“A cada um a sua revolução”

25 de April 2020 - 10:10
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“Esta data não é uma simples efeméride protocolar, ela é a política de todos os dias”. E o Miguel Portas também, “na sua forma de ir ao encontro e de fazer pontes”. Assim abriu a conversa Leonor Figueiredo que a classificou como uma “desconversa sem moderação, com música e poesia”. Apresentou Luca Argel, cantor, compositor e poeta do Rio de Janeiro, residente no Porto à quase oito anos e Pedro Lamares, Poeta, Ator, que foi ex-mandatário da candidatura do Bloco de Esquerda às Eleições Legislativas no distrito do Porto.

Leonor fez uma pequena resenha da biografia de Miguel Portas: jornalista, fundador da Política XXI, que mais tarde veio a fundar o Bloco de Esquerda juntamente com o PSR e a UDP, dirigente e fundador do Bloco de Esquerda,. “Iniciou a vida política como dirigente do movimento associativo de estudantes do ensino secundário em Lisboa, o que lhe valeu ser detido pela Pide com apenas 15 anos” e foi eleito eurodeputado em 2004 e reeleito em 2009, tendo falecido em 2012 com apenas 53 anos.

“Muito dele continua aqui, numa forma de fazer política altamente particular, como a de João Semedo, feita de pontes e de encontros”, afirmou Leonor, destacando os texto que nos deixou, como é exemplo o livro “E o resto é paisagem” e o livro “A Nossa Europa”, que foi na passada 6ª feira disponibilizado on-line pelo Esquerda.net

Pedro Lamares começou com a leitura da crónica de Miguel Portas, escrita em abril de 1999, retirada do livro “E o resto é paisagem: A cada um a sua revolução”. Começa assim:

“A cada um a sua revolução. A minha iniciou-se ainda no tempo da outra senhora, uma expressão que caiu em desuso. E coincidiu com outra, obrigatória pela lei da vida, a da passagem à adolescência. A minha revolução tinha, por isso, razões de urgência inusitada.”

O texto completo está disponível aqui.

Seguiu-se um momento musical de Luca Argel, com a letra “ninguém faz festa”:

“Ninguém faz festa porque a vida está fácil

No barraco ou no palácio ela está se o povo tem por que lutar

É festa, amigos, dos antigos aos modernos

O cultivo clandestino de alegria nos infernos

 

Quem trocou

O seu medo do escuro

Pelo medo do futuro porque sabe

Que nem depois de morto está seguro da maldade

 

Foi também

Quem primeiro avisou

Que um samba, uma gelada, e o suor da nossa testa

Ainda são as armas que nos restam”

Pedro Lamares voltou à leitura, desta vez com as palavras de Filipa Leal, com o texto “Noturno para Varsóvia”, do livro “Vem à quinta feira”, escrito para um festival internacional de literatura, na Polónia, onde a Filipa esteve em representação de Portugal. O texto, sobre habitação, foi traduzido para polaco e está exposto numa estação de metro.

“Gostava de te convidar para minha casa,

como aos amigos nos velhos tempos.

Abria uma garrafa de vinho e contava-te de quando era pequeno

e tu contavas-me como te corre o emprego, o amor.

Vemo-nos todos os dias e falamos tão pouco.

Estendo-te a mão e às vezes dás-me uma moeda,

mas falamos tão pouco.

Gostava de te convidar para minha casa

mas não tenho casa, vai ter de ficar para a próxima.”

Mantendo a habitação como linha condutora, Luca Argel voltou ao violão, desta fez com uma música sobre gentrificação, inspirada nas atuais dificuldades habitacionais que a cidade do Porto enfrenta:

"Fechou o livreiro, fechou a quitanda, fechou o florista

A cidade vai virar só hotel para turista

Fechou a taberna, a confeitaria e o alfarrabista

A cidade vai virar só hotel para turista!"

Durante 55 minutos, Luca Argel e Pedro Lamares, alternaram entre música e leitura, numa verdadeira festa, em celebração do 25 de Abril e em memória de Miguel portas, intercaladas de notas explicativas referentes a cada intervenção.

Segue-se o vídeo onde é possível assistir ao encontro completo:

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