Jorge Leite: a discreta humildade de um lutador

O Jorge Leite foi das pessoas mais exigentes consigo próprio que conheci e, talvez por isso, das mais dialogantes, não sectário, pedagógico no raciocínio e no verbo. Por José Oliveira Barata.

02 de setembro 2019 - 16:47
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Dir-se-á: já se esperava. Mas não é bem assim. Nunca se espera. Espera-se cientificamente; mas há uma 'espera' que nos reveste por dentro e que soçobra, soluça, quando a ciência ganha e põe fim ao que não queríamos. Porque é um pedaço de nós que parte.

O Jorge Leite foi das pessoas mais exigentes consigo próprio que conheci e, talvez por isso, das mais dialogantes, não sectário, pedagógico no raciocínio e no verbo.

Vinha de professor primário; vinha de Marialva; trazia em si um entusiasmo humilde, contagiante naquela pose genuína de puto tímido que se maravilhava com a procura da verdade. A força dos argumentos resultava de uma genuína e afectiva aliança entre o saber cientificamente adquirido e a depurada operação do confronto com a prática. Como na dialéctica trabalhador/trabalho; como na procura da justiça social que é mais que cartilha, lei ou artigo; é sobretudo praxis. O Jorge - ó neca! era assim que nos dizíamos - era inteiro, étimo siamês de íntegro. Probo, honrado, disponível na generosidade com que lutou contra a incompreensão, a miopia e até contra o sofrimento.

Da Visconde Montessão, à invencível equipa de futebol de salão da Vértice (jogara no Marialvas!), às lutas sindicais, à alegria partilhada e compreensão com um "simples encolher de ombros", o Jorge Leite respirava a candura de quem queria descobrir todos os dias um Mundo novo: diferente!

* José Oliveira Barata - Professor catedrático aposentado.

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