Rita Gorgulho

Rita Gorgulho

Designer e professora

O novo código de IRS que entrou em vigor a 1 de janeiro parte do princípio de que as crianças que estudam no público não são bem iguais às do privado. Para o governo, a comida de uns vale mais do que a de outros.

Um sistema de ensino que tudo quer medir e quantificar prejudica bons e maus alunos, integrados e excluídos.

Diga-me, senhor Ministro da Educação, que escola é esta? Que escola é esta, que, passado um mês do início das aulas, continua com professores por colocar? Que escola é esta que despede professores e sobrecarrega outros de forma desumana?

Se temos o direito de ter uma escola pública acessível a todas as crianças, temos a obrigação de as vacinar. E digo obrigação porque acredito que este é um ato de saúde pública e que defende o interesse e bem estar de todos.

Obrigar uma criança a frequentar a aprendizagem da religião católica é, para o ministro Crato, o mesmo que essa criança praticar desporto ou aprender uma língua.

Uma escola democrática é aquela que permite aprender e crescer em todos os sentidos, é crítica, é intercultural, é inclusiva e com igualdade de oportunidades. É para todos. Forma cidadãos, não máquinas. É livre. Não tem exames de 4º ano.

Há dados chocantes. Um deles é que na UE as mulheres trabalham mais 59 dias por ano para ganhar o mesmo que os homens. Outro é a comparação com Portugal, onde elas trabalham ainda mais 7 dias do que a média europeia —aqui, temos de trabalhar mais 65 dias para o nosso salário ser equivalente ao deles.

Quantos pais não têm agora continentes a separá-los dos filhos, quantos avós não poderão ver os netos crescer? São gerações perdidas para alimentar o sucesso dos mercados, que afinal é o único que interessa a quem nos governa.

Este ano todos os meninos têm de ler, interpretar, caracterizar sete livros. Todos têm metas de prazer automático a cumprir. Mas as escolas públicas não têm os livros, nem sequer dinheiro para as fotocópias.

Ingrata que sou e me assumo, não quero mais este remédio, que não cura mas mata.