Em Cuba, a maior parte dos escritos históricos sobre as lutas sociais e políticas produzidas entre os anos 20 e a revolução triunfante de 1959, no melhor dos casos, ignora a contribuição dos militantes trotskistas cubanos desse período, e no pior, repetem as calúnias clássicas dirigidas pelos estalinistas contra os partidários da revolução permanente (esta última atitude atravessa completamente o livro do comunista cubano Lionel Soto, “La revolución de 1933, Ed. Pueblo y Educación, Habana, 1985). A importância doutros militantes revolucionários cubanos é também, em grande medida, subestimada. É o caso de Antonio Guiteras1.
Uma premissa: uma tese de doutoramento sobre as origens do trotskysmo em Cuba
Havana, 2 de julho de 1997: Rafael Soler, professor de história na Universidade de Santiago de Cuba (900 km a leste da capital cubana) defende a sua tese de doutoramento sobre o trotskysmo cubano (1932-1935). A sessão é pública: Rafael Soler apresenta-se no Tribunal Permanente de Graus Científicos de Ciências Históricas (jurado composto de universitários) encarregado de conceder ou não o título de doutor. O título da sua tese: "O trotskysmo na revolução dos anos 30".2
No "tribunal", uma doutora em história é encarregada de fazer a crítica da tese. Algumas críticas formais e depois uma pergunta: "Como justifica a caracterização dos trotskistas cubanos como revolucionários?". Outro colega está encarregado de apoiar a tese. Mostra o caráter inédito do tema. Considera que a tese está muito bem fundamentada e propõe não ficar por aí: outros investigadores deverão aprofundar o tema e aproximá-lo do presente.
Na continuação, é dada a palavra ao autor. Em quinze minutos resume o seu trabalho, mostrando o caráter contraditório do movimento trotskista cubano: implantação significativa em vários meios sociais em quase todo o território; sectarismo de resposta por parte do PC oficial; papel de divisão e dogmatismo (os trotskistas não tinham compreendido a estratégia revolucionária de Lenine e aplicariam de forma mecânica a teoria da revolução permanente que é uma teoria de tipo esquerdista)... Sem dúvida, apesar dessas críticas, Rafael Soler afirma que, nos anos 30, "o movimento trotskista cubano (...) é caracterizado pelo seu caráter anti-imperialista, a sua orientação revolucionária, a sua adesão ao marxismo e a sua defesa dos interesses nacionais. Era constituído, na sua maioria, por homens e mulheres muito jovens que atuavam honradamente, guiados pela vontade de conseguir mudanças radicais na sociedade cubana (...)". (Rafael Soler, Tesis de doctorado, p. 24 del capítulo "Los Orígenes del trotskysmo en Cuba").
Inicia-se a discussão. Um colega intervém para expressar uma crítica à tese. Em substância, diz que "não é certo que os trotskistas tenham defendido uma posição dogmática sobre a natureza da revolução. A prova: a revolução que triunfou em Cuba, em 1959, era de caráter socialista. Foi o PC oficial quem manteve uma visão dogmática etapista da revolução. (...) O Movimento de 26 de julho dirigiu uma revolução socialista em Cuba, em 1959". Outro colega declara que no decorrer das investigações que realiza desde há 20 anos entre sobreviventes do movimento "Jovem Cuba" (nascido depois da crise revolucionária de 1933, ver mais adiante) e do Partido Ortodoxo (do qual provinha Fidel Castro), vários testemunhos indicam uma certa influência do programa trotskista sobre os movimentos em questão. E propõe, em substância, como tema de uma futura tese: Influenciou o programa trotskista indiretamente o do Movimento 26 de Julho elaborado por Fidel, inclusivamente se este último não tinha nenhum contacto com os trotskistas?
Seria demasiado longo resumir aqui o conjunto da discussão sobre a tese de Rafael Soler. Obteve o grau de doutor por unanimidade e a sua tese (que está parcialmente publicada em diferentes revistas cubanas) foi selecionada como a melhor tese de 1997 (tese de doutoramento em ciências históricas) pela Comissão Nacional dos Graus Científicos. Ao autor foi concedida igualmente, por parte do Ministro de Educação Superior, o prémio da melhor investigação histórica de 1997.
