Há um mais um foco na crise do Médio Oriente depois do Mar Vermelho, dos ataques Houthis aos navios que se dirigem a Israel e dos bombardeamentos britânico-americanos contra o Iémen. Na sequência dos ataques de mísseis do Irão a território paquistanês na passada terça-feira, esta quinta-feira foi a vez da retaliação do Paquistão. De ambos os lados os alvos não foram diretamente os exércitos mas grupos da etnia balúchi.
De acordo com as autoridades paquistanesas, o ataque visou um grupo separatista balúchi, tendo de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão morto “vários terroristas” numa “série de ataques militares altamente coordenados e de precisão e especialmente dirigidos contra esconderijos terroristas” em nome da “segurança e interesse nacional”. O governante referia-se à Frente de Libertação Balúchi e ao seu Exército de Libertação Balúchi.
Os meios de comunicação social do Irão afirmam contudo que vários mísseis atingiram uma aldeia matando nove pessoas, quatro das quais crianças. O encarregado de negócios do Paquistão no país foi convocado para dar explicações sobre os acontecimentos. Isto porque é a mais alta figura diplomática paquistanesa no Irão depois de Islamabad ter retirado o seu embaixador como forma de protesto contra “violação flagrante” da sua soberania.
No ataque de terça-feira, o Irão tinha atingido por sua vez o que disse serem bases do grupo Jaish al Adl. Também a versão do atacante e do atacado não batia certo, com o Paquistão a dizer que vários civis morreram entre os quais duas crianças.
O Irão tinha ainda lançado ataques contra a Síria, alegadamente contra espaços do Estado Islâmico, que recentemente reivindicou um atentado que tinha vitimado mais de cem iranianos, e contra o Iraque visando o que disse ser um “centro de espionagem israelita”, o que também fez com que Bagdade tenha retirado o embaixador no país.
Baluchistão: de luta esquecida a novo foco de tensão e de atenção mundial
O Baluchistão é uma zona dividida entre o Irão, o Paquistão e o Afeganistão. O seu nome é da etnia maioritária que aí habita, os balúchis, que têm uma língua própria, sendo maioritariamente muçulmanos sunitas. A sua população é de cerca de dez milhões e a esmagadora maioria, 70% vive no Paquistão, com 20% a viver no Irão.
A Frente de Libertação Balúchi tem desenvolvido há décadas uma guerra de guerrilha contra o Paquistão com o objetivo de alcançar a independência do Baluchistão. A região, a maior em dimensão do Paquistão mas a menor em população, é rica em gás e outros recursos minerais. Parte deles estão entregues a interesses chineses, integrando o projeto bilionário denominado Corredor Económico China-Paquistão parte importante da Nova Rota da Seda. Estes negócios têm sido atacados e vários trabalhadores chineses foram mortos. Têm também havido manifestações em Islamabad a acusar o governo paquistanês de execuções extra-judiciais e de desaparecimentos forçados.
Do outro lado, o Jaish al Adl, um grupo sunita, tem atacado os Guardas Revolucionários do Irão mas também guardas fronteiriços paquistaneses, reivindicando a independência de todo o Baluchistão. Este “Exército da Justiça” nasceu em 2012 a partir de membros de um outro movimento, o grupo sunita Jundullah, fortemente reprimido pelo Irão.