China condena ativista a 4 anos de prisão

26 de January 2014 - 14:55

Na semana em que foram reveladas as contas offshore de figuras da elite política chinesa, o ativista pela transparência Xu Zhiyong foi condenado por "ameaçar a ordem pública".

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Xu Zhiyong está preso desde agosto, na sequência da reprssão sobre o seu movimento que reclama mais transparência e menos corrupção na China. Foto South China Morning Post

Um Tribunal de Pequim concluiu este fim de semana um dos julgamentos mais mediáticos envolvendo a oposição nos últimos anos. No banco dos réus sentaram-se dez ativistas acusados de “reunir uma multidão para perturbar a ordem em espaço público”,  a tradução da justiça do regime para o que na realidade se tratou de uma  concentração com uma faixa exibindo a palavra de ordem “Os cidadãos pedem aos funcionários do governo que divulguem a sua riqueza”.

Entre os acusados e agora condenados está Xu Zhiyong, advogado conhecido pelas causas que defende na justiça chinesa e fundador do movimento Novos Cidadãos, que luta contra a corrupção. O advogado de Xu Zhiyong disse à imprensa que após conhecida a sentença, o ativista afirmou ao tribunal que “foi hoje destruída a última réstia de dignidade do Estado de Direito na China”. Os ativistas optaram pelo silêncio durante o julgamento à porta fechada, que Xu Zhiyong apelidou de “peça de teatro”, por não aceitar ouvir as testemunhas indicadas pelo réu.

A Amnistia Internacional reagiu pela voz da diretora para o Leste Asiático. Citada pela Deutsche Welle, Roseann Rife afirmou que esta condenação é “vergonhosa, mas infelizmente previsível” e que “as autoridades chinesas optaram uma vez mais por aplicar a lei do medo em vez da lei do país”. “A perseguição das figuras associadas ao Movimento Novos Cidadãos mostra os receios da liderança chinesa em relação aos apelos públicos pela mudança”, acrescentou a responsável da Amnistia Internacional, apelando à “libertação incondicional” de Xu Zhiyong.

Censura impede o acesso às revelações da “Chinaleaks”

A condenação dos ativistas pela transparência dos rendimentos dos funcionários do Governo surge na mesma semana em que foram reveladas mais de 30 mil contas offshore da elite política e económica da China. A revelação faz parte da “offshore leaks”, uma investigação sobre os detentores de contas em paraísos fiscais dirigida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ).

As notícias apontavam para a abertura de contas por parte de figuras ligadas ao topo da hierarquia do PC chinês, como familiares dos principais dirigentes ou administradores de empresas públicas. Logo após a sua divulgação nos principais títulos da imprensa mundial, a censura chinesa bloqueou o acesso à notícias sobre o assunto no site do ICIJ, tendo o diário britânico Guardian também denunciado o bloqueio do seu site para os utilizadores chineses.