Índia-Paquistão

Um dia de ataques com drones e promessas de retaliação mais profunda

08 de maio 2025 - 16:28

Serão já dezenas as vítimas civis de um conflito entre as duas potências nucleares que continua por enquanto limitada. Islamabad diz-se vítima de um “ato de guerra” e afirma que uma retaliação mais vasta é “cada vez mais certa”.

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Homem inspeciona destroços de um alegado drone indiano em Karachi. REHAN KHAN/EPA/Lusa.
Homem inspeciona destroços de um alegado drone indiano em Karachi. REHAN KHAN/EPA/Lusa.

Depois de a Índia ter atingido o que disse serem nove “infraestruturas terroristas” em território paquistanês, materializando um conflito entre as duas potências nucleares cuja raiz está na disputa de Caxemira, esta quinta-feira tem sido marcada por acusações de ataques com drones e pela promessa de Islamabad de uma retaliação mais ampla.

O governo paquistanês afirmou que destruiu 25 drones vindos do país vizinho, incluindo dois dirigidos a duas das maiores cidades do país, Karachi e Lahore, ao passo que a Índia assegurou que as suas defesas aéreas conseguiram travar ataques de drones e mísseis vindos do outro lado da fronteira e que atingiu como resposta sistemas anti-aéreos paquistaneses.

O porta-voz militar do Paquistão, Ahmed Sharif Chaudhry, diz que pelo menos quatro pessoas ficaram feridas num dos ataques que terá visado uma instalação militar.

Para além disso, há notícias de fortes trocas de tiros de artilharia na fronteira de Caxemira.

O lado indiano garante que a sua retaliação a um ataque contra civis a 22 de abril, na Caxemira indiana por parte de uma milícia desconhecida, foi comedida e limitada a estruturas de grupos que seriam apoiados pelo Paquistão para atuar naquele território. O Paquistão, que contrapõe que não esteve envolvido nesse ataque, nega que o que os bombardeamentos indianos atingiram fossem locais deste tipo, alegando que até mesquitas foram atingidas num “ato de guerra”.

Neste contexto, o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif afirmou à Reuters que uma retaliação mais vasta era “cada vez mais certa”, considerando que “a situação se tornou muito difícil” e que “temos de responder”. O primeiro-ministro do país, Shehbaz Sharif, já tinha dito: “vamos vingar o sangue dos nossos mártires inocentes”.

A guerra verbal continuou com o governo indiano a afirmar que se limita a responder “no mesmo domínio e com a mesma intensidade do Paquistão” mas que este tem estado a escalar a intensidade dos ataques.

De um e do outro lado chovem também acusações de manipulação informativa. Vikram Misri, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiro da Índia declarou que o Paquistão está atacar deliberadamente a comunidade Sikh, tendo mesmo atingido um local de culto desta, e negou que o seu país tenha visado qualquer mesquita. Por outro lado, o Paquistão acusa a Índia de ter atacado a barragem de Neelam-Jhelum, o que a Índia nega.

Enquanto isto, o Ministério da Informação e Radiodifusão da Índia emitiu um aviso às plataformas que transmitem conteúdos vindo do Paquistão de que os devem remover devido ao “interesse nacional”. A medida diz respeito a filmes, séries, podcasts e quaisquer outros conteúdo de streaming.

De acordo com cada um dos lados, o Paquistão diz que o ataque de quarta-feira matou 31 civis e causou 50 feridos e que teriam morrido entre 40 a 50 soldados indianos até ao momento; a Índia que do seu lado morreram 13 civis e 59 foram feridos nos ataques que se seguiram e que do lado contrário teriam morrido “cem terroristas”.

Ataque em Pahalgam, o que desencadeou tudo isto

O território de Caxemira ficou dividido entre a Índia e o Paquistão depois da independência dos britânicos. A disputa territorial nunca ficou resolvida e já gerou outros conflitos armados entre as duas partes. A maioria muçulmana da Caxemira indiana desenvolveu movimentos pró-independência que a Índia diz serem patrocinados por Islamabad e recentemente tinha lançado uma ofensiva repressiva no território para eliminar dissidentes.

Desta feita, o conflito rebentou na sequência de um ataque a 22 de abril em Pahalgam, na Caxemira dominada pela Índia. Homens armados não identificados mataram 26 pessoas no prado de Baisaran, uma zona de visitas turísticas. Quase todas as vítimas eram indianas, tirando um cidadão nepalês.

Nova Déli não demorou a responsabilizar grupos que teriam sido financiados e preparados pelo Paquistão. O pretexto para ataque de quarta-feira foi que existiriam várias bases desses grupos do lado paquistanês que deveriam ser destruídos.