DemocracyNow visita territórios ocupados do Sahara Ocidental: manifestações e consequências

05 de December 2016 - 23:03

Esta foi a primeira vez desde 4 de maio de 2013, que as autoridades marroquinas permitiram a uma organização provida de câmaras, que pisasse o chão do Sahara Ocidental, um país que o reino ocupa militarmente em grande percentagem desde 1975. Por Né Eme

PARTILHAR
Entre 18 e 22 de novembro de 2016, uma delegação da DemocracyNow visitou El Aaiun capital do Sahara Ocidental ocupado.
Entre 18 e 22 de novembro de 2016, uma delegação da DemocracyNow visitou El Aaiun capital do Sahara Ocidental ocupado.

Entre os dias 18 e 22 de novembro de 2016, uma delegação da organização americana DemocracyNow visitou El Aaiun capital do Sahara Ocidental ocupado.

Após a chegada os jornalistas da organização norte-americana, reuniram com os jornalistas da EM (Equipe Media) e os ativistas da FAFESA (Fórum para o Futuro da Mulher Saharaui). Foram imediatamente informados por funcionários da administração da ocupação marroquina de que necessitariam de permissão das autoridades para circularem, e proteção policial, e ainda que deveriam antes de tudo ir à câmara municipal da cidade, onde encontrariam todos as pessoas com quem deveriam falar, quer o Presidente quer o Governador e a secção local da CNDH “Comissão Nacional de Direitos Humanos”.

Sábado 19 de novembro, enquanto os jornalistas almoçavam num restaurante a poucos quilómetros a sudeste de El Aaiun, puderam observar uma manifestação hostil à sua organização e aos Estados Unidos da América do Norte, a qual foi devidamente filmada pelos jornalistas da organização da DemocracyNow. Cerca de 20 pessoas, 4 Saharauis ao serviço de Marrocos, e colonos marroquinos vestidos para a ocasião com roupas tradicionais Saharauis, repetiram slogans contra a América do Norte, mostrando as suas bandeiras antes de entrarem num autocarro e num carro Municipal. De acordo com testemunhos e fotos recebidas pela Equipe de Média, os oficiais do RG são claramente reconhecíveis entre os manifestantes.

Atrasados por esta manifestação de travestis, cujos membros os impediram de partir à hora prevista, os repórteres chegaram depois da manifestação Saharaui agendada para as 17h na avenida Smara, no centro de El Aaiun. Conseguiram ainda reunir-se com os feridos.

Antes da sua chegada, as forças de ocupação como de costume, cercaram o local anunciado para o evento, bloquearam as vias de acesso, e atacaram os Saharauis que conseguiam passar para participar no evento. A maioria eram mulheres, muitas das quais ficaram feridas.

Domingo, 20 de novembro às 19 horas, vários eventos foram realizados em El Aaiun, nos bairros de El Aouda, Douirat, avenida El Hizam, e no bairro Lahchicha. Saharauis agitaram bandeiras da República Saharaui e gritavam palavras de ordem dizendo que Marrocos deveria sair dos territórios ocupados.

À meia-noite do mesmo dia, mais de 60 Saharauis organizaram uma manifestação pacífica no bairro dos "apartamentos vermelhos" situados a cerca de 250 metros do Hotel Salouan, onde os jornalistas estavam hospedados. Os polícias marroquinos atacaram os manifestantes e saquearam as casas dos Saharauis. Este facto foi testemunhado na primeira pessoa, pelos jornalistas que estavam no telhado do edifício.

Três Saharauis foram presos durante a demonstração: Mustapha Labras enquanto filmava, Mahmoud El Baihi e Mohamed Saiguri. Depois, ficaram sob custódia durante 72 horas antes de serem postos em liberdade condicional, proibidos de viajar para o estrangeiro e ainda na condição de se apresentarem semanalmente à polícia. Mustapha Labras e Mahmoud El Baihi testemunharam que foram agredidos em todo o corpo, por polícias na Esquadra durante os interrogatórios que se repetiram a cada noite.

48 horas após a sua libertação, Mustapha Labras e Mahmoud El Baihi foram de novo presos e levados para o Prisão Negra, encarcerados sem julgamento e sem que até ao momento da sua detenção tenha sido fixada uma data pelo juiz instrução. As acusações, não são mais do que as que regra geral são atribuídas aos Saharauis: obstrução do tráfego, ataque a um funcionário no exercício das suas funções, e participação num encontro armado.

