Depois da pressão de Trump sobre uma alegada influência chinesa, a empresa CK Hutchison, propriedade de Li Ka-shing, o homem mais rico de Hong Kong, anunciou que vai vender Balboa e Cristóbal, dois portos importantes nas entradas do Atlântico e do Pacífico do Canal do Panamá. O comprador é um consórcio dos grupos norte-americanos BlackRock, Global Infrastructure Partners e Terminal Investment Limited. O negócio é estimado em 22,8 mil milhões de dólares.
Do acordo faz também a venda da participação de 80% das subsidiárias portuárias da CK Hutchison, que gerem 43 portos em 23 países. A restante quota é da PSA que é propriedade do fundo soberano de Singapura.
No contexto da sua reeleição, o presidente norte-americano tinha ameaçado voltar a controlar o canal. Ao Financial Times, uma fonte “próxima do negócio” explicou que a CK Hutchison “percebeu que era uma dor de cabeça e quiseram fazer algo” porque o governo do Panamá estava “pressionado”. Outras fontes confirmaram que, antes de fechar o negócio, o chefe executivo da empresa, Larry Fink, falou com Trump e outros membros do seu governo para assegurar que contavam com o seu apoio.
Depois de mais de duas décadas, esta empresa de Hong Kong sai assim de cena numa das vias de comunicação mais importantes para o comércio mundial, na qual dois terços da circulação é proveniente ou destinada aos EUA. Depois de ter sido dominado pelos norte-americanos desde a sua abertura em 1914, um acordo acabou por entregar a sua gestão a uma entidade estatal do Panamá. Foi já esta que fez os concursos que resultaram na intervenção da CK Hutchison que tinha ganho em 2021 uma nova concessão para operar os portos por mais 25 anos.
Apesar da sombra da presença chinesa se desvanecer com esta venda, Trump decidiu a manter o discurso sobre “retomar” o Canal do Panamá. Reiterou-o logo na noite desta terça-feira no seu discurso perante o Congresso, onde vincou: “para reforçar mais a nossa segurança nacional, a minha administração vai retomar o canal do Panamá e já o começámos a fazer”.
Os seus argumentos é que este foi “construído por americanos e para americanos, não para outros”, que foi feito com um “tremendo custo” e que “não o demos à China, demos ao Panamá e agora vamos retomá-lo”.
Ameaça também sobre a Gronelândia
No mesmo discurso, o multimilionário presidente também voltou a ameaçar a Gronelândia, território autónomo da Dinamarca com uma população de 56.000 pessoas.
Ao mesmo tempo que disse respeitar o direito do território de determinar o seu futuro, indicou que este seria bem-vindo aos EUA. Mas não deixou de dizer que “de uma forma ou outra, vamos ficar com ele”.
O degelo da Gronelândia e a subida do nível dos oceanos
José Eustáquio Diniz Alves
O norte-americanos já têm uma base militar no terreno mas estão de olho na exploração dos enormes recursos naturais da região em grande parte desabitada.
Logo no início do mandato, Trump ofereceu-se para comprar o território à Dinamarca que respondeu que este não está à venda. Do lado do governo autónomo da Gronelândia, que é responsável pela gestão da maior parte dos dossiers internos com exceção de relações internacionais e defesa, há a mesma rejeição com afirmações de que os habitantes não querem integrar os EUA e com a aprovação de uma lei que proíbe contribuições estrangeiras a partidos políticos como forma de tentar prevenir uma possível tentativa de ingerência.