Como assim?
Viagens a toda a hora;
Sem Bagagens no Porão (era aí que iam os "turistas da época");
Sem ar condicionado: nessa altura já existiam restrições energéticas por causa do ambiente;
Sem direito a refeições: para evitar enjoos com tempestades e ondulações;
Trabalho garantido à chegada. Sim, que estes turistas estavam era a tentar enganar o SEF da altura. Eles e elas queriam era ir trabalhar e por isso se ofereciam para estas viagens.
Queriam trabalhar? Ofereciam-se?
Bom, o salário não era lá grande coisa e talvez tenham sido um pouco empurrados para esses cruzeiros mas, à época, ou era isso ou iam a nado.
Grande coisa?
Quer dizer, era pouco, pois já se começava a sentir a crise.
Pouco?
Pronto, OK! Não recebiam nada. Mas também quem é que, à época, se podia dar ao privilégio de saltar de continente em continente? E mais, quem é que agora consegue visitar o Amazonas, o Pantanal, os Andes? Ou mesmo estar com os Incas, os "peles vermelhas" e outros grupos, tipo ciganos? Pois agora já desapareceram, ou quase. Aí está, esses turistas puderam conviver com toda essa gente que hoje já só se vê nos filmes. Essa possibilidade, esse privilégio, não tinha nem tem preço. Além de que, muita sorte tiveram em terem sido evacuados de onde viviam.
"Evacuados"?
Sim... O que é que aconteceu aos que lá ficaram? Perguntem à rainha Ginga, ao Gungunhana. Além de que, deste lado do Atlântico, era só febres, epidemias, doenças. E fome, muita fome (Biafra). E, aos que bazaram, ninguém lhes cortou as mãos, pelo menos até chegarem ao outro lado.
Hoje fala-se de grandes feitos na retirada de milhares e milhares de pessoas deste ou daquele lugar por causa deste ou daquele vulcão, guerra ou outra coisa qualquer. Mas nessa altura, e com os parcos meios de que dispunham, foi comovente ver países em guerra uns com os outros, unirem as armas, digo, as mãos e ajudarem estes pobres milhões sem educação, cultura, religião e capacidade (primitivos mesmo) a fugir de uma morte certa e a morrer longe.
"Descobrimentos"
E ainda há gente que diz que não se "descobriu" nada? Então não? Em síntese e brevemente vejam só:
"Descobrimos" que havia dezenas de milhões de povos de diferentes cores e em vários continentes, africanos, asiáticos e americanos dispostos, desejosos mesmo de trabalhar à pala.
"Descobrimos" que viviam sobre ou entre dezenas, centenas de produtos que eram importantes para o desenvolvimento das economias de alguns países cultos, educados, inteligentes, amantes de Deus (o nosso) e da vida, incapazes de matar uma mosca e muito menos roubar o que quer que fosse, pois ambas as coisas, (matar e roubar) eram pecado. Depois... fomos confessar-nos.
"Descobrimos" como chegar lá.
"Descobrimos" como os tirar de lá e os colocar noutro sítio, mesmo que não tivessem muita vontade de o fazer.
"Descobrimos" como chegar à Índia, às Américas, a África, até ao Japão, coisa que imensa gente já estava farta de saber (sobretudo os que lá viviam), mas nós ainda não tínhamos "descoberto".
"Descobrimos" que havia bué de religiões espalhadas por esse mundo fora, mas a nossa é que era a TAL... e tratámos de agir como tal!
"Descobrimos" que, apesar de termos "Descoberto" isto tudo, havia gente do "nosso" lado mais, digamos, empreendedores, e mesmo sendo do mesmo credo, não se preocupavam de ir ficando com "alguma" mais-valia desse pessoal.
E estamos a "descobrir" agora que talvez, talvez se não tivéssemos "trabalhado" tão bem nesses séculos, se não fossemos autores de práticas tão inspiradoras para os ditadorzinhos do século passado e mesmo deste, as nossas crises políticas, demográficas, ambientais (e outras) não seriam tão graves e as nossas vidas poderiam ter algum futuro.
Terão?
Nota - Quero agradecer, sobretudo ao Observador (e a outros), por albergar no seu seio os novos cruzados que, com tanta incapacidade, incompetência e falta de vergonha, vêm combatendo os novos hereges, aqueles que ousam contestar "verdades absolutas" com tantos séculos de Encobrimentos.
Tráfico escravo entre 1501 e 1875:
Espanha / Uruguay |
Portugal / Brasil |
Grã-Bretanha |
Países Baixos |
EUA |
França |
Dinamarca / Báltico |
Totais |
|
1501-1525 |
6.363 |
7.000 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
13.363 |
1526-1550 |
25.375 |
25.387 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
50.762 |
1551-1575 |
28.167 |
31.089 |
1.685 |
0 |
0 |
66 |
0 |
61.007 |
1576-1600 |
60.056 |
90.715 |
237 |
1.365 |
0 |
0 |
0 |
152.373 |
1601-1625 |
83.496 |
267.519 |
0 |
1.829 |
0 |
0 |
0 |
352.844 |
1626-1650 |
44.313 |
201.609 |
33.695 |
31.729 |
824 |
1.827 |
1.053 |
315.050 |
1651-1675 |
12.601 |
244.793 |
122.367 |
100.526 |
0 |
7.125 |
653 |
488.065 |
1676-1700 |
5.860 |
297.272 |
272.200 |
85.847 |
3.327 |
29.484 |
25.685 |
719.675 |
1701-1725 |
0 |
474.447 |
410.597 |
73.816 |
3.277 |
120.939 |
5.833 |
1.088.909 |
1726-1750 |
0 |
536.696 |
554.042 |
83.095 |
34.004 |
259.095 |
4.793 |
1.471.725 |
1751-1775 |
4.239 |
528.693 |
832.047 |
132.330 |
84.580 |
325.918 |
17.508 |
1.925.315 |
1776-1800 |
6.415 |
673.167 |
748.612 |
40.773 |
67.443 |
433.061 |
39.199 |
2.008.670 |
1801-1825 |
168.087 |
1.160.601 |
283.959 |
2.669 |
109.545 |
135.815 |
16.316 |
1.876.992 |
1826-1850 |
400.728 |
1.299.969 |
0 |
357 |
1.850 |
68.074 |
0 |
1.770.978 |
1851-1875 |
215.824 |
9.309 |
0 |
0 |
476 |
0 |
0 |
225.609 |
Totais |
1.061.524 |
5.848.266 |
3.259.441 |
554.336 |
305.326 |
1.381.404 |
111.040 |