Paulo Macedo: cortar é comigo

Ao contrário da propaganda governamental não está em curso qualquer reforma do SNS. Fechar e concentrar serviços e hospitais não é reforma. Atrasar a criação de novas USF não é reforma. Adiar a rede de cuidados continuados não é reforma. Não fazer qualquer investimento no SNS não é reforma. Artigo de João Semedo

13 de abril 2014 - 12:18
PARTILHAR
Foto de Nuno Veiga/Lusa

A estratégia do governo em matéria de saúde é simples: reduzir o SNS a uma miniatura e caricatura daquilo que é hoje, para reduzir a despesa do estado com a saúde dos portugueses. O governo aumenta os impostos mas reduz os serviços públicos à disposição dos cidadãos contribuintes. A oferta pública diminui para ir, gradualmente, aumentando a oferta privada e os seus lucros. Por exemplo, o grupo BES Saúde regressou aos lucros, em grande parte devido ao aumento do número de doentes que vão aos hospitais do grupo BES mas, sobretudo, como reconhece a sua administração pelos ganhos obtidos com a gestão e exploração do novo hospital de Loures construído em PPP.

O governo fez três orçamentos. No conjunto cortou 1,6 mil milhões no SNS. Diz o ministro da saúde que alguns cortes são mesmo uma obrigação, são mesmo uma questão ética. A que se refere o ministro? Há alguma ética em cortar nos transportes dos doentes ou em  racionar medicamentos contra o cancro? Qual a razão ética para fechar a MAC? Poupar na saúde e bem estar dos doentes é o contrário de qualquer ética. Paulo Macedo está mais preocupado com os credores do que com os doentes.

Ao contrário da propaganda governamental não está em curso qualquer reforma do SNS. Fechar e concentrar serviços e hospitais não é reforma. Atrasar a criação de novas USF não é reforma. Adiar a rede de cuidados continuados não é reforma. Não fazer qualquer investimento no SNS não é reforma. Nada disto ajuda o SNS, tudo isto prejudica o acesso ao SNS. Menos acesso e maiores listas de espera são hoje as marcas desta governação.

Paulo Macedo é um ministro politicamente fraco, que anda a reboque dos acontecimentos e não tem capacidade para conduzir o SNS nem para se impor ao primeiro ministro e à troika batendo o pé a mais cortes na saúde. Gerir um orçamento é uma coisa, gerir o SNS é outra bem diferente. Paulo Macedo tem sido um mau ministro da saúde. Cortar, cortar, cortar, não faz uma política de saúde.

O que falta a Paulo Macedo em política de saúde, sobra em promessas: novo hospital em Lisboa, todos os portugueses com médico de família, entre as mais sonoras promessas. Antevendo-se o fim do mandato, não é difícil prever que todas ficarão por cumprir.

Claro que há quem aplauda Paulo Macedo, os hospitais privados e as misericórdias. Os privados porque não param de aumentar os seus lucros, apesar da crise, e as misericórdias porque vão receber, sem saber ler nem escrever, uma série de hospitais para gerir e explorar. Sem esquecer a troika, em nome da qual Paulo Macedo desgoverna o SNS.

Termos relacionados: