Combustíveis fósseis

Apenas 32 empresas são responsáveis por metade das emissões de CO2 do mundo

06 de março 2025 - 22:00

Muitas das empresas mais poluentes são estatais. Ao contrário das promessas, as empresas de combustíveis fósseis aumentaram as emissões de CO2 entre 2022 e 2023.

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Emissões de CO2
Emissões de CO2. Foto de dmytrok/Flickr.

De acordo com o relatório anual de 2023 da Carbon Majors, o último disponível, as emissões poluentes de CO2 aumentaram 0,7% em relação ao ano anterior, alcançando o total 33,9 mil milhões de toneladas. A base de dados desta entidade segue as emissões de 169 entidades, concluindo que 78,4% das emissões globais de CO2 foram provenientes das empresas que produzem combustíveis fósseis e cimento e que apenas 36 delas estão ligadas a mais de metade destas emissões globais, sendo responsáveis pela emissão de mais de 20 mil milhões de toneladas de emissões de CO2 naquele ano. Entre elas contam-se empresas como a Saudi Aramco, a Coal India, a ExxonMobil, a Shell e várias empresas chinesas.

Se olharmos para as 20 maiores entidades produtoras de carbono estas foram coletivamente responsáveis por 17,5 mil milhões de toneladas de CO2, numa percentagem de 40,8% das emissões globais resultantes dos combustíveis fósseis e cimento. 16 destas são entidades estatais, metade delas chinesas. As cinco maiores empresas estatais são a Saudi Aramco, a Coal India, a CHN Energy, a National Iranian Oil Co. e o Jinneng Group. Juntas, produziram um total de 2,2 mil milhões de toneladas de CO2, 4,9% das emissões globais de CO2 fóssil.

Para além disto, a análise também descobriu que a maioria das entidades está ligada ao aumento das emissões em 2023 em comparação com 2022. No geral, 93 entidades aumentaram as suas emissões, enquanto 73 reduziram as emissões e 3 mantiveram o mesmo nível de emissões.

Em 2023, o carvão continuou a ser a maior fonte de emissões, contribuindo com 41,1% das emissões na base de dados, continuando um aumento constante desde 2016. Enquanto as emissões de carvão cresceram 1,9% (258 MtCO₂e) desde 2022, o cimento registou o maior aumento relativo de 6,5% (82 MtCO₂e), refletindo a expansão da produção. Em contraste, as emissões de gás natural diminuíram 3,7% (164 MtCO₂e), e o petróleo manteve-se estável com um aumento mínimo de 0,3% (73 MtCO₂e).

A conclusão de Christiana Figueres, que dirigia a agência climática da ONU quando foi alcançado o acordo de Paris em 2015, sobre o estudo é que “as grandes empresas de carbono estão a manter o mundo dependente dos combustíveis fósseis, sem planos para reduzir a produção”. A especialista salienta ainda que entre elas são mesmo as empresas estatais que “estão a dominar as emissões globais, ignorando as necessidades desesperadas dos seus cidadãos”. Só que a” ciência é clara: não podemos recuar para mais combustíveis fósseis e mais extração”, contrapõe, sendo necessário “um sistema económico descarbonizado que funcione para as pessoas e para o planeta”.

Kumi Naidoo, presidente da Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, junta-se-lhe na análise para considerar que “estamos a viver um momento crítico na história da humanidade” e que “a realidade alarmante é que as maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo não estão apenas a aumentar as suas emissões, mas estão a fazê-lo num cenário de eventos climáticos que estão a ter impactos devastadores na vida quotidiana das pessoas”. Insta assim os governo para que “usem a sua autoridade para pôr fim à causa profunda da crise em que nos encontramos: a expansão dos combustíveis fósseis” e também vinca a necessidade urgente “de fazer a transição para modelos económicos e energéticos mais sustentáveis, justos e acessíveis para todos, ou o que restará às gerações futuras será um planeta destruído”.