísticas sobre os principais políticos e oligarcas ucranianos.

Durante os protestos, dos quais foi uma das porta-vozes, Chernovil foi agarrada numa estrada e espancada pelos assaltantes. Na altura, a polícia alegou que o ataque tinha sido crime comum, mas ela considerou as declarações ridículas e disse que o ataque era claramente vinculado ao seu trabalho. O seu papel preciso no governo não é claro.

4 de março de 2014

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

(...)

Neste dossier:

A Ucrânia esmagada pelas potências

Palco de um grande movimento popular, a Ucrânia vê-se agora ameaçada por um governo que integra a extrema-direita e quer impor a austeridade, pelo expansionismo da NATO, pela invasão russa à Crimeia, pela ameaça da divisão. Neste dossier organizado por Luis Leiria recolhemos artigos, entrevistas e informação.

Só a solidariedade salvará a Ucrânia da intervenção

A União socialista “Oposição de Esquerda” faz a sua avaliação da agressão russa na Crimeia e o papel destrutivo dos nacionalistas ucranianos. A intervenção dos exércitos russos foi possível devido à divisão na sociedade ucraniana. A sua unidade é impossível com os oligarcas e os chauvinistas no poder. Só a solidariedade poderá salvar a Ucrânia.

6 notas para compreender o que se passa na Crimeia, peça chave do conflito na Ucrânia

Depois do ocorrido durante a última semana em Kiev, o foco do conflito na Ucrânia translada-se à Crimeia. O que acontecer nesta região será determinante: pode a situação degenerar numa guerra civil? Putin intervirá militarmente? Continuará a Ucrânia a ser um país ou caminha para a secessão? Artigo de Alberto Sicília em Kiev, publicado no blogue Principia Marsupia.

Maidan e a revolução ucraniana

A esquerda não deve repetir a propaganda de Putin que diz que os fascistas ocuparam Maidan, defende Vasyl Cherepanin, dirigente do centro de investigação “Cultura Visual” de Kiev e editor da versão ucraniana da revista Krytika politiczna (Críticas Políticas). Entrevista realizada por Nicola Bullard e Christophe Aguiton.

Ucrânia: A Primavera dos Povos chegou já à Europa

A Primavera árabe chegou, no inverno de 2010, à vizinhança da Europa: nos países situados do outro lado do Mediterrâneo. Quatro anos depois, vemos que a Primavera dos Povos não é somente árabe. Também no inverno, irrompeu na Europa, ainda que, para falar verdade, apenas numa periferia exterior da União Europeia. Por Zbigniew Marcin Kowalewski

O fim de Ianukovich é um começo

O movimento que na Ucrânia derrubou o antigo presidente Viktor Ianukovich não se encaixa em certos estereótipos usados pelas pessoas na Europa Ocidental, incluindo os socialistas e as esquerdas. Tendo passado os últimos dias em Kiev, ofereço as seguintes respostas a perguntas que me põem frequentemente amigos da Europa Ocidental. Por Gabriel Levy, no blog People and Nature

O papel da direita e extrema-direita nos protestos e as perspetivas

Nesta segunda parte do artigo em que discute os acontecimentos de Kiev, que presenciou, Gabriel Levy aborda o papel dos populistas de direita e fascistas no movimento, os grupos de autodefesa, e as perspetivas. Por Gabriel Levy, no blog People and Nature

Anti-fascistas europeus, despertem! A peste castanha está de volta!

Que mais é preciso para que a esquerda europeia saia do seu atual torpor, toque o alarme, se mobilize urgentemente e tome o mais rapidamente possível a única iniciativa capaz de contrariar o tsunami fascista e fascistóide que se aproxima? Uma iniciativa que não pode senão visar a criação de um movimento anti-fascista europeu. Artigo de Yorgos Mitralias, publicado no CADTM.

Ucrânia: À medida que o debate sobe de tom, ambos os lados se enganam

É possível condenar a invasão de Vladimir Putin e acreditar que não há lugar para os fascistas no novo governo de Kiev. Artigo de Jonathan Freedland no jornal Guardian.

Quem faz parte do governo atual da Ucrânia?

A Rússia não fez segredo do seu desprezo pelos “terroristas e bandidos” que expulsaram Viktor Ianukovich do governo de Kiev. Mas quem são os novos governantes da Ucrânia? Por Harriet Salem The Guardian

Ucrânia: Três perguntas incómodas aos liberais ocidentais

Três perguntas incómodas aos liberais ocidentais sobre o direito de autodeterminação das minorias nacionais e um comentário sobre o papel da União Europeia. Por Yanis Varoufakis

Crise na Ucrânia pode afetar distribuição de gás na Europa

Um terço do gás consumido no continente vem da Rússia, e grande parte passa por gasodutos ucranianos. Temor é de que Moscovo corte fornecimento, mas especialistas e políticos são céticos de que a situação chegue a esse extremo. Da Deutsche Welle