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Convenção do Bloco com mira apontada às ameaças de Bruxelas

A X Convenção do Bloco foi a primeira realizada num contexto político em que o Bloco integra a maioria parlamentar que afastou a direita do poder. As principais críticas foram dirigidas a Bruxelas e às ameaças de sanções a Portugal.
X Convenção do Bloco
X Convenção do Bloco. Foto Paulete Matos.

Dois anos após a Convenção que dividiu o partido ao meio, registando-se um empate na votação para a direção entre duas moções e uma vitória por escassa margem da moção liderada por Catarina Martins e João Semedo, a X Convenção de junho de 2016 surgiu com as principais correntes novamente unidas na mesma moção, propondo Catarina Martins para coordenadora do partido.

Os excelentes resultados eleitorais das legislativas e presidenciais – os melhores da história do Bloco – e a solução política que permitiu pôr fim ao governo do PSD e do CDS fizeram parte do balanço político do anterior mandato. Dias antes do início da X Convenção, os britânicos votaram a favor do Brexit, aprofundando ainda mais a crise política da União Europeia. O tema não passou ao lado do debate bloquista, que voltou a defender a urgência da restruturação da dívida e respondeu à ameaça de sanções a Portugal com a possibilidade de Portugal seguir também o caminho do referendo para decidir se quer continuar a aplicar as regras que estrangulam a economia e o futuro do país.

À X Convenção apresentaram-se quatro moções, que como habitualmente discutiram as suas diferenças e propostas em sessões por todo o país e num debate transmitido pelo esquerda.net. Na eleição para delegadas e delegados, a moção A elegeu 523, a moção R 60, a moção B 33 e as plataformas locais 23.

No debate em Convenção, Pedro Filipe Soares fez o discurso de apresentação da moção A , que propôs juntar “maioria social em Portugal que se levante contra Bruxelas” e recuse as chantagens da Comissão Europeia. Pela moção R, Catarina Príncipe criticou a moção A por pretender “acabar com a experiência de direção coletiva, afunilando as decisões” em poucas pessoas e defendeu para as próximas autárquicas a formação de “alianças que saiam da aritmética simples dos partidos já existentes” e se estendam aos movimentos locais. João Madeira, da moção B defendeu que se vá mais longe na execução do acordo com o PS e criticou alguns aspetos do funcionamento interno do partido, exigindo mudanças no sistema de votação e a criação de mais espaços de participação.

A Convenção aprovou a moção de orientação política A – “A força da esperança. O Bloco à conquista da maioria” – com 444 votos. A moção R – “Crescer pela raiz. A radicalidade de reinventar a política” – obteve 58 votos e a moção B – “Mais Bloco” – 32 votos, tendo havido uma abstenção. Na eleição para a nova mesa nacional, foram eleitas por 64 pessoas da moção A, 7 da B e 9 da R. Catarina Martins foi eleita coordenadora do Bloco de Esquerda.

No discurso de encerramento, Catarina Martins afirmou que a imposição de sanções por parte da Comissão Europeia corresponde a uma “declaração de guerra a Portugal”  e que a prioridade do governo deve ser a sua recusa. A recém-eleita coordenadora do Bloco adiantou ainda algumas das prioridades do partido nas negociações para o Orçamento do Estado para 2017, com prioridade ao apoio aos pensionistas, com o aumento de pensões e o descongelamento do Indexante de Apoios Sociais para aumentar as prestações sociais.

“Diziam-nos que seria impossível um governo que não cortasse pensões. Como viram, não é. Diziam-nos que era impossível a um governo recuperar os salários. Não é. Não nos venham agora dizer que é impossível um governo que reestruture a dívida para evitar o aumento dos impostos ou que é impossível um governo que consiga responder pela criação de emprego”, afirmou Catarina Martins.

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Neste dossier:

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