O declínio do império

por

Policleto Ramires

05 de abril 2025 - 11:15
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A queda do Império Romano, bem como a queda de todos os outros impérios que existiram na História Humana, possuem pontos comuns que são perenes na existência humana: não é possível viver só de repressão.

Legionário romano embriagado
Legionário romano embriagado: "Dove é Cesare?... Per pagare un vino me?...". Ilustração de Policleto Ramires

Como foi que o Império Romano acabou? O que é que, o fim daquele império, nos mostra de semelhança com os impérios atuais?

Tudo o que eu tive foi uma reflexão…

Imaginemos um tabuleiro de jogo de guerra para adolescentes.

As peças dos couraçados, as peças dos tanques, e as peças das tropas, possuem, no próprio jogo, um custo; mas, a guerra, invisivelmente, possui muitos outros custos mais; que não se apresentam no jogo, dado que, o jogo, trata-se apenas de uma simulação, e não da realidade em si.

Quanto mais um império se expande, mais ele encontra dificuldades em manter os seus domínios, por várias e múltiplas razões. Desde as razões logísticas às que, invisíveis, operam tão-somente na alma humana: no interior de cada soldado e de cada cidadão do território invadido. Quanto mais o tempo passa, mais se desenvolvem forças contrárias à permanência daquelas tropas naquele território, e, ao passo disso, não existe uma dinâmica, por parte da logística da invasão, que consiga responder e acompanhar o desenvolvimento dessas forças. Enquanto o plano de invasão e ocupação continua o mesmo, desde o dia no qual foi assinado em papel pelo governante das tropas invasoras, os planos dos ocupados, os habitantes do território invadido, adquirem novas ideias, compreensões, mudam, e começam a ganhar corpo pela rejeição da ocupação. Quanto mais o tempo passa, mais a ocupação fica mais fraca.

A queda do Império Romano, bem como a queda de todos os outros impérios que existiram na História Humana, possuem pontos comuns que são perenes na existência humana: não é possível viver só de repressão.

A era de Diocleciano, se olhada por olhares atentos e minuciosos, poderá transmitir duas lições: uma, foi a última tentativa de repressão ao Cristianismo (que avançava como religião entre os povos), e a sua repressão mostrou-se retumbantemente falha, ensina que, a crença do povo, é algo inelutável, algo intocável, e desnecessário de se levantar em questão diante da política; e, dois, foi a medida política da “Tetrarquia”, instaurada por Diocleciano, que, antevendo estes conflitos intestinos no próprio império, pensou que seria uma saída (já que não via uma saída) subdividir o império em quatro, repartindo-o entre outros administradores, agora, tornados igualmente imperadores.

A expansão dos domínios traz consigo mais guerras, e, mais guerras, exigem impostos; e, impostos, levam a crises; para além das que já existem à parte a economia: as intrigas e as disputas de poder. A qualquer momento, uma resposta dos dominados pode desafiar o poder estabelecido. No menor momento de fragilidade política, económica ou militar, ou no momento mais propício.

À época, havia o risco de invasões, partindo de povos bárbaros vizinhos.

Os germânicos.

Para além de tudo isso, o soldado, cansado, apesar de lutar a guerra ser seu ganha-pão, nem tanto pão dá para ele comprar, e ele, assim como o povo, também se insatisfaz com isso: é preciso dinheiro.

Isso foi assim no Império Romano assim como é hoje. Os resultados eleitorais, adversos, sempre sobrevém a épocas de fracassos militares. O presidente eleito, após anos de conflito, é, muito geralmente, o que promete o retorno das tropas. Não importa quem ele seja: mesmo que seja um falsário. Alguém que faça o discurso adequado para o momento por mero oportunismo. O lobo em pele de cordeiro.

A história recente dos Estados Unidos, (quando os impérios assumem novos formatos, que não precisam enviar tropas exatamente, mas controlá-los à distância, pela economia, pelos presidentes-fantoches, e pelas polícias locais), mostra os mesmos sintomas do declínio que existiam há séculos e séculos atrás.

O fracasso político advém do fracasso militar.

Os soldados, desapontados com as promessas, e, se sentindo abandonados pelo governo, vendo seus colegas serem mortos, começam a repensar as escolhas feitas; mesmo os mais estúpidos, diante de tiroteios, bombas explodindo de surpresa, gritos de ensanguentados, um morticínio muito aterrador, a morte cada vez mais próxima de si, e uma hostilidade popular crescente, com expressões de ódio e fúria viscerais contra a sua presença; mesmo esses — os mais estúpidos, que acreditaram em todas as promessas feitas pelo recrutamento, e os que mais se dizem “patriotas” — começam a se perguntar se não seria melhor estar em casa, comendo uma torta de maçã.

Não há dinheiro que sustente. Não há mais apoio entre a população enganada e empobrecida. O moral da tropa já foi para o beleléu.

Novos territórios são novas fontes de recursos e matérias-primas. Mas… Como continuar a expandir-se? O império expande-se até encontrar o seu ocaso.

Gastos com guerras têm o seu custo. Os adversários políticos, oportunistas ou idealistas, tendem a aproveitar estes momentos. Aqueles, por mais inescrupulosos e beneficiários de mentiras ditas ao povo, tendem a levar a vantagem sobre estes últimos.

Os outros povos, que antes eram mais fracos, agora veem-se mais fortes. Prontos para uma futura tentativa mais ousada.

Dá-se, então, o declínio do império.


Policleto Ramires
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