Anima constatar que, apesar de uma evolução contraditória da sociedade cubana hoje, há lugar para uma investigação assim (a tese em questão faz parte atualmente do programa de licenciatura de várias universidades cubanas). Seria necessário que, sob uma ou outra forma, o trabalho de Rafael Soler fosse tornado acessível no plano internacional. O autor, cujas opiniões estou longe de partilhar, realizou um trabalho notável e sincero. Um dos aspetos inquestionáveis do seu trabalho é o facto de, durante dois anos, ter percorrido toda a ilha para entrevistar veteranos do trotskysmo cubano dos anos 30. Ter encontrado mais de uma trintena, muitos dos quais reivindicam com orgulho as suas convicções trotskistas e a sua vontade de defender Cuba face ao imperialismo norte-americano.
Os trotskistas cubanos nos anos 30
Em 1931, uma corrente de esquerda no PC de Cuba aproxima-se de Trotsky e dos seus partidários na Oposição de esquerda internacional (que, em 1933, tomou o nome de Liga Comunista Internacional, para se converter, em 1938, na Quarta Internacional).
Esta situação reflete o que ocorre um pouco por toda a parte nos partidos comunistas. Na URSS, Estaline dirigiu uma contra-revolução burocrática e reforçou até à caricatura os traços autoritários do regime saído da revolução de outubro de 1917. Reprime brutalmente e depois proíbe toda a crítica no interior da sociedade e do partido soviético. Uma burocracia conservadora à cabeça da qual ele se encontra exerce uma ditadura feroz sobre o povo. Para se proteger, a nível interno, esta burocracia estalinista liquida fisicamente os opositores (entre eles, revolucionários da primeira hora), ao mesmo tempo que aniquila toda a expressão revolucionária instituindo uma polícia política implacável e um sistema de delação que mina a solidariedade cidadã.
A nível da política externa, em nome da salvaguarda do socialismo, mas sempre para preservar o seu poder pessoal, Estaline embarca os PCs numa série de ziguezagues: em 1926-1927, os seus compromissos com as burguesias afastam-nos da revolução mundial (comité anglo-russo na Grã-Bretanha, aliança suicida entre o Kuomintang de Chiang Kai Sheck e o PC na China, em 1926). Nos finais dos anos 20 e começo dos anos 30, Estaline imprime uma viragem esquerdista e sectária aos PCs: a da ofensiva revolucionária com a autoproclamação dos sovietes em numerosos países semicoloniais ou coloniais (Cuba ou Vietname) e a recusa da unidade de ação com os socialistas para enfrentar o fascismo e o nazismo na Europa. Esta linha esquerdista será continuada pela defesa da "frente popular" (1935-1936) e depois, na América Latina, com o apoio dos PC a regimes ditatoriais ao serviço dos Estados Unidos (Somoza na Nicarágua, Batista em Cuba) no marco da grande aliança antifascista mundial.
Para a corrente trotskysta a construção do "socialismo num só país" defendida por Estaline, é uma aberração: há que romper o isolamento da URSS e fazer avançar a perspetiva revolucionária no mundo assegurando uma frente unida dos oprimidos e das suas organizações. O conceito da "revolução permanente" significa a necessidade de levar a cabo a conquista dos direitos democráticos, a reforma agrária e a independência efetiva dos países coloniais ou semicoloniais lutando até à conclusão socialista da destruição do estado capitalista sem fazer compromissos incoerentes com as burguesias nacionais. Isto necessita de uma política de alianças sem ambiguidade em relação às burguesias e um apoio incondicional a toda a luta de emancipação dos oprimidos e oprimidas.
Os e as militantes que constituem esta corrente de esquerda no PC de Cuba, provêm do movimento sindical (Federação Operária de Havana); muitos são de origem anarcosindicalista, da organização de solidariedade Defesa Operária Internacional (DOI) e do movimento estudantil, chamado Ala Esquerda Estudante (AIE).
Em 1932, o regresso a Cuba de Sandalio Junco3 e de Juan Ramón Brea4, dois dirigentes comunistas que tinham permanecido na Europa trabalhando para o Partido e para a Internacional Comunista, reforça os laços entre esta oposição e a corrente trotskista internacional.
Sandalio Junco, padeiro, era um dos raros dirigentes negros do PC. Tinha militado com Julio Antonio Mella5 (principal figura do comunismo cubano dos anos 20), em Cuba. Em novembro de 1925, figuram ambos entre os militantes encarcerados depois do descobrimento de uma bomba no teatro Payret de Havana. Em 1927, Junco e Mella efetuam uma primeira viagem a Moscovo (Mella passa por Bruxelas, onde se realiza um congresso internacional da Liga Anti-imperialista). Depois, encontram-se ambos num exílio forçado no México onde fundam a Associação dos Novos Emigrantes Revolucionários Cubanos. O jovem Antonio Mella era muito crítico quanto à orientação tomada por Moscovo em política interna e externa. Mella tinha sido sancionado pelo Comité Central do PC mexicano do qual fazia parte; tinha também graves divergências com a direção do PC cubano fortemente influenciado por Moscovo. Mella foi assassinado em janeiro de 1929 por agentes do ditador Machado.
