Chipre na bancarrota

A justificação do dinheiro sujo russo para expropriar depósitos nos bancos do Chipre é indecente e seletiva. Segundo os índices da ONG Tax Justice Network, o Chipre ocupa o 20º lugar na tabela mundial de opacidade financeira. Acima dele estão seis nações europeias, como a Alemanha, em nono lugar. Artigo de Rafael Poch, do La Vanguardia.

O Banco do Chipre já avisou os depositantes afetados pelo confisco da troika que podem vir a perder 60% dos montantes acima de cem mil euros. O ministro das Finanças alemão diz que o Chipre é um "caso especial" que terá agora de percorrer um caminho "longo e doloroso" para devolver o dinheiro do empréstimo da troika.

Dirigentes do Partido da Esquerda Europeia reuniram em Atenas para defender que os cipriotas têm o direito de decidir se desejam ou não submeter as imposições da troika a referendo. O PEE acusa a UE de "hipocrisia" no discurso contra a lavagem de dinheiro nos offshores, uma prática criminosa que Bruxelas sempre protegeu.

Preocupado com as comparações com Chipre, ministro dos Negócios Estrangeiros luxemburguês diz que “a Alemanha não tem o direito de decidir sobre o modelo económico de outros países da União Europeia”.

Taxas de juro da dívida do país a dez anos ultrapassaram pela primeira vez na quinta-feira a famosa barreira simbólica dos 7%, contra 6% na terça-feira e 5% na semana passada. Pode ser o primeiro efeito de contágio da crise de Chipre.

Os paraísos fiscais não são segmentos marginais da economia mundial: a sua dimensão demonstra que fazem parte da sua estrutura íntima. Estes pequenos céus fiscais são um componente chave do setor financeiro mundial e das suas operações de rotina.

Alejandro Nadal

Os bancos de Chipre reabrem nesta quinta-feira após quase duas semanas de encerramento. Os levantamentos foram limitados a 300 euros e os cheques não serão descontados. Os cipriotas que saiam do país só poderão levar um máximo de 3.000 euros. Apesar do encerramento dos bancos, tem havido grande fuga de capitais. Tsipras apela a um referendo sobre o resgate. Leia as notícias e opiniões publicadas em esquerda.net sobre Chipre na bancarrota

Milhares de estudantes tomaram as ruas de Nicósia na terça feira, antecedendo um dia nacional de luta contra o acordo "troika-Anastesiades" e elevando os níveis dos protestos contra as imposições emanadas de Bruxelas e do FMI através do novo presidente cipriota.

O resgate a Chipre “inaugura um estilo de decisão imperial” e representa “um dia negro para a democracia, um revés para a Europa e lança a calamidade económica e social no Chipre”. Bloco considera “escandaloso” que Vítor Gaspar apoie uma decisão que vai acelerar a “fuga de capitais [da periferia] para a Alemanha”

Presidente do Eurogrupo defendeu hoje, em entrevista, que o modelo de intervenção acordado para o Chipre servirá de nova orientação para a zona euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, elogiou o "modelo cipriota" e defendeu ter chegado o tempo dos bancos se salvarem a si próprios. Euro voltou a depreciar face ao dólar e as principais praças europeias registaram quedas acentuadas.

O governo cipriota, o Eurogrupo e o FMI chegaram a um acordo sobre o empréstimo de 10 mil milhões de euros. O Parlamento cipriota não será auscultado sobre as novas condições da reestruturação bancária. Cálculos tornados públicos prevêem que os russos poderão perder mais de 40 mil milhões de euros.

Centenas de manifestantes concentraram-se esta noite em Nicósia à porta do palácio presidencial, em protesto contra as medidas de austeridade, que serão anunciadas após o culminar da negociações entre as autoridades cipriotas e os representantes da troika.

Acordo entre governo cipriota e a troika chegou a ser anunciado, mas foi desmentido. Representantes do Chipre queixam-se da atitude do FMI. Rússia faz saber que poderá retaliar.

Num comentário sobre a crise do Chipre na sexta-feira à noite, Francisco Louçã critica o plano da troika de impor taxas sobre os depósitos bancários daquele país, afirmando que, se a UE queria combater a evasão fiscal, taxava a entrada de capitais e o controlo dos seus movimentos, mas também nos offshores britânicos de outros Estados europeus. E afirma que a “estupidez desta decisão é grave”, e tem consequências de desagregação da União Europeia.

Nove leis e emendas a leis incluem uma inédita restrição do movimento de capitais, um fundo de solidariedade e a reestruturação bancária. Votação do imposto sobre os depósitos bancários adiada para este sábado. Eurogrupo reúne domingo.

A resistência solidária à expulsão do euro é hoje a maior batalha que se exige dos europeístas. Em nome de uma Europa de esperança.

José Manuel Pureza

Alemanha, troika e banqueiros aumentam a pressão sobre o país. A Rússia não aceitou participar num plano B proposto pelo governo de Nicósia e anuncia que só participará desde que Chipre chegue a acordo com a UE. Sucursais de bancos cipriotas na Grécia foram vendidas a bancos gregos. O parlamento cipriota era para aprovar um novo plano na manhã desta sexta-feira, mas a reunião plenária foi adiada para a noite. Concentração popular mantém-se junto ao parlamento.

Muito se escreveu sobre Chipre. Quero acrescentar quatro notas incómodas para quem quer pensar alternativas viáveis e mobilizadoras à estupidez das instituições europeias.

Francisco Louçã

A primeira visita do presidente do Eurogrupo à Comissão de Assuntos Financeiros do Parlamento Europeu serviu para o responsável europeu defender abertamente o confisco dos pequenos depositantes cipriotas. À saída da reunião, a eurodeputada bloquista Marisa Matias diz que ficou "em estado de choque" ao ouvir as palavras incendiárias de Jeroen Dijsselbloem.

Não é difícil perceber que a medida cipriota, mesmo que não seja concretizada, leva os grandes aforradores a rumar a novos paraísos fiscais mas muitos a escolherem o centro da Europa. É pois uma medida que fortalece e beneficia a banca alemã.

Nelson Peralta