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Drones: a guerra no joystick

Os drones estão a ajudar à criação de um estado de guerra permanente, banalizando o uso da força letal e erodindo os direitos humanos, facilitando a escalada da guerra.
Os drones criam uma “mentalidade de Playstation” nos pilotos, que têm tendência a encarar a sua atividade como um jogo de guerra e não como uma guerra real

Resumo da apresentação feita no painel "Drones: a guerra no Joystick" no Fórum Socialismo 2014, sábado 31 de setembro às 10h30.

(Diapositivo 1)

Há uma explosão do fabrico e do uso dos drones

Particularmente pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha, mas também por Israel. Calcula-se que atualmente cerca de 40 países estão a desenvolver ou a usar drones.

(Diapositivo 2)

Gastos com drones por parte dos Estados Unidos:

2001 – 350 milhões de dólares.

2006 – 1700 milhões.

2011 – 4100 milhões.

Quantos drones?

Segundo um relatório do Congresso dos EUA, mais de 1/3 dos aviões militares dos EUA são drones (cerca de 7.500)

(Diapositivo 3)

História dos drones:

Drone quer dizer zângão. Em 1935, o chefe do Estado-Maior da Armada dos Estados Unidos visitou o Reino Unido e ficou impressionado com um avião não-tripulado que era usado para o treino da artilharia anti-aérea. Era um De Havilland 82B Queen Bee (abelha rainha). O almirante voltou entusiasmado com a ideia e o primeiro avião não-tripulado chamou-se Drone (zângão). O nome acabou por se mostrar apropriado pelo barulho dos motores dos atuais drones, que parecem o zumbido de uma abelha.

Mais recentemente, começaram a ser usados pela NATO com missões de vigilância nos Balcãs e pelos EUA na 1ª guerra do Golfo, anos 90. Foi na guerra do Kosovo que os militares da NATO, na guerra do Kosovo, começaram a pensar em armar os drones.

O primeiro Predator armado com mísseis foi usado no Afeganistão cerca de um mês após o 11 de setembro.

(Diapositivo 4)

Drones de ataque

Os mais usados são o Predator, fabricado pela General Atomics, e a sua versão mais moderna, o Reaper. Este pode chegar a uma autonomia de voo de 42 horas, com a instalação de tanques de combustível suplementares, já que tem um trem de aterragem reforçado. Pode levar 680 kg de bombas guiadas por laser e mísseis ar-terra. Está em testes o uso de mísseis ar-ar. Tem uma velocidade máxima de 480 km/h e de cruzeiro de 313 km/h. A sua altitude operacional é de 25.000 pés (7.500 metros).

Onde são usados

Os EUA usam-nos principalmente no Afeganistão, Paquistão e Iémen, mas também no Iraque, Somália e Líbia. O Reino Unido tem um esquadrão de drones no Afeaganistão. Israel usa drones nos territórios ocupados, mas também já os terá usado no Sudão e no Egito.

(Diapositivo 5)

Como são usados

O principal centro de controlo dos drones americanos e ingleses fica nos Estados Unidos, no estado de Nevada. A comunicação é feita via satélite, mas mesmo assim há uma latência de dois segundos entre os comandos dados em Nevada e a sua receção pelos drones no outro lado do mundo, o que seria suficiente para provocar desastres se algo acontecesse nos momentos críticos da descolagem e aterragem. Assim, a descolagem é feita pelo pessoal em Kandahar, que passa em seguida o controlo para os Estados Unidos. Quando da aterragem, o controlo é repassado para o Afeganistão.

Quantas pessoas tem a tripulação de um Reaper?

Três pessoas: um piloto, um responsável pelas comunicações e um terceiro que está em contacto com as tropas terrestres e repassa para elas os feeds das câmaras do avião.

Quem está envolvido no fabrico de drones?

Boeing, General Atomics, Lockheed Martin, Northrop Grumman, Aerovironement, Prox Dynamics AS, SAIC, Israeli, Aerospace Industries, Textron, General Dynamics.

