Socialismo 2025

“Gaza é a bússola moral dos nossos tempos”, diz Mariana no final do maior Fórum Socialismo de sempre

31 de agosto 2025 - 17:06

Mariana Mortágua anunciou as prioridades políticas do Bloco numa mensagem ao encerramento do Fórum Socialismo em Coimbra. José Manuel Pureza sublinhou o orgulho num partido “que contra todos os ventos e todas as marés, junta tanta gente para debater tudo aquilo que a esquerda precisa de debater”.

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Encerramento do Fórum Socialismo 2025
Encerramento do Fórum Socialismo 2025. Fotos de Rafael Medeiros

O Fórum Socialismo 2025, que marca a rentrée política do Bloco, encerrou este domingo num formato diferente do habitual. Pela primeira vez, a coordenadora do Bloco não interveio presencialmente, por estar a bordo de um dos navios da flotilha humanitária que partiu este domingo de Barcelona rumo a Gaza.

E foi “em nome de uma causa maior que todos partilhamos” que justificou a presença apenas em vídeo, pois “Gaza é a bússola moral dos nossos tempos”. Tempos em que os governos “trocaram definitivamente as regras da paz pelo caos dos senhores da guerra” e a sociedade se mobiliza e organiza em defesa da população da Faixa de Gaza, que é hoje o território que marca “a fronteira entre a civilização e a barbárie”.

No plano político nacional, Mariana Mortágua anunciou duas prioridades e duas iniciativas que correspondem aos compromissos eleitorais do Bloco nas últimas legislativas. As prioridades imediatas passam pela comissão parlamentar de inquérito para investigar os negócios dos meios aéreos de emergência e de combate aos incêndios e, em seguida, “quando a comoção passar e o tema dos fogos for substituído na comunicação social por outro assunto igualmente importante, como o desastre que se prevê para a abertura do ano letivo”, Mariana promete mostrar “quem quer de facto prevenir os incêndios e proteger as populações e quem só quer aproveitar-se politicamente do sofrimento alheio para deixar tudo na mesma”. Para isso, além do reconhecimento do trabalho dos bombeiros com medidas concretas, o Bloco vai avançar com iniciativas para o ordenamento rural e florestal, pois “não aceitamos que nos digam que isto não tem nada a ver com o facto de sermos recordistas na extensão de eucalipto e incapazes de investir” nesse ordenamento.

A segunda prioridade passa por “travar o retrocesso de décadas que o Governo da direita quer impor na lei laboral”. Para isso é necessária “convergência política, parlamentar e sindical”, o que a leva a juntar-se ao apelo para a ação convergente das duas centrais sindicais e de todos os sindicatos independentes e ativistas laborais.

Vídeo da intervenção de Mariana Mortágua no encerramento do Fórum Socialismo 2025
Vídeo da intervenção de Mariana Mortágua no encerramento do Fórum Socialismo 2025

No entanto, “desengane-se quem acha que nos contentamos em manter tudo como está” hoje na lei laboral, prosseguiu Mariana, anunciando a entrega das 24 mil assinaturas recolhidas a favor de uma lei para “defender e respeitar quem trabalha por turnos” e a iniciativa legislativa correspondente.

Além deste diploma que foi um dos compromissos eleitorais do Bloco, Mariana Mortágua anunciou também que até ao final do ano o Bloco irá preparar e apresentar “uma proposta concreta, estudada, completa para trazer para Portugal uma lei que ponha de uma vez por todas um limite máximo nas rendas”, outra das bandeiras da campanha eleitoral bloquista.

A coordenadora do Bloco referiu também na sua mensagem a próxima Convenção do partido, agendada para novembro, com o objetivo de “organizar a esperança, relançar o Bloco como o partido sem medo que somos: sem medo de fazer pontes e alianças mas também de afirmar  uma alternativa ao capitalismo, ao sistema selvagem que está a produzir o fascismo”.

A referência às eleições autárquicas de outubro, onde o Bloco espera eleger “autarcas de esquerda por todo o país”, serviu para deixar uma palavra de apoio à candidatura de José Manuel Pureza, que em Coimbra “é a solução que dá confiança a todos”. Na conclusão, questionando-se sobre o papel do Bloco “neste tempo sombrio, em que a direita governa o Estado e a extrema-direita domina os termos do debate”, respondeu que “o Bloco está onde está a esquerda e está onde mais ninguém tem coragem de estar”, concluindo que “fortes e determinados, chegaremos a bom porto”.

“Se o ridículo pagasse imposto, a tributação de Paulo Rangel dava para corrigir o subfinanciamento crónico do SNS”

Coube ao dirigente bloquista e candidato à Câmara de Coimbra a tarefa de encerrar “o maior Fórum Socialismo de sempre”, agradecendo aos voluntários, moderadores e participantes das dezenas de sessões e às pessoas independentes que aceitaram vir discutir com o Bloco dezenas de temas da atualidade política e social.

José Manuel Pureza diz que há razões de sobra para “estarmos orgulhosos deste partido que contra todos os ventos e todas as marés, junta tanta gente para debater tudo aquilo que a esquerda precisa de debater para ser a resposta social, cultural e política a estes tempos de selvajaria liberal e neofascista”.

José Manuel Pureza no encerramento do Fórum Socialismo 2025
José Manuel Pureza no encerramento do Fórum Socialismo 2025

E não há melhor exemplo da “expressão clara da determinação que nos move” do que a presença de Mariana Mortágua na missão humanitária a Gaza, prosseguiu Pureza, concluindo que “daqui por uns dias, no confronto com o bloqueio de Gaza, a Mariana somos todas nós e todos nós”.

“Com este gesto, a Mariana junta atos concretos a palavras. Leva no barco medicamentos e alimentos e também uma exigência clara: o genocídio tem de acabar, a população palestiniana tem o direito à autodeterminação, a Palestina tem de ser livre”, afirmou o dirigente bloquista.

Comentando a “reação sempre esbracejante de Paulo Rangel”, ao  acusar o Bloco “de nunca ter feito nada pela Palestina, enquanto ele sim é o campeão desta causa”, José Manuel Pureza respondeu que “se o ridículo pagasse imposto, a tributação de Paulo Rangel dava para corrigir o subfinanciamento crónico do SNS”.

“Por mais que Rangel grite, toda a gente sabe que foi o Bloco o primeiro a propor o reconhecimento do Estado da Palestina”, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros “é o rosto das desculpas permanentes para o não reconhecimento da Palestina por Portugal e do negacionismo da prática de genocídio em Gaza, mesmo contra a avaliação do Tribunal Internacional de Justiça”, sublinhou.

Sobre a campanha autárquica que se aproxima, José Manuel Pureza disse que o Bloco estará presente em coligações ou com listas próprias em dezenas de concelhos, mas sempre com uma “agenda clara: reforçar a democracia local, dar aos serviços públicos uma expressão municipal forte, tratar a habitação e a mobilidade como um direito de todas as pessoas, assumir que a emergência climática é em cada sitio do pais e nação lá longe, garantir uma vida boa aos mais novos e aos mais velhos”. E prometeu trazer essa agenda para a sua campanha em Coimbra, constatando que a cidade está tem estado “refém do rotativismo ao centro que fez dela um cenário para turistas e um campo fértil para a especulação imobiliária”.