Os membros da DemocracyNow partiram para as Ilhas Canárias terça-feira, 22 de novembro às 13h.

Contudo os protestos continuaram

Depois de uma manifestação organizada na zona do aeroporto, no sábado 26 novembro uma patrulha da polícia prendeu Brahim Mayara estudante de 15 anos de idade. Passou 48 horas sob custódia da polícia, tendo sido impiedosamente interrogados por agentes da polícia e da DGST. Ficou com fortes marcas e vários ferimentos no rosto. Foi libertado na segunda-feira com um julgamento pendente e para o qual ainda não existe data. Brahim é o filho do ativista defensor dos direitos humanos e ex-prisioneiro político Mohamed Salem Mayara, e o neto de Haiba Mayara, que morreu sob tortura na prisão secreta Agdez ao sul de Marrocos.

Domingo, 27 de novembro de 2016, pelas 20h as forças de ocupação prenderam o estudante Saharaui Abdesalam Lmrikli de 15 anos, Jamal Salami de 16 anos e o marroquino Rachid Lghoati também de 16 anos, durante a sua intervenção para dispersar uma manifestação exigindo o respeito de direito dos Saharauis à sua autodeterminação, na Rua Chrif Erradi. De acordo com os seus parentes, 3 menores foram interrogados e espancados durante toda a noite.

Terça-feira, 29 de novembro, o juiz ordenou que levassem os três presos para a Prisão Negra, onde permanecerão encarcerados até a data do julgamento marcado para 20 de dezembro. Segundo as famílias, nenhuma acção foi até à data tomada, para que prossigam os seus estudos.

No mesmo dia, no bairro Douirat as forças de ocupação prenderam Bouamoud Mohamed, de 20 anos, e Said Ayoub de 18 anos durante uma manifestação. A patrulha da polícia interrogou e espancou Bouamoud durante 4 horas na sede da polícia após o que o libertou. Said Ayoub foi enviado para a prisão negra 72 horas após ter estado sob custódia policial, durante o qual ele foi espancado e assediado psicologicamente.

Em Smara ocupado, em 25 de novembro de 2016, por ocasião do dia mundial contra a violência contra as mulheres, o FAFESA (Fórum para o Futuro da Mulher Saharaui) presidido por Soukeina Jed Ahlu foi feito um chamamento para uma manifestação no bairro Essoukna. Mais uma vez, as forças de ocupação intervieram violentamente contra os manifestantes, ferindo 20 pessoas, incluindo 15 mulheres.

 

 

Os agentes da polícia atacaram e prenderam em seguida o jornalista Saharaui Walid El Batal do grupo "EsmaraNews". As acusações são "entraves à circulação e ataque a um funcionário no desempenho das suas funções. O procurador do Rei de Marrocos definiu o julgamento para o dia 1 de dezembro. Walid El Batal é o filho do ativista Saharaui Salek El Batal, um membro do Comité Saharaui de defesa dos direitos humanos em Esmara ocupado. Este ultimo, já havia sido preso no dia 15 de Novembro em Esmara e apresentado ao Ministério Público a 16 de Novembro. O julgamento é esperado para o dia 5 de Dezembro, em Esmara e as acusações são: envolvimento em manifestações em Smara no dia 6 de novembro de 2009 e incentivar os Saharauis a participar em manifestações contra a ocupação marroquina.

A onda de protestos e prisões continuam em El Aaiun após a saída de DemocracyNow. Ficamos a saber ontem que, na quinta-feira 01 de dezembro de 2016 foram presos pela polícia marroquina Ali Saadouni, Nourdin El Aargoubi, Khalihna Faka Allah e Mrabih Rabou Saidi. Todos os quatro são membros da coordenação dos Saharauis que rejeitam a nacionalidade marroquina. Eles foram presos no café Marwa no centro de El Aaiun enquanto tomavam café com os amigos.

Interrogados foram levados sob custódia. Irão comparecer perante o Ministério Público de Marrocos, amanhã sábado 3 de Dezembro durante a tarde. As acusações são de "ataque a um oficial de polícia."

Os quatro são autores de vídeos, em que de rosto descoberto pedem aos Saharauis para boicotar as eleições marroquinas e denunciar as cerimónias do aniversario da invasão militar marroquina no Ocidental.

Artigo de Né Eme, que integra a "Equipe Media" nos territórios ocupados, como colaboradora e tradutora