André Julião

André Julião

Jornalista

O PS não quer mexer no status quo que vai arrastando penosamente o país, cada vez mais longínquo das memórias de abril. Porque é esse status quo que o vai eternizando no poder, numa relação simbiótica que se alimenta mutuamente.

Não, não basta pedir desculpa, perdão, clamar por misericórdia ou insinuar uma “caça às bruxas”. É preciso que todos, sem exceção, respondam perante a justiça. E que os que forem condenados cumpram as penas respetivas até ao fim.

A geração mais qualificada de sempre não precisa de propaganda, de autoelogios ou atos de narcisismo sem pudor. Precisa de um abraço forte e que o Governo comece a trabalhar para ela. Caso contrário, será a geração mais qualificada de sempre da Alemanha, da França ou de um qualquer país nórdico.

Costa vai apregoando políticas de esquerda enquanto abre portas ao “mercado”, o mesmo que vai desenhando um país mais desigual, menos acessível aos jovens e com menores perspetivas de garantir um futuro melhor para a maioria.

O que faz falta à nossa juventude – deprimida, irritada, ansiosa – é a devolução de anos de vida, de experiências, de convivência, de amores e desamores. E não é com receitas policopiadas de Valdispert que vamos compensar toda uma geração que foi maltratada sem piedade pelo país onde nasceu.

O desafio hoje é explicar a uma juventude desiludida que o caminho não é o do “salve-se quem puder”. Dá trabalho e leva tempo, mas são pequenas histórias como a do tio Orlando que podem ajudar a desconstruir o discurso fácil, leviano e enganador da teoria liberal.

Nos últimos dias, confirmou-se aquilo de que muitos já suspeitavam: os ministros do governo PS não vão ao supermercado, pois o Executivo ignora as dificuldades porque a maioria dos portugueses estão a passar.

Talvez a crueza e a crueldade dos números de McLurg estejam cinicamente corretas. Ou talvez devêssemos olhar da mesma forma para seres humanos que fogem da morte certa. Em Kiev, como em Mogadíscio, em Aleppo ou em Mossul. Uma vida é uma vida.

O cheque-ensino é uma falácia, tem provado ser um rotundo falhanço nos países onde tem sido aplicado e é sinónimo de discriminação, de desvalorização do ensino e de piores resultados.

Temos hoje, com um governo supostamente de esquerda, uma geração sem perspetivas de futuro, que se afunda num mar de precariedade, sem garantia de poder viver num país e exercer a profissão que escolheu com dignidade e liberdade.