Sim, as palavras estão gastas. Se eu disser que alguém é de confiança, sei que isso foi dito redito e justificado, e banalizado por tantos emissores de frases definitivas.
Diga-se então o que vale uma palavra de confiança, um olhar atento aos outros, muitas provas dadas em palcos europeus, viagens a territórios e países difíceis e complicados, sempre para perceber e agir em consequência, a perseverança e o poder de iniciativa, uma espécie de honestidade não programada para um mero cargo que se eleja como píncaro duma carreira política. Não é disso que se está a falar aqui.
Sim, estive sempre a falar de Marisa, a quem as qualidades lhe vão bem. Todas estas qualidades.
A ‘permanência das coisas’ tem em si duas faces opostas, cada uma desdobrável num sim e num não.
A ordem faz questão de obrigar as coisas a permanecerem imutáveis, como uma fatalidade repetida. Portugal sempre foi assim, os ricos e os pobres e os remediados, a justiça que cai sobre cada um de modos diversos, a dependência dos ditames vindos de cima, a sua aceitação como um modo de vida cómoda e sempre pouco cómoda.
E na outra face está escrito ‘sim’, que se pode mudar muita coisa. Que o que é tido por inevitável apodrece ao sol, e que é tempo de o arrastar para a sombra, até que morra por si só do sono fatal.
Portugal pode mudar. Não nos seus defeitos e qualidades intrínsecas – e mesmo esses foram mudando. Mas há que respeitá-los, na forma como eles se manejam e se gerem e deles se extrai a seiva e o melhor sabor. A ‘permanência das coisas’ torna-se então numa prática de identidade própria, as pedras e o mar, uma honestidade aplicada nas palavras e nos actos.
E continuei sempre a falar da Marisa Matias. Sim, não há palavras gastas.
A Marisa é de confiança, pratica-a na política e na vida.
E eu sou de confiança, quando o afirmo e assino por baixo.