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O mundo em 2020 além da pandemia

Reunimos aqui alguns dos principais acontecimentos do ano a nível internacional, à margem do tema omnipresente na atualidade informativa em 2020. Dossier organizado por Luís Branco.
O mundo em 2020 além da pandemia

Como fazer um resumo do ano sem falar da pandemia? É uma tarefa impossível. A crise económica que resultou da importante paragem da produção e da circulação de pessoas e mercadorias é de tal dimensão que ninguém arrisca ainda prever quando vai terminar e quanto vai custar. O desemprego disparou, apesar das ajudas dos Estados para conter o efeito da crise, a pobreza aumentou e as desigualdades também, com os super-ricos a aproveitarem-se do momento para aumentarem a sua riqueza. 

Ao longo do ano, fomos publicando algumas análises de economistas (e não só) acerca das diferenças em relação à crise financeira de 2008 e de como a relação de forças saída dessa crise está a influenciar o desenrolar da que hoje vivemos. Selecionamos alguns desses artigos para este dossier.

Além da crise, há temas que persistem em não deixar a ribalta da atualidade internacional e alguns prometem ficar por muitos anos. É o caso da crise climática, num ano marcado por impasses e vitórias. Apesar do decréscimo das emissões poluentes devido à paragem da produção, a sua concentração na atmosfera bateu recordes, tal como as temperaturas médias. O degelo e a desflorestação continuaram a contribuir para as alterações climáticas e a mobilização ativista ficou comprometida pelo confinamento. Apesar disso, houve boas notícias em Portugal, com uma importante vitória contra a prospeção e exploração de combustíveis fósseis.

A crise dos refugiados às portas da Europa teve novos desenvolvimentos, marcados sobretudo pela escalada da tensão entre a Grécia e a Turquia. Ainda antes da pandemia, enquanto Erdogan ameaçava Bruxelas com o fim do acordo que põe a Turquia a reter a passagem de migrantes para a União Europeia, a Grécia lançava gás lacrimogéneo para mandar milhares de migrantes de volta à Turquia. Pouco depois, um violento incêndio destruiu por completo o sobrelotado campo de Moria, símbolo do fracasso da política europeia de acolhimento, onde milhares de pessoas esperavam há anos em condições insalubres por uma resposta aos seus pedidos de acolhimento. No outro lado do mundo, a perseguição à minoria muçulmana rohingya na antiga Birmânia continuou em 2020 e as condições de acolhimento destes refugiados na Indonésia e Bangladesh foram mais uma vez alvo de denúncias por parte das organizações humanitárias.

Na política internacional, selecionamos para este dossier os acontecimentos do ano nos Estados Unidos, abalados por uma vaga de protesto impressionante contra o racismo após um novo assassinato policial, a poucos meses das eleições que derrotaram Trump mas deixaram bem vivas as feridas abertas numa sociedade cada vez mais dividida. Mas também na China, que conseguiu controlar a pandemia a tempo de a aproveitar para reforçar a repressão contra a minoria uigur e os defensores da autonomia e da democracia em Hong Kong.

Em Angola, a esperança num aumento das liberdades em relação ao autoritarismo do anterior chefe de Estado e à corrupção dos seus próximos transformou-se em desilusão, com novas prisões e assassinatos de manifestantes por parte das forças de segurança do regime. Foi da América Latina - com as importantes mobilizações na Argentina pelo direito ao aborto, no Chile por uma nova Constituição e na Bolívia com a derrota dos golpistas nas urnas, sem esquecer a revolta no Peru - que vieram alguns sinais de esperança num ano que muita gente vai querer esquecer.

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Neste dossier:

O mundo em 2020 além da pandemia

O mundo em 2020 além da pandemia

Reunimos aqui alguns dos principais acontecimentos do ano a nível internacional, à margem do tema omnipresente na atualidade informativa em 2020. Dossier organizado por Luís Branco.

Face a um presidente Piñera desmoralizado, "sim" a uma nova Constituição e Constituinte venceu com quase 80%. Foto de Jose Pereira.

América Latina: Bolívia, Chile e Peru iluminaram um 2020 sombrio

Vitória do MAS boliviano, que regressou ao poder depois de ter sido afastado por um golpe de Estado, vitória do “sim” à nova Constituição no Chile e rebelião no Peru estremeceram um continente entristecido pela pandemia. Artigo de Luis Leiria.

Manifestantes em Los Angeles. Foto de ETIENNE LAURENT/EPA/Lusa.

EUA 2020: o ano das vidas que importam

Crise com o Irão, disputas com a China, movimento Black Lives Matter e presidenciais. 2020 foi um ano que mudou a vida política norte-americana. Um balanço sem covidArtigo de Carlos Carujo.

Manifestação da sociedade civil em Luanda a 10 de dezembro de 2020, Largo da Independência - Foto de ativistas publicada no facebook

Angola: o Luanda Leaks e a luta pela Liberdade

O ano de 2020 fica marcado por dois processos em relação a Angola. Em primeiro lugar, a denúncia e combate à corrupção, em particular a partir do Luanda Leaks, dado a conhecer a 19 de janeiro de 2020. Em segundo lugar, as manifestações contra o custo de vida e pela afirmação da cidadania. Artigo de Carlos Santos.

A crise chegou, mas não aos super-ricos

A crise chegou, mas não aos super-ricos

Enquanto as previsões do Banco Mundial apontam para o crescimento da pobreza extrema pela primeira vez em 20 anos, com até 150 milhões de pessoas a viver com 1,61 euros por dia, os multimilionários tiveram ganhos históricos este ano, com algumas fortunas a ultrapassar os 200 mil milhões de dólares.

Crise económica na sequência da pandemia.

Leituras sobre a crise global

Ao longo do ano, foram muitos os economistas a alertar que a recessão económica provocada pela pandemia era diferente de todas as anteriores e somava-se a uma crise financeira que nunca foi resolvida. O esquerda.net publicou algumas destas reflexões.

Impasses e vitórias na luta pela justiça climática

O crash na produção mundial levou a um decréscimo das emissões poluentes, mas a sua concentração na atmosfera bateu recordes, tal como as temperaturas médias. A mobilização climática ficou comprometida pelo confinamento e Portugal assistiu à vitória contra a prospeção e exploração de combustíveis fósseis.

A crise dos refugiados agudizou-se e o exemplo é Moria

Moria foi o símbolo do agravamento da crise dos refugiados

A crise dos refugiados agravou-se a nível mundial: Indonésia recebeu o maior desembarque de refugiados rohingya desde 2015 e na Europa, o campo de Moria foi o exemplo disso. 2020 atingiu o marco histórico de 80 milhões de deslocados e refugiados. 

Campo de "reeducação" da comunidade uigur, em Xinjiang.

China: pandemia não fez abrandar repressão

O ano de 2020 ficou marcado pela interferência na autonomia de Hong Kong para silenciar os protestos e pela denúncia das centenas de campos de trabalho forçado para os uigures na província de Xinjiang.