Manifestações anti-racistas na Europa enfrentam provocações da extrema-direita

13 de June 2020 - 23:32

Em Londres e Paris grupos de extrema-direita procuraram perturbar as manifestações de dezenas de milhares de pessoas.

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Manifestantes anti-racistas em Paris. Junho de 2020. Foto de MOHAMMED BADRA/EPA/Lusa.
Manifestantes anti-racistas em Paris. Junho de 2020. Foto de MOHAMMED BADRA/EPA/Lusa.

Este sábado à tarde, milhares de manifestantes marcaram presença em Londres para repudiar o racismo. Um grupo de extrema-direita fez uma contra-manifestação, alegadamente para “proteger as estátuas” e desencadeou confrontos com a polícia e mais tarde também com os manifestantes anti-racistas. Pelo menos 15 pessoas ficaram feridas.

Os confrontos começaram na estação de Waterloo onde os elementos da extrema-direita lançaram peças de fogo de artifício contra a polícia. Um pouco mais adiante foram lançadas pedras e garrafas. E vários outros desacatos irromperam enquanto gritavam insultos racistas e “Inglaterra”. A polícia informou que prendeu mais de cem pessoas.

O presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan reagiu na sua conta de Twitter escrevendo: “é claro que há grupos de extrema-direita que estão a causar violência e desordem no centro de Londres, apelo às pessoas para se afastar”.

A extrema-direita alegava vir em defesa da estátua de Churchill, o primeiro-ministro conservador mais conhecido por estar no cargo durante a IIª Guerra Mundial, apesar desta estar protegida. Esta já fora grafitada com as palavras “Churchill era um racista”. Na semana passada, a estátua de um comerciante de escravos do século XVII tinha sido derrubada em Bristol.

Os nossos irmãos estão a morrer”

Em França as manifestações aconteceram em várias cidades como Marselha Lyon, Montpellier, Nantes e Bordéus. Paris foi o palco da maior delas com cerca de 20 mil pessoas. Também aí contra-manifestantes da extrema-direita tentaram desestabilizar a manifestação. Se em Londres o pretexto era “a proteção das estátuas”, em Paris foi o “racismo anti-branco” que fez com que a “Geração Identitária” levasse uma faixa para o topo de um prédio. Foram os próprios moradores que trataram de a começar a cortar perante os aplausos da multidão.

Os protestos foram marcados pelo “Comité Adama Traoré”, um jovem que morreu asfixiado em 2016 às mãos de três polícias que o imobilizavam. A sua irmã, Assa Traore, foi uma das manifestantes que falou durante a ação: “estamos todos a exigir a mesma coisa – justiça para toda a gente”. “O que está a acontecer nos Estados Unidos, está a acontecer em França. Os nossos irmãos estão a morrer.”

A polícia francesa é criticada por vários casos de violência. Os nomes das vítimas surgiram em faixas que circundavam a Praça da República. A instituição também foi posta em causa depois de terem sido descobertos vários grupos de polícias no Facebook e no Whatsapp onde eram partilhados comentários racistas. Até o próprio ministro do Interior francês, Christophe Castaner, conhecido pela repressão contra os coletes amarelos, declarou esta semana que há “suspeitas provadas de racismo” na polícia francesa.

No final da manifestação a polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes que tentaram seguir para a zona da Ópera de Paris.