A recente profunda remodelação do Governo – metade dos seus membros – é, aliás, o reconhecimento deste falhanço.
Num debate sobre a situação económica e social dos Açores, em que o Bloco de Esquerda abordou temáticas referentes a todos os departamentos do Governo, ficou claro o impacto negativo que a falta de rigor e transparência na gestão de dinheiros públicos tem na degradação das condições de vida dos açorianos e açorianas.
O deputado Paulo Mendes apontou o dedo às “constantes derrapagens nas obras públicas que têm custado centenas de milhões de euros e à política de incentivos que premeia autênticos negócios para amigos”, como o caso do Colégio do Castanheiro, o negócio da Radioterapia, e os mais recentes negócios no sector da energia: o caso da Companhia Açoriana de Energias Renováveis – que recebeu um apoio de 3,7 milhões de euros a fundo perdido para um negócio cuja finalidade é vender energia à EDA – e o caso da Strongsurvival – que apesar de criar apenas 5 postos de trabalho, foi considerado Projeto de Interesse Regional com base neste critério. Embora este estatuto de PIR tenha sido revogado por não ter sido cumprido o prazo para início do projeto, nada garante que não será entretanto renovado.
A intervenção do deputado do Bloco não se limitou a apontar os erros do atual executivo. Paulo Mendes apontou caminhos alternativos para a dinamização da economia e para o desenvolvimento social, que poderiam ser alcançados através de uma verdadeira aposta na reabilitação urbana, e através do aumento das pensões mais baixas e aumento do salário mínimo – questão em que o Governo Regional se limita a esconder atrás do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas para justificar o medo de fazer diferente.
A recusa do aumento do salário mínimo regional é, aliás, incompreensível perante o que Vasco Cordeiro escreve no prefácio de um livro editado recentemente. Por um lado, o presidente do Governo Regional considera, e bem, que “não há razão para que o reforço da competitividade se faça às custas dos trabalhadores”, mas depois faz o contrário, ao recusar aumentar o salário mínimo regional sob o argumento da perda de competitividade das empresas açorianas.
Paulo Mendes encontrou ainda outros pontos de contacto entre as políticas do PS nos Açores e as políticas do PSD/CDS na República: se Passos Coelho e Portas estão a encerrar serviços de proximidade como as secções de finanças, Vasco Cordeiro encerra serviços de urgência. “O ‘troikismo’ fofinho do PS é a continuação, menos feroz, das políticas desastrosas do PSD e CDS na República”.
Artigo publicado em acores.bloco.org