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Vacinar: Ciência vs crença
Em 1998, foi publicado na revista The Lancet um estudo1 de um médico inglês, Andrew Wakefield, que supostamente estabelecia uma ligação entre as vacinas administradas às crianças e o desenvolvimento do autismo. Esse estudo apresentava muitos problemas, nomeadamente o facto de não ter um grupo de controlo, não ser baseado em dados estatísticos e ter sido condicionado pelo próprio médico. A revista retratou-se mais tarde, em 20102, escrevendo um pedido de desculpas público por ter publicado um estudo sem base científica. O médico foi processado por má conduta e ainda nesse ano impedido de exercer.
No entanto, este estudo, em 1998, veio colocar em causa a comunidade científica e, por isso, muitas outras equipas começaram a pesquisar para tentar estabelecer aquela ligação. De 1999 a 2012 foram realizados e publicados muitos outros estudos que envolveram um total de 25 milhões de crianças3 e várias equipas de cientistas. Em nenhum deles foi encontrada qualquer ligação ao autismo ou envenenamento por mercúrio (outro dos mitos alegado por quem decide não vacinar os seus filhos). O último é apenas da semana passada e volta a reforçar as conclusões dos anteriores4.
Custa-me aceitar que se ponha em causa um direito tão básico como a vacinação, com base em crendices e estudos fraudulentos ou mal fundamentados. Vacinar salva vidas, que não haja dúvidas sobre isto. Enquanto em países subdesenvolvidos continuam a morrer milhares de crianças por não terem acesso a este mesmo direito, nos países ocidentais assistimos hoje à negação daquele que foi o único instrumento eficaz para lutar contra doenças que hoje só sobrevivem nas marcas que deixaram a quem lhes sobreviveu, como a varíola ou a poliomielite.
Se compararmos os dados de crianças que tenham tido sarampo, verificamos que em 19805, antes das vacinas terem sido generalizadas a nível mundial, morreram perto de 2 milhões e 600 mil pessoas. Em 2000, com 72% das crianças vacinadas esse número decresceu para 562 mil, e em 2012 com 84% dos bebés vacinados morreram apenas 122 mil. Ainda assim, apesar do sarampo ter sido declarado erradicado em 2000, em 2011, devido à onda anti-vacinas assistiu-se a um surto em França com perto de 15 mil casos positivos.
Viver em sociedade implica termos direitos e obrigações. Se temos a obrigação de pagar impostos, temos, entre outros, o direito de usufruir do sistema de saúde. Se temos o direito de ter uma escola pública acessível a todas as crianças, temos a obrigação de as vacinar. E digo obrigação porque acredito que este é um ato de saúde pública e que defende o interesse e bem estar de todos.
Se vivemos em sociedade, é nossa responsabilidade garantir que nós e as nossas crianças estamos protegidos contra doenças graves mas evitáveis, causadas por vírus que em muitos casos se encontram praticamente erradicados. Ao vivermos em conjunto temos de garantir que o facto das nossas crianças estarem inoculadas evita também que os mais velhos que com elas convivem não fiquem doentes.
É por isso que existe o plano nacional de vacinação6. Para que todos estejam protegidos. Porque não somos ilhas e se queremos viver e conviver temos de ter bom senso e não deixar que “ondas” mal fundamentadas tenham implicações tão graves na vida de todos, até dos que mais amamos.
Comentários
"Viver em sociedade implica
"Viver em sociedade implica termos direitos e obrigações."
Viver em sociedade implica Respeito. E o respeito é o que falta bastante na sociedade de hoje em dia. Também é preciso ter respeito por aqueles que por opção, por mitos, por o quer que seja não querem vacinar; porque viver em sociedade também implica aceitar o próximo (respeito). Existem mais artigos, mais teorias da vacinação ou não, como a área da homeopatia, onde a teoria da lógica de pensamento quebra fronteiras da clínica convencional ocidental. Por outra parte, se existe tanta gente em países em desenvolvimento a morrer porque não têm vacinas, porque não tentamos levar para lá? Muitas das doenças controladas/erradicadas nos países desenvolvidos estão descontroladas nos países em desenvolvimento. Aliás até me parece mais egoísta não levar para esses países as vacinas, pois nós felizmente se adoecemos temos direito a antibióticos, a soro hiper-imune, a diversos medicamentos e tratamentos, o que não acontece nesses países.. E por fim, se eu não me vacino por minha responsabilidade, não vou contrair uma peste na Europa, simplesmente segundo a linha de pensamento referido, ficarei eu doente (os demais estão vacinados), e isso também é da minha responsabilidade e também terei o direito a ser atendido num hospital. Paralelamente, de quem é a responsabilidade de reacções adversas a medicamentos, reacções de idossincrasia? Dos médicos, ou dos pais que quiseram hipoteticamente vacinar? Não podemos controlar tudo, mas podemos informar, transmitir e educar.
Também devemos ter em conta, que muitas das doenças que podemos considerar, são ultrapassadas pelas medidas de sanidade implicadas directamente na saúde pública, situação que é de longe atingida nos países em desenvolvimento. Julgo que não devemos subestimar outras linhas de abordagem médica, vista que há delas com mais de 5000 anos de prática, e principalmente não sobre-valorizar a medicina convencional ocidental com artigos publicados, onde a maioria são publicados por empresas que querem vender o seu produto, e aqui entra o lobby das empresas farmacêuticas, que também daria a outra discussão mais ou menos paralela a este assunto, pois são elas que produzem as vacinas e dão a validade. É um direito vacinar, sim, mas quem queira!
O problema com este conceito
O problema com este conceito acéfalo é que as vacinas dependem de algo chamado imunidade de grupo (pesquise se não sabe o que é), nomeadamente para aqueles em que a vacina não faz efeito ou que por um variado conjunto de patologias não podem ser vacinados. Cada um dos que pode ser vacinado e não o faz aumenta o risco de todos esses, percebeu?
A vacinação além de um direito é também um dever social. E, aceito que acredite na homeopatia, mas não a venda como ciência. Quando num estudo estatístico devidamente conduzido provar efeitos eu aí também acreditarei. Ou então começamos a ser como as tribos africanas e a usar os membros de pessoas albinas, desmembradas vivas, em rituais de "medicina alternativa". Cresça.
Obrigada por falarem deste
Obrigada por falarem deste assunto, toca-me particularmente, fui vitima da não vacinação em 1962 quando ainda criança, em angola fui contaminada pelo vírus da poliomielite tenho um filho dentro da Perturbação do Esperto do Autismo, cumpriu o Plano Nacional de Vacinação se o tempo voltasse para trás voltaria a vacina-lo sem qualquer duvida. Penso que vacinar as crianças, salvo raras excepções onde existem contra-indicações, vacinar é uma questão de respeito para com o próximo não é só o não vacinado que corre os riscos, havendo muitas muitas pessoas sem estarem vacinadas aquelas que efectivamente não podem ser vacinadas correm muitos mais riscos. Não me sinto obrigada a respeitar mitos que prejudicam as crianças e ou outras pessoas ... já agora é um mito que um homem para ser homem tem de bater na mulher vamos respeitar este mito? .... uma pessoa ouve cada coisa
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