Por sua parte, Juan Ramón Brea, depois de ter dirigido as lutas estudantis em Cuba (com Raul Roa e Rubén Martínez Villena), passou a ser trotskista durante a sua estadia em França e Espanha (quando Junco estava em Moscovo). De regresso a Cuba, foi encarcerado durante vários meses na companhia de Raul Roa na prisão modelo da Isla de Pinos.
Em agosto de 1932, constitui-se no interior do PC cubano, a Oposição Comunista de Cuba; opõe-se à linha da maioria da direção do PC, que pratica uma orientação esquerdista ultrasectária.
Sandalio Junco e vários outros dirigentes comunistas foram excluídos do partido, em setembro de 1932. Apesar do efeito combinado da repressão exercida pela ditadura de Machado e das denúncias de que eram objeto, por parte da direção estalinista do PC, os seus partidários ganharam a maioria do movimento estudantil (AEI), a nível nacional. Por seu lado, Sandalio Junco e os seus camaradas foram eleitos para a direção duma federação sindical (FOH) que estendeu rapidamente a sua implantação a uma grande parte de Cuba (Santiago de Cuba e Guantanamo). Gozavam de uma grande influência na Defesa Operária Internacional (DOI).
Durante o primeiro semestre de 1933, os EUA, que percebem o perigo dum levantamento revolucionário contra a ditadura de Machado, enviam uma missão de alto nível, dirigida por Welles, que tenta preparar uma saída negociada de Machado para manter o domínio norte-americano na Ilha. Os trotskistas cubanos denunciam frontalmente esta manobra. Foram eles que redigiram o célebre manifesto da Aliança Estudantil de Esquerda "Al pueblo de Cuba! A todos los estudiantes", Havana, 28 de junho de 1933 (reproduzido em: Pensamento Crítico n. 39, abril 1970, Habana). No verão de 1933 desenvolve-se um movimento de massas que toma formas cada vez mais radicais. As greves sectoriais começam, entre julho e agosto de 1933, e transformam-se numa formidável greve geral política. Durante uma manifestação em 1 de agosto de 1933, em Santiago de Cuba, América Lavadi Arce cai morta pelas balas da polícia. É a primeira mártir trotskista cubana (só tinha 16 anos).
Depois de ter participado no desencadeamento da greve, o PC estalinista apela ao seu fim pois está em negociações secretas com o ditador Machado (a direção estalinista do PC espera assim obter do ditador a legalização das suas atividades e do sindicato que influencia, a CNOC - Confederação Nacional dos Operários de Cuba). As massas prosseguem a greve.
Os trotskistas, que se movem na luta como peixes na água (graças à sua prática não sectária, quanto às demais organizações, e radical a nível das propostas e reivindicações), apelam à continuação da ação. Em plena ascensão do movimento de massas, fundam o Partido Bolchevique-Leninista de acordo com a decisão da direção trotskista internacional de construir, a partir de agosto de 1933, partidos independentes dos PC. Esse partido, implantado à escala nacional está sobretudo presente a Leste da ilha. É maioritário em Guantanamo (quase toda a secção do Partido Comunista desta cidade decide passar para o trotskysmo) e bem implantado em Santiago de Cuba, Tunas, Puerto Padre e Holguin. Tem igualmente um papel importante em Havana e em Matanzas.
A situação torna-se quase revolucionaria por um período de vários meses. O PC declara ter sido um erro apelar á paragem da greve geral. A ditadura de Machado dá lugar a um governo de transição democrática (o governo de Carlos Manuel de Céspedes, de 13 de agosto a 4 de setembro de 1933, seguido pelo governo de Grau San Martin6 e o de Antonio Guiteras com elementos sinceramente anti-imperialistas, que defendiam posições de esquerda), o que não pôs termo à radicalização das massas. O sargento Fulgencio Batista está do lado de quem derruba o ditador Machado. Mas espera o seu momento para organizar a ofensiva contra o movimento de massas e assentar o seu poder. Antonio Guiteras constitui a ala esquerda radical, revolucionária, anti-imperialista do governo de Grau e é apoiado particularmente pelos trotskistas, que colaboram com o movimento "Jovem Cuba" acabado de ser fundado.
