Videntes, confidentes e penitentes

20 de agosto 2017 - 10:01

Porquê, a história do cristianismo se plasma de episódios taumatúrgicos em que as diversas divindades cristãs se revelam aos Homens? Artigo de Aurélio Lopes, que apresentará o painel “Videntes, confidentes e penitentes - A construção do sagrado no universo cultural de Fátima”, no Fórum Socialismo 2017.

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Aurélio Lopes apresentará o painel “Videntes, confidentes e penitentes - A construção do sagrado no universo cultural de Fátima”, no Fórum Socialismo 2017
Aurélio Lopes apresentará o painel “Videntes, confidentes e penitentes - A construção do sagrado no universo cultural de Fátima”, no Fórum Socialismo 2017

Porquê, poder-se-á perguntar, a história do cristianismo se plasma de episódios taumatúrgicos em que as diversas divindades cristãs se revelam aos Homens, estabelecendo com estes, frequentemente, contactos diretos; visuais ou doutra natureza?

Porquê tais fenómenos constituem elementos determinantes das vivências cristológicas que perpassam tempos e culturas?

Porque esta é uma religião simultaneamente soteriológica e escatológica. E, nela, o medo do fim do mundo é, de alguma forma, intemporal e omnipresente.

Um fim do mundo anunciado, mas não datado, pesem embora as crenças milenaristas ligadas às antigas tradições da ciclinidade temporal. Que, por isso mesmo, pode ocorrer em qualquer altura, mesmo que inesperada!

Surge, assim, a necessidade de perceber indícios, alertas e revelações diversas (algumas vezes constantes já, como elementos premonitórios, dos escritos sagrados) que, mais não são que avisos divinos, destinados a conceder mais uma oportunidade, quase sempre uma última oportunidade, de inflectir percursos e de inverter caminhos.

Porque o fim do mundo está sempre ligado aos nossos comportamentos sendo, muitas vezes entendido como a aplicação punitiva de um desvio.

Desvio, sempre pecaminoso. Justificador de um castigo (individual ou coletivo), cuja iminência pode, contudo, ser suspensa, exigindo-se, para tal, cabal arrependimento.

Castigo que, absoluto ou relativo (intermédio, se quisermos) é, porém, sempre catastrófico; entenda-se, apocalíptico.

Pode dizer-se, assim, que as aparições constituem manifestações hierofânicas decorrentes de determinadas condições sociais, assentes em catalisadores culturais bem definidos e tendo como elemento polarizador a personalidade do vidente!

As divindades aparecem, sempre, aos seus particulares devotos ou, em casos especiais, antagonistas; indivíduos que com elas possuem intensas conexões positivas ou, ocasionalmente, negativas.

As suas configurações refletem, sempre, os modelos estereotipados que imagens e gravuras iconográficas apresentam em templos ou edições canónicas e que impregnam, fortemente, o mítico religioso local

Aparições (leia-se visões de figuras ou simbologias celestes, próprias de um imaginário pictórico e mais ou menos folclorizado), que remetem para episódios facilmente coletivizados, arrastando inúmeros devotos na busca do inamovível ou, simplesmente, na óptica, tomaziana, do ver para crer!

Buscam aí, desesperadamente, ser dos poucos privilegiados com a graça da visão ou, pelo menos, poderem contactar com o prodigioso e, deste modo, obterem eventuais graças operativas, assumidas em curas mais ou menos milagrosas e, ainda, no ultrapassar de dúvidas e inquietações; leia-se conversões.

Não obstante Deus estar em todo o lado (e, depreende-se, simultaneamente), a nossa interação com ele carece, como se vê, de nos localizarmos em espaços adequados (considerados sagrados); como um templo ou um local onde ocorreu uma importante hierofania.

Artigo de Aurélio Lopes, Investigador universitário na área da cultura tradicional, que apresentará o painel “Videntes, confidentes e penitentes - A construção do sagrado no universo cultural de Fátima”, no Fórum Socialismo 2017, no sábado, 26 de agosto, às 11.45 horas na sala 5.