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Manifestação em Luanda duramente reprimida pela polícia

Cerca de duas mil pessoas foram impedidas pela polícia de se manifestarem em Luanda, segundo o “Novo Jornal” de Angola. A marcha pela cidadania estava convocada desde, pelo menos, a passada quarta-feira, e visava protestar, em primeiro lugar contra o elevado custo de vida.
Manifestação reprimida violentamente pela polícia - Foto de facebook dos amigos do Bloco Democrático de Angola
Manifestação reprimida violentamente pela polícia - Foto de facebook dos amigos do Bloco Democrático de Angola

Segundo o “Novo Jornal” (NJ), a polícia nacional de Angola, incluindo a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) impediu, neste sábado, as pessoas de se manifestarem e de se dirigirem ao Largo 1º de Maio. Os agentes das forças de segurança carregaram sobre os manifestantes, com o apoio de brigadas caninas e unidades de cavalaria.

“Face à intransigência policial, grupos de manifestantes acabaram a apedrejar autocarros da TCUL [Transporte Colectivo Urbano de Luanda], estando pelo menos seis com vidros partidos”, refere o NJ, que acrescenta que a polícia lançou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas.

A manifestação foi convocada pelo movimento revolucionário, pelo movimento para a cidadania, por organizações da sociedade civil e contou com o apoio de outros partidos, como o Bloco Democrático (secretariado da juventude) e a UNITA. Jovens manifestantes empunhavam cartazes com frases a exigir medidas para acabar com o desemprego.

Governadora faz ameaças nas televisões

Cartaz de convocação da manifestação para 24 de outubro de 2020 em Luanda
Cartaz de convocação da manifestação para 24 de outubro de 2020 em Luanda

Às 20h, a Governadora provincial de Luanda, Joana Lina, falou em direto para as televisões apelando “à defesa da paz” e garantindo “que episódios do passado não se vão repetir”. A governadora não explicou a que “episódios do passado” aludia, mas o NJ refere que “recordava os episódios sangrentos em Luanda envolvendo as forças do Estado e a UNITA após as eleições de 1992”. A ser verdadeira esta interpretação, trata-se de uma forte ameaça à sociedade civil e aos partidos políticos, à exceção do MPLA no poder. Joana Lina afirmou ainda que a manifestação era ilegal devido às disposições estabelecidas pelo decreto presidencial sobre as medidas de combate e controlo à pandemia da Covid-19.

Grave comportamento institucional”

Na sua página no facebook, Filomeno Vieira Lopes, dirigente do Bloco Democrático de Angola, questiona: “afinal o que pretende o executivo?” Enuncia que, no dia 21, a Governadora fez saber que estava contra a manifestação; que no dia 22, a Policia Nacional acertou pormenores com os manifestantes (ver comunicado dos organizadores - https://www.facebook.com/francisco.lopes.370177/posts/4289065664453899); que, no dia 23, o Executivo anunciou o “agravamento das medidas de contenção proibindo ajuntamentos de qualquer natureza de mais de 5 pessoas (uma restrição às liberdades instituídas constitucionalmente, sem uma mínima discussão pelos representantes do povo)”.

E concluía: “Muito grave e malicioso este comportamento institucional!!!!!”

Deputado angolano agredido

Segundo a Lusa, o deputado e secretário provincial da UNITA em Luanda, Nelito Ekuikui, foi agredido pela polícia e denunciou que cerca de 40 jovens participantes no protesto foram detidos.

“Disseram que a manifestação não pode ocorrer porque viola o decreto presidencial [que atualiza a situação de calamidade pública e entrou em vigor hoje], mas estão a violar a Constituição”, afirmou o deputado da UNITA à Lusa, salientando que o decreto presidencial não contempla a suspensão de direitos como os de manifestação.

“Claramente, este decreto foi forjado para impedir a manifestação”, acusou Nelito Ekuikui, criticando a presença das forças armadas nas ruas de Luanda e aconselhando o Governo a recorrer ao diálogo porque os protestos “não vão parar”.

Segundo a Deutsche Welle, o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, declarou que impedir a manifestação é "uma absoluta ilegalidade", já que foi aprovada em maio uma lei que "dá cobertura à situação de calamidade e não prevê que sejam suspensos os direitos fundamentais dos cidadãos, nomeadamente o direito à manifestação".

"Em circunstância alguma podem ser violados direitos constitucionais dos cidadãos. Para tal teria de haver um regresso ao estado de emergência", realçou.

O presidente da UNITA apelou ainda às pessoas para voltarem para casa, sublinhando que “não queremos confrontos e não queremos ninguém ferido", e salientando ainda que houve "movimentação de tanques na noite anterior e foram colocadas barreiras de polícias e militares para impedir movimentações nos bairros e nos acessos a Luanda".

"Isso não pode acabar bem", afirma Luaty Beirão

Na sua página no facebook, Luaty Beirão escreve: “Detidos confirmados que deverão ser levados a julgamento sumário na segunda-feira: Laura Macedo, Nelson Dibango, Nito Alves. Acho que há mais, mas não sei quantos nem as suas identidades.”

E denuncia: “Hoje em Viana: MPLA realizou uma "atividade" e, parece-me a mim, estarem aqui mais de 5 pessoas na via pública. Onde esteve a Polícia Nacional de Angola? Anh, claro, a deter cidadãos inferiores do outro lado da cidade”.

E Luaty Beirão conclui: “João Lourenço isso NÃO PODE ACABAR BEM!!!”

“Hoje em Viana: MPLA realizou uma "atividade" e, parece-me a mim, estarem aqui mais de 5 pessoas na via pública. Onde esteve a Polícia Nacional de Angola?”

“Hoje em Viana: MPLA realizou uma "atividade" e, parece-me a mim, estarem aqui mais de 5 pessoas na via pública. Onde esteve a Polícia Nacional de Angola?”
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