Quando se desenvolve uma poderosa corrente anti-americana, Ramón Grau San Martin (um dos universitários mais comprometidos na luta contra Machado), novo chefe de Estado, ordena a redução das horas de trabalho, reconhece o direito à greve e, sob pressão popular, chega a obter a revogação da emenda Platt (1934). Igualmente no ativo do governo de Grau San Martin-Antonio Guiteras figuram: o direito a voto das mulheres, o direito dos camponeses sobre a terra que ocupam, o anúncio de um programa de distribuição de terras, a redução massiva dos taxas dos empréstimos e a repressão da usura, a baixa de 40% das tarifas da eletricidade, a detenção da devolução da dívida externa. Grau San Martin explica que se trata de "liquidar a estrutura colonial que sobrevive em Cuba desde a independência".
Acossado pelos comunistas que declaram estar à cabeça de um "governo estabelecido pela pequena burguesia e pelo exército, um governo que defende os interesses da burguesia, dos grandes proprietários e dos imperialistas" (sic!), Grau San Martin é derrubado a 15 de janeiro de 1934 pelos coronéis Batista e Mendieta. O seu golpe de estado é apoiado e dirigido pelos Estados Unidos. Fulgencio Batista torna-se chefe do exército. A ditadura faz estragos, desde 15 de janeiro de 1934 até ao verão de 1938, quando Batista decide iniciar uma abertura democrática.
Em março de 1935, é lançada uma greve geral contra Batista e Mendieta. Os trotskistas participam nela ativamente, em particular através da Federacion Obrera de Habana (FOH), cujo secretário geral é Gastón Medina (dirigente do partido trotskista PBL). A greve geral foi preparada por um comité unitário em que Jovem Cuba e PBL têm um papel central. Os comunistas estalinistas optam por apelar à greve de forma separada permanecendo fora do comité unitário. A greve constitui um fracasso.
Em 8 de maio de 1935, Antonio Guiteras é assassinado pelos soldados de Batista. De 1935 a 1938, a repressão abate-se sobre o movimento popular que retrocede. Os trotskistas cubanos são arrastados por esse refluxo e são vítimas de campanhas caluniosas do PC estalinista que não duvida, em certos casos, de utilizar a força (em 27 de agosto de 1934, un comando de comunistas estalinistas atacou com armas a sede do FOH dirigida pelos trotskistas. Balanço: um morto e vários feridos).
Duas orientações diferentes separam então os militantes trotskistas cubanos. A primeira, consiste em dar a prioridade à construção de um partido trotskista independente como tarefa imediata; a segunda, consiste em juntar-se a organizações mais amplas, em particular Jovem Cuba, e jogar nelas um papel dirigente defendendo uma política revolucionária.
Quem opta pela construção de uma organização trotskista independente, mantém o PBL que se converterá no Partido Obrero Revolucionario (POR), a 19 de setembro de 1940, algumas semanas depois do assassinato de Trotsky, no México, por um agente de Estaline. Entre os dirigentes do POR encontra-se Ramón Brea, que, depois de ter participado com o POUM na guerra de Espanha nas brigadas internacionais, permaneceu na Checoslováquia e voltou para Cuba onde morreu, em 1941. Fazia parte igualmente da direção do POR, Pablo Díaz, que participará mais tarde com Fidel Castro e Che Guevara na expedição do Granma.
Os outros (entre eles Sandalio Junco e Gustavo Fraga) entram na Jovem Cuba, organização política radical de esquerda fundada por Antonio Guiteras que conseguiu manter-se apesar da repressão e das denúncias de que foi objeto por parte do PC estalinista. Jovem Cuba conseguiu inclusivamente desenvolver-se.
A 13 de setembro de 1938, o Partido Comunista foi legalizado e depois apoiava a abertura democrática de Batista.
Em 1940, o homem forte do regime desde 1934, o coronel Fulgêncio Batista, consegue ser eleito presidente graças a um modo de escrutínio que não permite votar mais de metade do corpo eleitoral. Para o fazer, goza do apoio do Partido Comunista e dos poderosos interesses norte-americanos. Segundo o PC, às ordens da burocracia estalinista no poder em Moscovo, face ao avanço do fascismo e do nazismo na Europa, há que ter em conta "a orientação democrática" da administração Roosevelt que trocou a tradicional política do bastão pela política da boa vizinhança. Em consequência disso, Cuba, afirma o PC, deve colaborar com os governos democráticos e, em particular, com os Estados Unidos. Cuba conhecerá uma aliança entre o Partido Comunista e o coronel Fulgêncio Batista, que durará de 1939 a 1944, quando este se demite. Em 1943, o presidente do partido comunista, o escritor Juan Marinello, é ministro sem pasta do governo Batista.
