Empresa angolana Newshold quer comprar RTP

14 de dezembro 2012 - 0:40

Duas semanas depois de Alberto da Ponte, presidente da RTP, se ter encontrado em Luanda com acionistas da Newshold, esta empresa anunciou que é candidata à compra da RTP. A Newshold, que ao que parece pertence a empresários próximos do regime angolano, detém o “Sol”, 15% da Cofina (proprietária dos jornais “Correio da Manhã”, “Jornal de Negócios” e “Record”, entre outros meios) e, em outubro passado, foi noticiado que pretende comprar “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias” e a rádio “TSF”.

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Alberto da Ponte, na foto com Miguel Relvas, esteve há duas semanas em Luanda, onde se encontrou com acionistas da Newshold

Há duas semanas, Alberto da Ponte, presidente da RTP, esteve quatro dias em Angola onde se encontrou com o empresário angolano Domingos Vunge, acionista da empresa Score Media, com ligações aos grupos Ongoing e Newshold, segundo notícia do jornal “Público”.

Segundo o jornal, a visita tinha a ver com a ligação de Domingos Vunge e da Score Media à Newshold, devido a esta empresa deter 15,08% da Cofina, “a mais bem colocada na corrida à privatização de 49% da RTP” e a Newshold ser a “mola financeira” do negócio da privatização da RTP.

Nesta quinta feira, a Newshold tornou público um comunicado, onde assume “ para que não restem quaisquer dúvidas” que “na hipótese de a solução a definir pelo Governo português para a privatização ou concessão da RTP se revelar um negócio interessante para as partes, a Newshold tem disponibilidade e meios para, isoladamente ou em parceria, apresentar uma candidatura”.

No comunicado, que pode ser lido na íntegra no site do jornal “Sol”, a empresa queixa-se de ser tratada “como um grupo supostamente ‘misterioso’, de interesses alegadamente ‘obscuros’”, e acusa os jornalistas e comentadores “de preguiça na busca de informação”, referindo que “se a identificação completa dos accionistas da empresa foi entregue na CMVM, os meios de comunicação têm o dever de saber exactamente quem são os accionistas da Newshold”.

O site do jornal “Expresso” refere quecontactou a CMVM que recusou comentar a notícia. Segundo o jornal, a CMVM sabe quem são os acionistas da Newshold mas não pode divulgá-los, “por questões de segredo profissional e por só ter sob sua alçada empresas cotadas em bolsa - o que não é o caso da Newshold”. O jornal lembra que em 2010, quando a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) tentou saber quem eram os donos do “Sol” concluiu que a proprietária da Newshold é a Pineview Overseas, SA – uma sociedade anónima sediada no offshore do Panamá, tendo como administradores Edgardo E. Diaz e Maria Vallarino.

O comunicado da Newshold esclarece depois que “todos os accionistas da NEWSHOLD, não obstante terem nacionalidade angolana, são também cidadãos de nacionalidade portuguesa, possuindo dupla nacionalidade”.

O comunicado questiona “em que é que o capital da Newshold com origem em Angola é diferente do capital com origem em Angola que hoje permite em Portugal a sobrevivência de muitas empresas de tantas áreas e que está a auxiliar a recapitalização da banca?”, sem no entanto clarificar a relação dos seus acionistas com o poder político de Angola.

No documento, assinado pelo presidente do Conselho de administração da Newshold, Sílvio Alves Madaleno, e pelo CEO, Mário Ramires, a empresa afirma-se como um “um grupo de comunicação social” “absolutamente independente de diversos factores que têm condicionado – e condicionam cada vez mais – toda a envolvência do espaço mediático português”.

O comunicado, de forma arrogante e acusatória, refere a terminar que a posição nele afirmada “não será alterada por quaisquer afirmações de cariz xenófobo, nem tão pouco por processos de intenção ou teorias da conspiração que possam vir a ser formuladas com o objectivo de denegrir esta empresa ou a sua estrutura accionista”.

O mistério dos donos da Newshold

Numa notícia de 17 de março deste ano do suplemento “Fugas” do jornal “Público”, assinada por Pedro Garcias, com o título “O mistério da Quinta da Foz”, refere-se que os investimentos angolanos já chegaram ao Douro e que a empresa Vinango comprou a Quinta da Foz por pouco mais de 4 milhões de euros. Na notícia é referido que não se conhecem os donos da Vinango, empresa que foi constituída para comprar a Quinta da Foz, mas o seu antigo proprietário, José Maria Calém, suspeita poder estar ligada à Newshold.

A notícia refere ainda queAldemiro da Conceição, porta-voz do presidente de Angola José Eduardo dos Santos, e António Maurício, vice-presidente da Fundação Eduardo dos Santos e presidente da Construtora do Tâmega, são dois dos investidores que têm sido associados à Newshold.

Na notícia é ainda dito que Álvaro Sobrinho, presidente do BESA, a filial angolana do BES tinha estado no Douro e que durante a sua estadia foi visto junto da Quinta da Foz, “adensando ainda mais as suspeitas sobre a sua ligação a este negócio”.

Na notícia do jornal “Público” sobre a visita do presidente da RTP a Angola, há cerca de duas semanas, refere-se que quando a Newshold comprou o “Sol” era presidida pela advogada Ana Bruno, que saiu da empresa este ano por causa do seu envolvimento no processo de corrupção Monte Branco, sendo então substituída por Sílvio Alves Madaleno, irmão de Álvaro Sobrinho, presidente do BESA, filial angolana do BES.

A Newshold detém (ver artigo no esquerda.net), pelo menos, o jornal “Sol” e 15,08% da Cofina que é dona das seguintes revistas e Jornais:Record, Jornal de Negócios, Correio da Manhã, Sábado, Destak (59%) e Meia-Hora (59%), Máxima, Máxima Interiores, Vogue, GQ, TV Guia, TV Novelas, Flash, Automotor, Rotas & Destinos, PC Guia, Semana Informática, Metro Portugal. Gere a publicidade do diário i e detém uma participação de menos de 2% na Impresa.

Em outubro passado, foi noticiado (ver notícia no esquerda.net) que a Newshold pretende comprar, com outros investidores, o Diário de Notícias (DN), o Jornal de Notícias (JN), O Jogo, as revistas Volta ao Mundo e Evasões, a rádio TSF, TSF Madeira e Açores, e ainda as participações detidas pela Controlinveste na agência Lusa (de 23%), na empresa de distribuição de jornais e revistas VASP (de 33%), no Açoriano Oriental (de 90%), no Diário de Notícias Madeira (de 49%) e no Jornal do Fundão (de 51%), bem como a propriedade da gráfica Naveprinter e a participação na gráfica Funchalense (50%).