Há falhas no acompanhamento a doentes crónicos, dizem profissionais de saúde

24 de outubro 2018 - 11:33

Segundo a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, os profissionais de saúde defendem a existência de equipas multidisciplinares para trabalhar com os doentes e seus familiares, com cuidados de saúde personalizados adequados às reais necessidades dos utentes.

PARTILHAR
Há falhas no acompanhamento a doentes crónicos, dizem profissionais de saúde
Foto de Paulete Matos.

Um estudo conduzido pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) conclui que nove em cada dez profissionais de saúde inquiridos consideram que os cuidados não estão devidamente organizados para o acompanhamento das pessoas com doenças crónicas.

Em declarações à Lusa, José Manuel Boavida, presidente da APDP, afirma que “os profissionais de saúde inquiridos mostraram uma clara preocupação com a necessidade de organização no acompanhamento das pessoas com diabetes, fruto do abandono do Programa Nacional da Diabetes que houve nos últimos tempos”.

De acordo com o médico, são necessárias equipas multidisciplinares organizadas para trabalhar no acompanhamento não só dos doentes, mas também dos seus familiares, cuidados personalizados e adequados às reais necessidades das pessoas e uma real intervenção comunitária que inclua redes de apoio social.

O estudo “DAWN2 – A Diabetes Para além dos Números” envolveu médicos de medicina geral e familiar, endocrinologistas, nutricionistas e enfermeiros, num total de 227 profissionais de saúde. O seu objetivo era analisar as “atitudes, desejos e necessidades” de pessoas que vivem com esta doença, bem como familiares, cuidadores e profissionais de saúde da área.

“A principal conclusão é que há claramente dificuldade na relação entre os profissionais de saúde e as pessoas com diabetes”, disse José Manuel Boavida.

Segundo as conclusões do estudo a que a Lusa teve acesso, 70% dos profissionais de saúde disseram apreciar que os diabéticos lhes digam qual a melhor forma de os ajudarem a gerir a doença e seis em cada dez consideraram ser necessário formação em comunicação e suporte para a mudança de comportamentos.

Metade dos inquiridos no estudo consideram que a disponibilização da educação para a autogestão da diabete contribui para a redução do impacto da doença e defende a inclusão dos doentes nos esforços para melhorar a qualidade dos cuidados e serviços.

O presidente da APDP explica que, por um lado, os profissionais de saúde querem ver mais proatividade das pessoas na gestão da sua doença, e, por outro, os doentes dizem que querem mais ajudas para saber como podem tratar a sua doença.

Para José Manuel Boavida, a “grande lição” retirada é que o modelo utilizado no acompanhamento da diabetes é “um modelo ultrapassado”, que “vem do tratamento das doenças curativas e agudas, para uma compreensão do que é o acompanhamento de doenças”, em que os tratamentos estão principalmente nas mãos dos doentes.

A APDP recomenda a existência de formação dos profissionais de saúde no âmbito da comunicação, da mudança de comportamentos, da compreensão da componente emocional e social da diabetes, uma vez que “a doença não se reduz a valores alterados no sangue, da tensão arterial ou do colesterol”.

“Isto obriga a que haja uma educação estruturada e não dependente da maior sensibilidade do médico ou da enfermeira. Esta educação deve ser adaptada a cada um, mas deve ser um espaço próprio das consultas que necessitam de mais tempo e que necessitam de uma estruturação daquilo que as pessoas têm que saber para se poderem tratar”, defendeu.

Termos relacionados: Sociedade