A 8 de maio de 1942, Sandalio Junco é assassinado na cidade de Sancti Spiritus por um comando estalinista quando falava num comício em comemoração do assassinato de Antonio Guiteras. Sandalio Junco era então Secretário Geral da Comisión Obrera Nacional do Partido Revolucionario Cubano (Autêntico), muito influente na classe operária. Era denunciado pelos estalinistas como hitlero-trotskista infiltrado no PRC para trair os operários honrados.
A partir do fim dos anos trinta, o partido trotskista cubano conhece uma situação de marginalização política da qual não recuperaria. Vários dos seus militantes prosseguiram localmente uma atividade revolucionária, que lhes valeu um verdadeiro reconhecimento político. O partido trotskista convertido, em fins dos anos 30, no Partido Obrero Revolucionário, que substituiu o PBL, conservou uma grande influência organizada na parte oriental da ilha, particularmente, em Guantánamo e Santiago de Cuba. Alguns dos seus membros participaram nos combates insurretos dirigido pelo Movimento 26 de julho (M26-7), entre 1953 e 1959: Idalberto Ferrera Acosta7, Juan Medina, Luciano García, Guarina Ramírez, Juan Leon Ferrera, Ricardo e Idalberto Ferrera.
Por outro lado, os militantes trotskistas, que não tinham laços organizados com o POR, também tiveram um papel significativo no Movimento 26 de julho dos anos 50. De referir particularmente o operário Gustavo Fraga que afirmou até ao fim as suas convicções trotskistas. Teve, desde os anos 1930 até à sua morte, um papel determinante no movimento operário, em Guantanamo. Foi, em 1933, a figura principal do Partido Bolchevique Leninista dessa cidade e dirigiu a greve geral de agosto de 1933. Em 1934, no marco da orientação adotada pelos troskistas, juntou-se à Jovem Cuba e tornou-se num dos seus dirigentes principais na região. Dirigiu ações famosas como a tomada da aduaneira de Guantanamo (base militar norte-americana). Depois da fundação do Movimiento 26 de julho, tornou-se chefe da secção operária do M26-7 na região e organizou a greve em resposta ao assassinato de Frank País, em Santiago de Cuba, a 30 de julho de 1957. Morreu em combate manuseando explosivos, a 4 de agosto de 1957, em Guantanamo. Pouco depois, a direção do M26-7 deu o nome de Gustavo Fraga a um destacamento guerrilheiro da segunda frente oriental dirigida por Raul Castro.
Pablo Díaz merece também ser mencionado. Operário tintureiro, faz parte da direção local do Partido Bolchevique Leninista, em 1933, em Santiago de Cuba. Mais tarde, instalou-se em Havana. Foi editor responsável do órgão do Partido Obrero Revolucionário (trotskista) (La revolución proletaria), que apareceu entre 1941 e 1945. Mais tarde, abandonou o POR, foi tesoureiro do M26-7, em Nova Iorque, onde se instalou provisoriamente. Participou na expedição do Granma com Fidel Castro e, depois duma nova estadia em Nova Iorque, na luta insurrecional na Sierra Maestra.
Há que citar igualmente Roberto Acosta Hechavarria (1912-1995), que foi membro do PCC, antes de aderir ao PBL, em 1933. Em 1956, participou na organização "Resistência cívica", em Havana, e apoiou ativamente a rede "Ação e sabotagem" do M26-7. Depois da revolução, ainda reivindicando explicitamente as suas convicções trotskistas, trabalhou diretamente com Che no Ministério da Indústria até à partida deste, em 1965.8
O texto “Os trotskistas cubanos de 1930 a 1959” é de Eric Toussaint9. Tradução para esquerda.net de António José André
Notas:
1 Antonio Guiteras Holmes (1906-1935): dirigente estudantil, em Havana, membro do diretório estudantil revolucionário, ministro do Interior no governo revolucionário de Grau San Martín. Fundador e organizador de Joven Cuba, organizador da greve insurreta de março de 1935, assassinado pelos soldados de Batista, em maio de 1935. Em 2000, foi publicado o importante livro de Fernando Martínez Heredia, “La revolución cubana del 30”, Editorial de Ciencias Sociales, Habana, 2007. Ver, em particular, o capitulo: "Guiteras y el socialismo cubano". Pode ser descarrregado em: http://www.ruthcasaeditorial.org/libroslibres/wp-content/uploads/2012/06/rev_cubana_30.pdf
2 Soler Martinez Rafaël R. (1997), “O trotskismo na revolução del 30”, Tesis, Universidade de Oriente, Faculdade de Ciências Sociais e Humanisticas, Departamento de História, Santiago de Cuba, 1997. O artigo de Rafael Soler Martínez "Los orígenes del trotskismo en Cuba" pode ser lido em: http://archivo.po.org.ar/edm/edm20/losor.htm ver : http://bdigital.bnjm.cu/catalogo/web/autor/Soler%20Mart%C3%ADnez_Rafael%20R.
