Marrocos

“Deus é lésbica”: tribunal marroquino condena feminista à prisão por causa de t-shirt

05 de setembro 2025 - 18:32

A psicóloga clínica Ibtissame Lachgar foi condenada a dois anos e meio de prisão pelo crime de “ofensa ao islão” por publicar nas redes sociais uma foto sua vestindo uma t-shirt com slogan feminista.

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Betty com a t-shirti "Deus é lésbica"
Betty com a t-shirti "Deus é lésbica". Foto publicada nas suas redes sociais.

Um tribunal marroquino condenou esta quarta-feira a militante feminista Ibtissame “Betty” Lachgar - psicóloga clínica de 50 anos e fundadora do Movimento Alternativo pelas Liberdades Individuais em 2009 - a uma pena de dois anos e meio de prisão e multa de 50 mil dihrams marroquinos (cerca de cinco mil euros).

Em causa está uma foto publicada nas redes sociais em que Betty veste uma t-shirt onde se lê “Allah is lesbian” [Deus é lésbica], um conhecido slogan feminista que o tribunal considera configurar um crime de “ofensa ao islão”. Nas suas alegações, a militante explicou que o slogan existe há décadas contra as ideologias sexistas e as violências contra as mulheres, não tendo nenhuma relação com o islão. E acrescentou já ter publicado a mesma foto meses antes sem que tal tenha suscitado reações, e que apenas vestiu a t-shirt em manifestações feministas em países da UE e no Reino Unido.

Betty está detida desde 12 de agosto numa prisão de Rabat e o seu advogado Mohamed Khattab, que irá recorrer da decisão, está preocupado com o estado psicológico da militante. Outra das advogadas, Naima el-Guellaf, já tinha alertado no fim de agosto que afirmou que a sua cliente estava “a ser tratada de um cancro e deveria ser submetida, em setembro, a uma operação crítica no braço esquerdo, segundo os seus médicos, que alertam para a possibilidade de amputação se a cirurgia não for realizada”.

A publicação da foto, aponta a agência France Presse, era acompanhada de um texto a qualificar o islão, “à semelhança de toda a ideologia religiosa”, de “fascista, falocrata e misógino”. O post desencadeou os apelos à sua prisão, a que se juntaram ameaças de violação e lapidação da autora.

Esta não foi a primeira vez que Betty teve problemas com a justiça marroquina por causa daquela foto. Em 2022 já tinha sido chamada pela polícia a prestar declarações, sem que tenha resultado alguma acusação.

Para Hakim Siouk, presidente da Associação Marroquina dos Direitos Humanos, trata-se de uma prisão “arbitrária, pois ela não fez mais do que publicar uma simples mensagem a exprimir uma opinião particular, sem violência nem incitação”.