Em Portugal como no resto do mundo, a existência de algo como o movimento boogaloo será quase totalmente desconhecida. Nascido nos meandros obscuros da internet e utilizando como nome uma referência cinematográfica também ela obscura, desenvolvendo-se a partir de 2012 no 4chan, o grupo que não tem uma hierarquia formal e pretende levar a uma segunda guerra civil nos EUA apenas viu o seu nome ser catapultado na imprensa depois de 2019, altura em que várias pessoas associadas a ele começaram a ser acusadas por vários crimes. Até ali, mesmo nos Estados Unidos era ignorado ou acreditava-se que seria, como alguns dos seus apoiantes iam dizendo, apenas um grupo que espalhava sarcasmo e memes pelas redes sociais.
Mais recentemente, a sua indumentária peculiar, marcada pelas camisas havaianas misturadas com elementos militares (alguns usam ainda uma máscara de morte e um nariz de palhaço), fez-se notar nas manifestações anti-confinamento que os apoiantes de Trump fizeram um pouco por todo o país. Mas o ponto mais marcante foram mesmo os assassinatos que lhe são atribuídos. A 29 de maio, quando as manifestações contra o assassinato de George Floyd estavam no seu auge, um carro passou em frente a um tribunal federal em Oakland matando um dos seguranças e ferindo gravemente o outro. Não faltou quem tratasse de culpar o bode expiatório do momento, designado pelo próprio presidente norte-americano, os “antifas”. Só que as investigações apontaram o dedo a um militar apoiante do boogaloo. Pouco depois, a seis de junho, dois ajudantes do xerife de Santa Cruz foram alvejados e atacados com engenhos explosivos, tendo um falecido. O mesmo grupo estará por trás deste atentado. A 24 de março tinha sido morto num tiroteio com a polícia um homem que planeava um ataque à bomba a um hospital em Kansas City. Também estava ligado ao mesmo movimento.
No contexto do Black Lives Matter, o boogaloo não tinha uma linha definida uma vez que apenas alguns são supremacistas brancos. Mas a revolta pareceu-lhes um bom momento para ajudar a espalhar o caos já que se dizem aceleracionistas, ou sejam pretendem com as suas ações fazer antecipar um conflito com as autoridades governamentais.
Foi só muito depois disto que o Facebook, esta terça-feira, no contexto de um boicote de anunciantes pressionados por dar dinheiro a uma plataforma que lucra com o discurso de ódio fazendo pouco contra ele, começou a fazer uma limpeza de páginas ligadas ao movimento. Foram apagadas do Instagram e do Facebook mais de 300 contas, 100 grupos e 26 páginas com dezenas de milhares de seguidores.