Segundo a edição desta quarta-feira do Diário de Notícias, que se apoia nas declarações da eurodeputada Ana Gomes no seu blogue, o Procurador Geral da República forneceu à organização não governamental britânica Reprieve documentação que confirma a passagem de voos da CIA por Portugal. A informação pode ter ajudado a libertar o primeiro preso de Guantánamo, o etíope Binyam Mohamed, que chegou esta terça-feira a Londres.
Segundo Ana Gomes, "a documentação recolhida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras na empresa handler Servisair, relacionada com a facturação por prestação de serviços, contém dados que os advogados de Binyam Mohamed obtiveram através da nossa PGR e que foram úteis"
Ora, os documentos a que se refere Ana Gomes, fornecidos pelo Procurador-Geral da República à Reprieve, confirmam a passagem de um avião da CIA pelo aeroporto Sá Carneiro (Porto), proveniente de Rabat (Marrocos) e com destino a Cabul (Afeganistão), entre 15 e 17 de Setembro de 2002, durante o Governo de Durão Barroso. O avião em causa é um Gulfstream civil privado, de matrícula N379P, mais conhecido por Guantánamo Express, dada a frequência com que foi referenciado em voos da CIA. Os documentos revelam ainda que alguns dos agentes da CIA que escoltavam o etíope ficaram hospedados num hotel do Porto. Ana Gomes esclarece que estes dados foram úteis "para identificar agentes da CIA envolvidos na transferência" de Binyam Mohamed de Marrocos para o Afeganistão.
A organização não-governamental britânica Reprieve confirmou hoje ter recebido informação da Procuradoria-Geral da República portuguesa, mas desvalorizou a sua importância na libertação de Binyam Mohamed.
Binyam Mohamed, o jovem etíope libertado de Guantanámo esta segunda-feria, foi preso por suspeitas de terrorismo no Paquistão a 10 de Abril de 2002, tendo sido tranferido para Guantánamo em Setembro de 2004. Nestes dois anos foi mandado para interrogatório e tortura pela Administração Bush para "prisões secretas" em Marrocos e no Afeganistão.
Segundo Ana Gomes, "o calvário de Bynyam incluiu sequestro, interrogatórios, bárbara tortura, prisão ilegal, sonegação à justiça, tentativas de suicídio, greves da fome e alimentação forçada, tentativa de julgamento fantoche (nas comissões militares que Obama entretanto suspendeu)".
A eurodeputada Socialista refere ainda que Binyam terá passado por Portugal numa outra ocasião, quando foi levado de Cabul para Guantánamo, em 19 e 20 de Setembro de 2004, durante o governo de Santana Lopes. E garante que tanto o Ministério da Defesa como o dos Negócios Estrangeiros têm documentação que prova mais esta passagem de um voo da CIA por Portugal.
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