88 trabalhadores da Filstone fechados em hotéis. "São todos voluntários", diz a empresa

30 de março 2020 - 22:33

Longe da família e obrigados a trabalho extra, vivem fechados em dois hotéis alugados por esta empresa de exploração de calcários em Fátima. A denúncia chegou ao site despedimentos.pt. A empresa nega ter coagido os trabalhadores e afirma que a Autoridade para as Condições do Trabalho tem conhecimento da medida desde o dia 18 de março. [Notícia atualizada]

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Os trabalhadores da Filstone descrevem um clima “de coação e ameaça constante”.
Os trabalhadores da Filstone descrevem um clima “de coação e ameaça constante”. Empresa nega acusações.

Segundo as denúncias que o despedimentos.pt recebeu, a Filstone contratou duas unidades hoteleiras em Fátima, onde “os trabalhadores são forçados ao isolamento em todas as horas que não estão a trabalhar”.

“Neste regime de reclusão forçada, os trabalhadores estão proibidos de visitar a família, ou de receber visita da família ou outras pessoas no hotel”, lê-se no portal, que descreve que “um estafeta da empresa vai todos os dias ao hotel para entregar as compras solicitadas pelos trabalhadores (como alguma comida ou tabaco)” e que “as refeições (pequeno almoço, almoço e jantar) são fornecidas na pedreira ou no hotel”.

Os trabalhadores descrevem um clima “de coação e ameaça constante”. Saem do hotel apenas para trabalhar: de segunda a sexta, das 7h às 19h; e ao sábado das 7h às 15h, estando obrigados a prestar trabalho extraordinário diariamente. “Ao domingo, dia de suposto descanso, estes trabalhadores ficam confinados ao hotel”, sinaliza o despedimentos.pt.

Segundo as denúncias, as chefias ameaçam que, caso denunciem a situação, “serão colocados em casa sem qualquer vencimento”. Para aqueles que se encontram com contrato a termo prazo, paira a ameaça de não renovação. Também as famílias dos trabalhadores são pressionadas para não denunciar “esta selvajaria patronal”, face à possível quebra nos rendimentos.

Avançando que “a empresa não hesita em privar os trabalhadores da sua liberdade, sob ameaça de despedimento, para os remeter a um confinamento cujo o único objetivo é assegurar que continuam sempre a trabalhar”, o despedimentos.pt frisa que “esta situação exige a imediata atuação das autoridades, para restituir a liberdade e os direitos das pessoas que estão a ser afetadas por esta brutal conduta patronal”.

Empresa nega acusações de "coação e ameaças" e diz que a Autoridade para as Condições do Trabalho teve conhecimento da medida

Esta terça-feira, a Filstone reagiu às denúncias de trabalhadores da empresa ao despedimentos.pt, afirmando que “nenhum colaborador foi colocado em ‘cativeiro’ nem ‘forçado ao isolamento’”, tendo todos aderido de forma voluntária ao confinamento. “Não podemos deixar de refutar veementemente o alegado ‘clima de coação e ameaça constante’ referidos pelo site supramencionado, bem como a ‘ameaça de despedimento’, que em algum momento se verificou”, diz a empresa em comunicado.

O comunicado da Filstone confirma que 88 trabalhadores - mais dois do que o denunciado na véspera - se encontram confinados em duas unidades hoteleiras de Fátima “de forma voluntária” e que todos se comprometeram “a não sair da rotina diária empresa/hotel”. A medida excluiu “trabalhadores que integram grupos de risco, pais ou mães com filhos até 12 anos que tenham de ficar em casa abrangidos pela medida do Governo e pessoas que integrem o regime de teletrabalho”. A Filstone acrescentou ao esquerda.net que apenas nove trabalhadores recusaram a proposta de confinamento.

A empresa diz que esta medida de confinamento do pessoal foi comunicada no dia 18 de março à Autoridade para as Condições do Trabalho e ao Delegado de Saúde e todos os trabalhadores em causa, quer os da empresa quer os do hotel, foram sujeitos a testes de despistagem à Covid-19.

“Todas as medidas tomadas têm como propósito salvaguardar o bem-estar dos funcionários e uma eventual exposição ao coronavírus Covid-19, sem obrigatoriedade de aceitação por parte de nenhum elemento nem de continuidade. Neste momento, e corridas praticamente duas semanas, nenhum elemento da Filstone pretendeu abandonar o hotel”, adianta ainda a empresa, justificando a medida com a necessidade de evitar o encerramento da atividade por tempo indeterminado e assim "proteger o futuro de 140 famílias".

[Notícia atualizada a 31 de março com as declarações da Filstone em resposta às denúncias transmitidas ao site despedimentos.pt]