O investigador do Centro de Estudos Sociais defendeu que austeridade não é apenas uma escolha económica, sendo "também um modelo de regulação da sociedade". E apontou a "falta de clareza" na apresentação dos argumentos da teoria política da austeridade, bem como a necessidade de questionar a sua legitimidade.
"Qual a fonte de poder deste modelo?", perguntou Casimiro Ferreira, acrescentando que ela combina os representantes da maioria eleita com elementos ou instituições que ninguém elegeu. E exerce um controlo social apoiando-se na utilização instrumental do medo para levar à aceitação do modelo de austeridade. "Toda a linguagem do sacrifício e da culpa estão juntas quando se diz que somos todos igualmente responsáveis pela situação", acrescentou o autor de "A Sociedade da Austeridade", que no fim do ano lançará o livro "O Trabalho e os seus Direitos".
"Vivemos num estado de exceção"
Ainda a propósito da situação portuguesa, Casimiro Ferreira disse que vivemos hoje "um momento de ruptura política com alguns dos ideais que saíram do 25 de Abril e ficaram inscritos na Constituição", dando o exemplo da legislação laboral.
"Este estado de exceção dá cobertura à discrepância entre o modelo que tínhamos na legislação do Trabalho com as práticas sociais" no cotidiano das empresas, apontou o sociólogo em relação às alterações ao Código do Trabalho que recentemente entraram em vigor. Ao legitimar essas práticas sociais, o modelo de austeridade "não legisla para a frente", ao contrário do que quer fazer crer, mas representa um "ajuste de contas histórico com o 25 de Abril", referiu o sociólogo.