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EUA pediram a Portugal autorização para voos da CIA

Um telegrama divulgado pelo Wikileaks revela a preocupação dos EUA com a pressão do Bloco de Esquerda e do Parlamento Europeu sobre os voos ilegais da CIA, que deixaram fora de si o "imperturbável" ministro Luís Amado.
Pressões do Bloco de Esquerda e do Parlamento Europeu sobre os voos ilegais da CIA incomodaram embaixada dos EUA em Lisboa.

Esta quarta-feira foi difundido o primeiro de 722 telegramas com origem na embaixada nos Estados Unidos da América em Portugal.

O documento, datado de 20 de Outubro de 2006, revela que o governo norte-americano pediu autorização ao governo português para repatriar alguns dos detidos em Guantanamo, passando pela base das Lajes. Mas a pressão sobre o ministro Luís Amado para se saber a verdade dos voos ilegais da CIA poderia comprometer esse desejo, dizia a própria embaixada no telegrama enviado para Washington.

"A pressão em curso do Bloco de Esquerda de Portugal e do Parlamento Europeu levou a uma  áspera discussão no Parlamento português, em 18 de Outubro, na qual o Ministro de Negócios Estrangeiros Luís Amado ameaçou demitir-se se a oposição provar a cumplicidade do Governo com o governo dos EUA referente a alegados voos ilegais da CIA que violaram a soberania portuguesa", diz o telegrama da embaixada em Lisboa revelado esta quarta-feira.

"O normalmente imperturbável Amado perdeu a calma durante o  depoimento, um acontecimento que é completamente anormal e mostra os efeitos dos ataques incansáveis dos média e dos políticos", destaca a embaixada americana, acrescentando que, "apesar desta explosão, acreditamos que Amado continuará a reiterar o que a investigação revelou – que o governo não tem provas de voos ilegais da CIA em / através do território Português".

Para além de assinalar as criticas ao governo, no documento pode ainda ler-se que "esta pressão complica o pedido dos Estados Unidos para repatriar detidos de Guantanamo através de Portugal".

O responsável da embaixada americana em Lisboa aconselha a que continuem a “acariciar” muito Luís Amado devido ao "delicado equilíbrio" que o ministro está a tentar fazer.

Segundo o telegrama, o governo português necessitaria de "garantias escritas do país de destino final de que os detidos não serão torturados ou sujeitos à pena de morte", sem elas teria “dificuldade em apoiar os voos de repatriação através do território ou espaço aéreo português.”

O documento refere ainda que esta questão seria abordada a 24 de Outubro numa reunião entre Luís Amado e a então secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, em Washington.

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