Daniel Ellsberg: de falcão a pomba

Nascido em Detroit, em 1931, Daniel Ellsberg foi trabalhar para a Rand Coporation, em 1959, como consultor do Departamento de Defesa e da Casa Branca. Nessa altura já tinha servido na Marinha de Guerra por três anos (presenciou em Alexandria a crise do Canal do Suez) e graduara-se em Harvard.

18 de fevereiro 2018 - 17:47
PARTILHAR
Daniel Ellsberg ao sair do tribunal, depois de terem sido retiradas todas as acusações contra ele.
Daniel Ellsberg ao sair do tribunal, depois de terem sido retiradas todas as acusações contra ele.

No seu papel de consultor da Rand, visitou pela primeira vez o Vietname em 1961, e voltou convencido de que a guerra não podia ser ganha e que o melhor que tinha a fazer era ficar longe desse assunto incómodo. Conseguiu-o só por três anos. Em 1964, assumiu um cargo de assessor no Pentágono e foi nele que presenciou o início da intervenção militar direta americana no Vietname. Um ano depois, foi como voluntário para o Vietname, ao serviço do Departamento de Estado, numa equipa liderada pelo famoso espião e militar Edward Lansdale (que inspirou Graham Greene no romance O Americano Tranquilo). Nos dois anos que aí permaneceu, aprofundou o seu conhecimento sobre a realidade da guerra e o beco sem saída em que os EUA tinham entrado. A estadia fê-lo também passar a ver os vietnamitas com outros olhos: “Aprendi a preocupar-me com o que acontecia ao povo vietnamita... Eles deixaram de ser apenas números e cifras abstratas, como eram para outras pessoas”, lembrou numa entrevista a Harry Kreisler, do Instituto de Estudos Internacionais de Berkeley.

Depois de ficar doente com hepatite, voltou para os EUA e para a Rand, quando trabalhou no estudo encomendado por Robert McNamara que ficaria mais tarde conhecido como os Documentos do Pentágono. Convencido de que Nixon iria seguir a linha dos seus antecessores e que faria de tudo para prolongar inutilmente o conflito, na tentativa de evitar a derrota, aproximou-se dos movimentos de protesto contra a guerra. Em Agosto de 1971, um encontro com um dos dirigentes do movimento antiguerra, Randall Keeler, mudou a sua vida. Keeler ia para a cadeia por se recusar a combater no Vietname. A tranquilidade e a firmeza do ativista da não-violência (que preferia ir para a cadeia a, por exemplo, fugir para o Canadá) caiu como um raio sobre Ellsberg, que imediatamente começou a pensar o que ele pessoalmente podia fazer para ajudar a abreviar a guerra. Decidiu então copiar as 7 mil páginas dos Documentos do Pentágono para entregá-las ao Congresso e mais tarde à imprensa.

A tentativa do governo Nixon de impedir a publicação criou um dos mais famosos julgamentos em defesa da liberdade da imprensa. Mais tarde, o próprio Ellsberg, que assumira ter sido ele a fonte da imprensa, foi processado e levado a um julgamento onde se arriscava a uma pena de 115 anos. Mas as manobras do governo para tentar descredibilizá-lo, que incluíram a invasão do consultório do seu psicanalista, levaram finalmente o juiz a retirar as queixas e anular o julgamento em 1973.

Ellsberg mantém um site na Internet em www.ellsberg.net

Termos relacionados: