Novos patrões da ex-ministra “lucraram com o arrastar da situação no Banif”

03 de março 2016 - 18:06

Catarina Martins diz que o “fundo abutre” que contratou Maria Luís Albuquerque lucrou com a compra de crédito malparado ao Banif e está hoje a avaliar os ativos tóxicos que o Santander não quis.

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Catarina Martins. Foto Hugo Delgado/Lusa

Numa reação à contratação da ex-ministra das Finanças e atual deputada do PSD pela Arrow Global, Catarina Martins afirmou que ela é “inaceitável”. “Não há palavras para descrever uma situação desta”, resumiu a porta-voz bloquista: “Maria Luís Albuquerque acaba de ser contratada por uma empresa que lucra com o crédito malparado dos bancos nacionais”.

“Trata-se de uma empresa que, enquanto o sistema financeiro era tutelado por Maria Luís Albuquerque, fez dinheiro comprando crédito malparado ao Banif. A Arrow Global é também dona de empresas portuguesas, como a Whitestar, que é a empresa que neste momento avalia os ativos do Banif que o Santander não quis e que estão no Estado”, revelou Catarina Martins.

A porta-voz do Bloco diz que a ex-ministra “foi trabalhar para a empresa que lucrou com o que fez no Banif, ao arrastar a situação, e que neste momento tem a faca e o queijo na mão para continuar a lucrar com a forma como forem geridos os ativos que ainda estão na mão do Estado”.

“É uma ex-ministra e atual deputada que está a trabalhar para um fundo abutre que lucra com a fragilidade do sistema financeiro português e com os ativos tóxicos que estão na mão do Estado português, concluiu Catarina, lembrando que “há muitas perguntas que têm de ser respondidas” na comissão de inquérito ao Banif.

Por seu lado, Maria Luís Albuquerque lançou um comunicado onde afirma que a sua nova função ao serviço da Arrow Global "não tem nenhuma incompatibilidade ou impedimento legal pelo facto de ter sido ministra de Estado e das Finanças e de ser deputada". Os seus novos patrões vieram esclarecer junto do jornal i que o cargo da ex-ministra “não é a tempo completo”, podendo assim acumulá-lo com a presença na Assembleia da República.

“Prestações sociais são a linha da frente do combate à pobreza”

Catarina Martins falou aos jornalistas no final de uma visita ao centro Porta Amiga, gerido pela AMI em Coimbra. E sublinhou que o Bloco tem dado bastante importância às questões ligadas à pobreza e apoios sociais no debate do Orçamento do Estado.

“Estamos muito empenhados no reforço do Rendimento Social de Inserção, em particular das crianças, do abono de família e do Complemento Solidário para Idosos”, referiu, dando o exemplo de uma das propostas bloquistas no debate orçamental na especialidade: “O limiar do CSI acompanhará o que é a linha da pobreza e isso permitirá que mais de 200 mil idosos tenham apoio que os retire da linha da pobreza”.

“O que ouvi nesta visita ao Centro Porta Amiga é que nenhuma cantina social se substitui à necessidade de dar as prestações sociais que as pessoas precisam” e que “as prestações sociais [Rendimento Social de Inserção, Subsídio Social de Desemprego ou Complemento Solidário para Idosos – são a linha da frente do combate à pobreza”, prosseguiu, destacando igualmente a necessidade de melhorar o acesso à saúde, em particular à saúde mental por parte dos utentes deste centro e em geral, dos sem-abrigo em Portugal.

Comentando o recente relatório da Caritas, que aponta o aumento da pobreza na União Europeia e das crianças pobres em Portugal, Catarina recordou que “a austeridade provoca desemprego e o desemprego provoca pobreza”. “O PSD e o CDS decidiram cortar o apoio às crianças mais vulneráveis de 90 para 50 euros, em média, no Rendimento Social de Inserção”, uma medida que o Bloco quer reverter desde já.

“Com este Orçamento do Estado é importante que as crianças voltem a ter um apoio digno no Rendimento Social de Inserção e que os pensionistas mais pobres tenham um apoio que lhes permita ficar acima da linha da pobreza”, concluiu Catarina Martins.