Wolfgang Münchau: Por que falhou a campanha do Sim na Grécia

07 de July 2015 - 0:17

Os opositores de Tsipras fizeram várias más avaliações, da mais pequena à monumental. Os adeptos do Sim pensavam que tinham tudo controlado. Tal como o Partido Trabalhista britânico antes das últimas eleições legislativas, confiaram nas sondagens, que se vieram a revelar extremamente imprecisas. Artigo de Wolfgang Münchau.

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"Os adeptos do Sim pensavam que tinham tudo controlado", considera o colunista do Financial Times.

Não é assim tão difícil de explicar por que razão Alexis Tsipras venceu o referendo de forma esmagadora. É muito mais difícil de prever o que vai acontecer agora.

Os seus adversários, tanto na Grécia como na União Europeia deram-se mal devido a várias más avaliações, que vão desde a pequena à monumental. Para mim, destacam-se três.

A maior foi claramente a intervenção concertada de vários políticos importantes da UE, que disseram que o voto no “não” levaria a um Grexit, uma saída da Grécia da zona euro. Um deles foi Sigmar Gabriel, o ministro da Economia alemão e líder do SPD. Ainda intensificou a ameaça quando os resultados saíram. Os gregos interpretaram corretamente esta ameaça como uma tentativa de interferência no processo democrático no seu país. A notícia na semana passada de que as autoridades da zona euro tentaram suprimir a última análise do Fundo Monetário Internacional sobre a sustentabilidade da dívida também não vieram ajudar. O relatório do FMI, essencialmente, veio revelar que o governo grego tinha, afinal de contas, razão em pedir um alívio da dívida. O resto da UE deu a impressão de que pretendia manipular o referendo, e nem teve a preocupação em escondê-lo.

O segundo erro da campanha do Sim foi o fracasso em explicar como é que o programa de resgate poderia funcionar economicamente. Este não é um debate entre economia keynesiana e neoclássica, do tipo que nos mantém eternamente ocupado nestas páginas. O referendo grego uniu economistas com visões de como o mundo funciona muito diferentes, incluindo Paul Krugman, Jeffrey Sachs e Hans-Werner Sinn. Não há teoria económica respeitável segundo a qual uma economia, que tem experimentado uma depressão com oito anos de duração, necessite de uma nova ronda de austeridade para produzir ajustamento económico.

O terceiro erro monumental foi a arrogância. Os adeptos do Sim pensavam que tinham tudo controlado. Tal como o Partido Trabalhista britânico antes das últimas eleições legislativas, confiaram nas sondagens, que se vieram a revelar extremamente imprecisas.

O que eu achei mais irritante foi o argumento de que o Grexit provocaria uma catástrofe económica, como se a catástrofe já não tivesse acontecido. Se você tem estado desempregado há cinco anos, sem qualquer perspetiva de emprego, não faz diferença se o dinheiro que não irá receber estará em euros ou em dracmas.

Desprezo pela democracia e analfabetismo económico não são apenas erros táticos. Estas duas "qualidades" são agora os restantes alicerces ideológicos do resta do projeto europeu. A Grécia é um lembrete de que a união monetária europeia, tal como está construída, é fundamentalmente insustentável. Isto significa que terá de ser corrigida, ou vai acabar em algum momento.

Então, quais são as opções agora? Vou escrever sobre isso mais detalhadamente na minha próxima coluna. Mas, a linha de fundo é de que agora vai ser mais difícil alcançar um acordo. Após a vitória do Não no domingo, o governo grego irá insistir num acordo muito diferente, com menos austeridade. Vai insistir, e está certo em fazê-lo, num alívio da dívida que é consistente com os mais recentes cálculos do FMI.

Acho que é difícil existir uma maioria na Alemanha a favor de tal acordo. Na verdade, eu acho que a única forma de coagir a Alemanha para discutir um alívio da dívida é partindo para o incumprimento. Isso não acontecerá de outra forma. A esse ponto, no entanto, a possibilidade de um Grexit é grande.

Talvez a solução mais realista agora seria um acordo que cubra apenas o refinanciamento do sistema bancário grego. O governo grego não cumpre as suas obrigações junto dos seus credores, enquanto os credores deixam de garantir qualquer novo financiamento à Grécia. Isto minimizaria o comprometimento de todos, mas tal acordo, está, igualmente, repleto de dificuldades.

E, finalmente, o melhor é não pensar no Grexit como uma escolha que o governo grego possa, ou não possa, fazer. Não é uma escolha que alguém vá fazer. O Grexit é o que acontece quando todas as outras possibilidades estiverem esgotadas. Neste momento não restam muitas.


Wolfgang Münchau é editor e colunista do Financial Times.

Artigo publicado em Analize Greece.

Tradução de Fabian Figueiredo.