Quantas baixas já provocaram?

Segundo o Bureau of Investigation Journalism, houve cerca de 4000 baixas no Paquistão, Iémene, Afeagnistão e Somália, dos quais 954 civis e 225 crianças.

Parte 2

Os drones são vistos como tendo revolucionado as estratégias militares desde que começaram a ser usados

(Diapositivo 6)

Quais são as diferenças principais com aviões tripulados?

1) São controlados por pilotos que podem estar do outro lado do mundo. Têm um grande poder de fogo e capacidade de vigilância, mas se forem abatidos ou tiverem uma avaria não haverá baixas. É mais fácil começar uma guerra quando se tem a certeza de que não haverá militares a voltar em sacos de pano.

2) As suas missões duram muito mais tempo que as dos aviões tripulados. Estes, no máximo podem voar oito horas; os drones, de 18 a 20 e até, em condições especiais, no caso dos Reapers, podem chegar a voar 42 horas sem abastecer; só a tripulação é substituída.

3) São muito mais baratos que os aviões tripulados, voam indiferentemente de dia ou noite e podem voar a grandes altitudes sem necessidade de sistemas de ar para os pilotos e sistemas de pressurização.

(Diapositivo 7)

Por que os drones são uma má notícia?

1) Porque tornam mais fácil a decisão política de começar uma guerra, já que se sabe à partida que não vai haver baixas.

2) Porque criam uma “mentalidade de Playstation” nos pilotos que têm tendência a encarar a sua atividade como um jogo de guerra e não como uma guerra real, onde aqueles pontinhos no ecrã não são apenas pixeis, são pessoas reais. Mesmo assim, há pilotos que pediram para sair do cargo ao verificarem que tinham causado a morte de civis. Um piloto disse a uma reportagem que o mais estranho é de manhã levar os filhos à escola e depois ir matar pessoas.

3) Porque tornam mais fácil – e por isso ampliam-na – a prática dos assassinatos extrajudiciais. Esta prática tem sido particularmente incentivada e defendida por Barack Obama, muito mais que o seu antecessor.

4) Porque a precisão dos “ataques cirúrgicos” é um mito. Apesar de as bombas guiadas por laser serem mais precisas, mesmo em testes a sua margem de acerto é de 50%. No terreno da guerra, é mais difícil de avaliar porque não há dados. Mas no Paquistão, o Bureau of Investigation Journalism fala de 450 a 900 civis mortos de ataques com drones.

Larry Lewis, que estudou dados mantidos confidenciais em relação ao Afeganistão, disse ao The Guardian que os ataques de drones são 10 vezes mais mortais para civis que os desferidos por jatos tripulados.

5) Porque criam mais instabilidade que segurança aos EUA. Criam mais raiva e ressentimento aos povos sob ataque e por isso em vez de pacificar, facilita o recrutamento de mais combatentes. Robert Greiner, ex-chefe da secção de contra-terrorismo da CIA de 2004 a 2006 disse: “Estamos a criar mais inimigos que os que retiramos dos campos de batalha”.

(Diapositivo 8)

6) Com tudo isto, os drones estão ajudar à criação de um estado de guerra permanente, mudando as leis da guerra, banalizando o uso da força letal e erodindo os direitos humanos, facilitando a escalada da guerra.

Parte 3

(Diapositivo 9)

Drones usados para vigilância interna. Nos EUA, usados para vigilância das fronteiras e em Estados que já autorizaram, como Texas ou Flórida. Drones com múltiplas câmaras, que podem seguir um grupo e manter a vigilância mesmo se o grupo se separar.

Futuro:

Drones stealth

Nanodrones

Drones que voam em enxame.

Nota: os diapositivos estão no ficheiro PDF em anexo.

AnexoTamanho
PDF icon drones_apresentacao.pdf1.48 MB

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
(...)

Neste dossier:

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