3 Sandalio Junco (1894-1942): padeiro e depois tabaqueiro, fundador duma central sindical, em Cuba, ganho para as ideias da oposição de esquerda por Andrés Nin num congresso da Profintern (Internacional Sindical Vermelha), é um dos dirigentes da ANERC, depois de ter sido expulso de Cuba, e funda o Partido Bolchevique Leninista de Cuba. Junta-se a Joven Cuba, movimento nacionalista, e é assassinado por um comando estalinista numa reunião pública.
4 Juan Ramón Brea, dirigente estudantil diversas vezes encarcerado, em Cuba, esteve várias vezes na Europa. Foi ativo a nível literário com o escritor e poeta surrealista francês Benjamín Peret. Participou na fundação do Partido Bolchevique Leninista de Cuba, em 1933. Em 1936, abandona Cuba para participar nas Brigadas Internacionais como membro do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista). Depois da derrota em Espanha, permanece na Europa, particularmente, em Praga. Mantém relações habituais com Victor Serge, James P. Cannon, etc. Em 1940, volta a Cuba e retoma o seu posto na direção do partido trotskista cubano. Morre a 17 de abril de 1941, em Havana.
5 Julio Antonio Mella (1903-1929): organizador da resistência estudantil à ditadura, em Cuba, bem como dos tabaqueiros, depois dirigente do PC cubano, teve que se exilar depois duma acusação de terrorismo e duma greve de fome. Assistiu, em Moscovo, ao V congresso da IC e depois instalou-se no México, onde foi durante algum tempo secretário geral interino do Partido Comunista de México (PCM). Teve contacto, no congresso da Internacional Sindical Vermelha (ISR), com Andrés Nin e trabalhou com um grupo de opositores de esquerda, cujo líder era Rosalio Negrete, no qual participavam imigrantes. Preparou ao mesmo tempo uma expedição militar contra o regime cubano de Machado. Em janeiro de 1929, foi assassinado no México onde estava refugiado.
6 Ramón Grau San Martin (1887-1969): professor de medicina em Havana, assume a defesa dos seus estudantes perseguidos pela polícia de Machado e ganha uma grande popularidade. É presidente do governo provisório, em 1933, derrubado por Batista, e de novo presidente de Cuba, desde 1944 a 1948.
7 Ver Eric Toussaint, "Idalberto Ferrera Acosta" 1918-2013
8 Ver “An Interview with Roberto Acosta Hechavarría in Gary Tennant, The Hidden Pearl of the Caribbean. Trotskyism in Cuba, Socialist Platform, London, 2000, pp. 243-251
9 O texto, baseado em numerosos documentos e testemunhos que recolhi, é da minha inteira responsabilidade. Foi redigido, em 2000, e publicado no livro de Yannick Bovy e Eric Toussaint, “Le pas suspendu de la révolution, Approche critique da réalité cubaine”, Edition du Cerisier, Cuesmes, Belgique, 2001, 387 pp. Com um prefácio de Manuel Vázquez Montalbán. O livro tem contribuções de Fernando Martinez Heredia, Abel Prieto, Mayra Espina Prieto, Julio Fernandez Bulté, Yannick Bovy, Janette Habel, Frangois Houtart, Jean Lazard, Maria Lopez Vigil, Osvaldo Martinez, Julio Carranza Valdes, Haroldo Dilla Alfonso, Silvio Rodriguez, Maya Roy, Eric Toussaint, Laurence Weerts. Ver a apresentação do livro em francês: http://risal.collectifs.net/spip.php?mot742 e também: http://archive.indymedia.be/news/2001/12/14996.html
