João Teixeira Lopes

João Teixeira Lopes

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

“Mas em cada morte uma duna erguia-se, uma praça se levantava.
Em cada morte um rosto se revelava.”

O mal de certas palavras é que não dizem nada. São moles, viscosas e esquivas. Ou pior: dizem sem dizer. Atentemos na palavra “exclusão”. Acrescentemos-lhe o epíteto: “social”. O que quer dizer?

Um bando de adolescentes negros irrompeu em desenfreada correria pelo jardim. Num instante conquistaram o parque. Gritavam e não os entendia. O meu inconsciente racista brotou em toda a sua potência e temi o pior. Dirigi-lhes a palavra e então percebi.

Existe como que um novo imperativo categórico: sê feliz, sê positivo e exibe essas características o mais que possas, pois serão o indicador mais seguro de integração social. O capitalismo, hoje, já não domina apenas o corpo, entra profundamente na psique, controlando-a, sem que as pessoas deem conta.

Esta é uma crónica fracassada. Só um poema a pode salvar. Um poema que fale da tessitura de uma manhã; de como o canto de um galo precisa do canto de outro e assim sucessivamente, erguendo o dia. Um dia onde cabem todos. Um poema-fio-de-luz.

Pode a memória ser democratizada ou é um privilégio de quem, a uma determinada altura, detém os meios de produção narrativos? O artigo aborda o Museu da Pessoa e o seu núcleo no Porto, através da primeira exposição virtual centrada nas histórias dos mineiros do Pejão.

Ao assistir à peça As Bruxas de Salém, encenada por Nuno Cardoso, somos perfurados por uma lâmina inquietante: a narrativa (altamente ficcionada) do que aconteceu em Salém, Massachusetts, poderia ser transposta, a muitas outras situações.

Elas é um livro que nasceu de uma inquietação quotidiana. As histórias de vida destas jovens das classes populares são um contraponto a um viés masculino e classista nas representações públicas e sociológicas da juventude que se têm cristalizado.

A propósito do centenário do nascimento de Eugénio de Andrade proliferaram os comentários de ensaístas e poetas tentando explicar uma certa perda de consagração e de receção da obra do trovador portuense. Eu pasmo, porque a poesia de Eugénio continua a resplandecer.

Todas as sociedades contam estórias a si mesmas. Através delas cria-se uma teia de sentido partilhado e um conjunto de imagens ou representações que circulam de modo generalizado. Os epítetos com que mutuamente nos brindamos são disso um extraordinário exemplo.