Em entrevista publicada esta semana na revista digital TruthOut, Chomsky recordou que as eleições de 8 de novembro passado nos Estados Unidos não só resultaram num novo presidente eleito (Donald Trump), mas também na redefinição do Congresso e do Supremo Tribunal.
“O resultado entrega o controle total do Executivo, do Congresso e do Supremo Tribunal nas mãos do Partido Republicano, que se tornou na organização mais perigosa da história mundial”, afirmou o linguista e crítico social.
Chomsky apontou que esse partido está dedicado a “apressar o mais rapidamente possível a destruição da vida humana organizada. Não há precedente histórico para essa posição”.
O académico recordou que Trump defende que o país aumente rapidamente o uso de combustíveis fósseis, incluindo o carvão, assim como a desmantelar as regulações ambientais e a retirar a ajuda a países em desenvolvimento que trabalhem na criação de energia sustentável.
Como candidato, Trump expressou que a crise climática era “uma fraude” criada pela China, e prometeu, em diversos fóruns, reativar a indústria do carvão nos Estados Unidos.
Neste sentido, Chomsky assegurou que Trump já deu passos para desmantelar a Agência de Proteção Ambiental (EPA), ao colocar como seu diretor Myron Ebell, um “notório e orgulhoso” negacionista das alterações climáticas.
Além disso, o principal assessor de Trump em temas energéticos é o multimilionário Harold Hamm, que não nega as suas expectativas de que o novo governo norte-americano elimine regulações e implemente cortes fiscais para o setor energético, e que reavive a produção de hidrocarbonetos.
Chomsky assinalou que as ações das empresas do setor energético recuperaram notavelmente desde a eleição de Trump, em especial as vinculadas ao carvão.
“É difícil encontrar palavras para descrever o facto de que os humanos estão a enfrentar a pergunta mais importante da sua história: se a vida humana organizada sobreviverá tal como a conhecemos, quando a resposta é acelerar a corrida para o desastre”, lamentou Chomsky.
O académico sustentou que observações similares podem ser feitas em relação a outros dos grandes temas vinculados à sobrevivência humana: a ameaça de aniquilação nuclear, que vem estando presente há 70 anos.
“Não é menos difícil encontrar palavras para descrever o surpreendente facto de que, na massiva e extravagante cobertura eleitoral, nenhum desses temas recebeu mais que leves menções. Pelo menos, eu não consigo encontrar as palavras adequadas para isso”, insistiu Chomsky.
A ONU (Organização das Nações Unidas) expressou que a crise climática é provavelmente a maior ameaça que a humanidade enfrenta. Num informe, publicado em outubro passado, a entidade diz que nos últimos vinte anos cerca de 4.200 milhões de pessoas foram afetadas por desastres relacionados com o clima.
Artigo publicado no diário La Jornada, do México. Tradução de Victor Farinelli para Carta Maior, revista por Carlos Santos para esquerda.net