Lanny Davis foi conselheiro especial do presidente Bill Clinton de 1996 a 1998, actuando como advogado, gestor de crises e porta-voz durante os vários escândalos de Clinton. Davis desenvolveu uma especialidade lucrativa como sócio do escritório de advocacia Orrick, Herrington & Sutcliffe, oferecendo uma experiência "única" de "comunicações legais em situações de crise", ajudando pessoas envolvidas em investigações ou escândalos. De acordo com documentos recentes apresentados ao Congresso, Davis estava a fazer lóbi para a filial hondurenha do Conselho de Negócios Latino-americano. Zelaya aumentara recentemente o salário mínimo das Honduras.
Davis testemunhou no Congresso em 10 de Julho, dizendo que os seus clientes "acreditam que a melhor hipótese de solução é o diálogo entre o sr. Zelaya e o presidente [Roberto] Micheletti, mediadas pelo presidente [Oscar] Arias, que decorre na Costa Rica." Isto é, até que as sessões de Arias concluíssem com um apelo ao regresso de Zelaya. O porta-voz golpista Cesar Caceres disse que "a mediação foi declarada um fracasso."
Davis prosseguiu as suas declarações ao Congresso: "Ninguém quer um banho de sangue, e ninguém devia incitar à violência". Mas apoiantes de Zelaya foram mortos, e houve uma vaga repressiva sobre os média independentes, tornando a informação difícil de obter.
Falei com Zelaya por telefone na Nicarágua, perto da fronteira com as Honduras, e perguntei sobre a relutância de Obama de usar a palavra golpe. Disse-me: "Toda a gente no mundo - governos, organizações internacionais, todos os juristas e juízes do mundo - chamaram o facto de se capturar um presidente às 5h da manhã, sem julgamento, disparando armas, de golpe de Estado. Ninguém duvida que é um golpe de Estado."
Bennett Ratcliff, outra ligação com a Casa Branca de Clinton, foi um conselheiro-chave do líder do golpe, Micheletti, durante as negociações da Costa Rica. De acordo com a biografia empresarial de Ratcliff, ele "criou publicidade de rádio e de TV para as campanhas presidenciais de Bill Clinton de 1992 e de 1996." A sócia da empresa Melissa Ratciff "trabalhou como estratega de comunicações para a Casa Branca durante a administração Clinton". A empresa deles promete "acesso a decisores-chave e a pessoas com influência."
Com semelhantes objectivos anti-Zelaya há também o lobista Roger Noriega, secretário de Estado assistente de George W. Bush para os assuntos do Hemisfério Ocidental e ex-membro do staff do senador Jesse Helms. Noriega está a fazer lóbi a favor da Associação das 'Maquiladoras' hondurenhas, que reúne proprietários de fábricas baseadas em pagar baixos salários e exportar bens, principalmente para os EUA.
Tanto Noriega quanto Davis representam interesses empresariais que se beneficiam do "livre comércio" com os Estados Unidos. Zelaya, eleito originariamente com o apoio da comunidade empresarial das Honduras, desviou-se para políticas mais populistas. Recentemente, entrou no bloco latino-americano emergente ALBA, organizado por países como a Venezuela e a Bolívia para contrariar o domínio económico dos Estados Unidos.
Durante a campanha presidencial de Hillary Clinton, Davis repetiu a acusação de que Obama não seria capaz de lidar com uma "chamada de crise às 3h da manhã."
Na sua recente visita à África, Obama declarou a importância da democracia. Mas no seu próprio quintal está um genuíno golpe de Estado que a sua administração pouco fez para reverter. Obama vai ao México para se encontrar com o presidente Felipe Calderon e o primeiro-ministro Stephen Harper do Canadá em 8 de Agosto. Espera-se que as Honduras estejam na agenda. A chamada das 3h da manhã já foi feita - quem é que Obama vai escutar? A democracia, ou os interesses especiais instalados, contra os quais Obama prometeu mudança?
4/8/2009
Denis Moynihan contribuiu para a investigação desta coluna.
Amy Goodman é apresentadora de "Democracy Now!" um noticiário internacional diário, nos EUA, de uma hora de duração que emite para mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em 200 emissoras em Espanhol. Em 2008 foi distinguida com o "Right Livelihood Award" também conhecido como o "Premio Nobel Alternativo", outorgado no Parlamento Sueco em Dezembro. É co-autora de "Standing Up to the Madness: Ordinary Heroes in Extraordinary Times".
Tradução de Luis Leiria