Em causa está uma campanha de anúncios publicados no Facebook, mas também de cartazes fixados nas ruas, que pretendia desmobilizar o voto à esquerda nas eleições gerais espanholas do ano passado. Alguns destes anúncios foram lançados em nome de Íñigo Errejón, deputado em Madrid pelo Más País e um dos fundadores do Podemos, antes de romper com a direção liderada por Pablo Iglesias.
O PP de Pablo Casado, o consultor Aleix Sanmartín e o cientista político valenciano Josep Lanuza, negaram a autoria ou envolvimento nesta campanha tóxica para desincentivar o voto à esquerda nas duas eleições legislativas espanholas em 2019. Mas a investigação do jornal espanhol El Diário descobriu que Josep Lanuza, o cientista político que trabalha para o consultor Sanmartín, foi nomeado seis dias antes das legislativas de abril como único administrador da Publick Worldwide SL, empresa que o PP contratara para a sua campanha eleitoral e que se recusou a entregar os documentos pedidos pelo Tribunal de Contas.
Cartazes colados em Madrid e noutras cidades para desmobilizar o voto no PSOE e Unidas Podemos nas eleições de novembro de 2019.
Em declarações anteriormente feitas ao El Diário, Lanuza explicou que os investimentos feitos nas redes sociais para atacar o PSOE e o Podemos foram pagos do seu próprio bolso. Como explicação para a campanha limitou-se a dizer que “gostava de Íñigo Errejón”. Mas agora, com a consulta dos documentos que o Partido Popular entregou ao Tribunal de Contas espanhol, percebe-se que tudo não passava de uma farsa que deu a lucrar centenas de milhares de euros à Publick Worldwide SL vindos diretamente do PP.
Mas apesar de ter negado várias vezes ter trabalhado para o PP, sabe-se agora que Lanuza trabalhou para o PP nas campanhas eleitorais das legislativas de novembro e abril de 2019. Nessa altura, a empresa Publick Worldwide SL recebeu 411.400 euros do PP, informação agora disponível nos relatórios do Tribunal de Contas sobre os gastos partidários na campanha de abril.
Estes pagamentos revelam que o consultor político utilizou fundos do PP de Pablo Casado para atacar as forças políticas de esquerda, com particular enfoque no PSOE e no Podemos.
Segundo revela a investigação do jornal espanhol, a empresa de holding e intermediação financeira sofreu duas alterações uma semana antes das eleições legislativas de 28 de abril: mudou de administrador e mudou também a sua sede fiscal. Andrés Pertíñez Blasco e Antonio Martínez Pinilla transferiram a administração da empresa para Josep Lanuza Navarro, braço direito do consultor Aleix Sanmartín, que à época já era assessor de Pablo Casado. A empresa tinha sido criada há onze meses e nunca tinha apresentado contas. Já a sua sede passou de Madrid para Málaga, na Andaluzia. E foi precisamente na Andaluzia que surgiram os cartazes de rua anónimos que se faziam passar por ativistas políticos de esquerda desiludidos com o PSOE e o Podemos.
Apesar do Tribunal de Contas espanhol o exigir, a Publick Worldwide SL negou-se a apresentar as despesas relacionadas com o Partido Popular e a justificação das mesmas. Foi precisamente essa recusa que veio expor a ligação entre a empresa e o PP, algo que fora sempre negado tanto por Lanuza como por Pablo Casado.
Quando confrontado com o seu envolvimento na campanha, Lanuza sempre a desvalorizou. “Moro em Valência e não vi esses cartazes. Todos os materiais no Facebook foram retirados das redes sociais, nenhum foi feito por mim”, explicou há uns tempos ao El Diário.
“Decidi criar a página quando vi que Íñigo pedia a colaboração cidadã para lançar a sua campanha. Comprei duas bandeiras de campanha e decidi fazer algo mais por minha conta”, referindo-se à página “Yo con Íñigo”.
“Nao quis desincentivar nada. O meu problema é com o PSOE e a UP por não terem um governo progressista. A página chama-se Yo con Íñigo e nela digo ao PSOE e à UP para não contarem comigo”, explicou ao jornal espanhol. “Acho que me concentro muito na defesa de Errejón, mas não deixo de mostrar a minha raiva com Sánchez e Iglesias”, acrescentava o cientista político.