Assassinato de Marielle: polícia não quis ouvir testemunhas

02 de April 2018 - 16:43

Reportagem de O Globo ouviu separadamente duas testemunhas que depois do crime foram expulsas do local pela polícia, que não as ouviu. Versões coincidem e contradizem o que fora divulgado até agora. Por Luis Leiria.

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Assassinato de Marielle: polícia não quis ouvir testemunhas

Já se passaram quase três semanas do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido na noite do dia 14 de março no Rio de Janeiro, e a polícia não divulgou até agora qualquer informação sobre o curso das investigações. A versão oficial para o silêncio era que qualquer dado poderia alertar os criminosos e prejudicar a investigação.

Mas no último domingo o jornal carioca O Globo divulgou o relato de duas testemunhas que presenciaram o crime e que contradizem parciamente a versão até agora divulgada. As testemunhas – que falaram com o jornal separadamente mas cujos depoimentos coincidem – afirmam que não havia dois carros, como antes fora afirmado, mas apenas um que empurrou o veículo da vereadora para o lado, quase o forçando a subir no passeio. Segundo os testemunhos, um homem negro, sentado no banco de trás do carro dos criminosos, pôs o braço para fora do veículo empunhando uma pistola de cano longo (possivelmente com silenciador) e fez os disparos. O automóvel depois deu uma guinada e fugiu por uma rua diferente da que fora indicada pela polícia.

As duas testemunhas afirmam ter permanecido no local do crime até a chegada da polícia, mas garantem que os polícias militares mandaram todos sair de lá sem serem ouvidos.

A reportagem vem trazer novas dúvidas sobre o interesse ou não da polícia esclarecer o caso, prendendo os culpados. A polícia civil (de investigação) do Rio de Janeiro está sob o comando do Exército que, por ordem do governo federal, interveio em toda a segurança pública do estado.

Luzes para Marielle e Anderson”

Nesta segunda-feira, dia 2, às 19h do Brasil (23h em Portugal), decorre o evento “Luzes para Marielle e Anderson” quando milhares de pessoas vão acenderão telemóveis, velas e lanternas para que o crime não caia no esquecimento e para chamar a atenção das autoridades. “Aos poucos a rotina esmagadora vai naturalizando algo que jamais deve ser naturalizado. Assim como acontecem com todas as mortes nas favelas do Rio e do Brasil. Não vamos deixar que isso aconteça”, diz a convocatória do evento.

Até a noite de domingo, havia 60 locais marcados num mapa de luzes, como pontos de encontro para o protesto. A maior parte das ações de luzes está no Rio de Janeiro e noutras cidades brasileiras, mas há também concentrações previstas no Equador, Peru, Argentina, Bolívia, Estados Unidos, Egito, Itália, Suécia, Aústria, França e Alemanha. Durante o evento, os ativistas publicarão fotos com a hashtag #LuzesParaMarielleEAnderson.