Na sua intervenção, Marisa Matias falou da mudança da relação de forças política após a crise financeira de 2008, com uma "viragem à direita sem precedentes" com reflexos no Parlamento Europeu, onde pela primeira vez os conservadores podem dispensar os socialistas para obterem apoio maioritário às suas propostas.
Por outro lado, acrescentou a eurodeputada do Bloco, "houve uma transferência dos culpados pela crise do sistema financeiro para o setor público e para os cidadãos" e a constituição dum governo económico preocupado com a inflação em vez da criação de emprego. Razões de sobra, segundo Marisa Matias, para rejeitar uma Europa "em que a Alemanha manda e os trabalhadores dos países do Sul pagam" e reforçar a unidade da esquerda com ações concretas como a que recentemente juntou as organizações do Partido da Esquerda Europeia numa moção comum de rejeição do Tratado Orçamental nos respetivos parlamentos nacionais.
Céline Meneses, responsável do departamento internacional do Parti de Gauche, uma das iformações que integra a Front de Gauche em França, fez o balanço dos primeiros cem dias de mandato de François Hollande, destacando o falhanço das suas principais promessas de campanha: a alteração do Tratado Orçamental e o imposto sobre as transações financeiras. A primeira resumiu-se a uma adenda vazia sobre a necessidade de criar emprego e a segunda, que já tinha sido enunciada por Sarkozy, "deixou de fora os mercados cambiais e boa parte dos produtos derivados", onde se jogam diariamente muitos milhões de euros praticamente sem controlo da supervisão dos mercados.
"A esquerda europeia tem de ser a melhor oposição à austeridade", defendeu a dirigente do Parti de Gauche, que falou também da atual campanha pelo referendo ao Tratado Orçamental, uma proposta que reccolçhe o apoio da maioria do eleitorado francês. "O Tratado Orçamental acaba se o Não ganhar neste referendo", afirmou Céline Meneses, lembrando que essa seria uma grande desforra da esquerda portuguesa para o governo de Passos Coelho, que foi o primeiro a ratificá-lo.
A situação pós eleitoral na Grécia e a chantagem da troika sobre o país foram o centro da intervenção de Ludovikos Kotsonopoulos, dirigente da Syriza. "O governo grego está a perder credibilidade todos os dias", tanto face ao eleitorado como em relação à própria troika, afirmou Kotsonopoulos, referindo-se à fragilidade da coligação no Governo, incapaz de formar apoio para mudar a Constituição grega.
Eleito com a promessa de renegociação imediata do memorando, o governo faltou à cimeira europeia que se seguiu às eleições, alegando complicações de saúde do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, recordou o dirigente da Syriza. "Prometeram que não iam cortar salários, ma já anunciaram cortes no setor público e no privado, incluindo os militares e polícias", acrescentou.
"A Europa está a passar dos ajustamentos neoliberais para um regime neoliberal e quer começar a implementá-lo no Sul da Europa", concluiu Kotsonopoulos, para quem "as políticas de austeridade estão a acumular miséria para permitir a acumulação de capital" e assim responder à crise de acumulação de capital que estamos a atravessar.
"A esquerda europeia tem de ser a melhor oposição à austeridade"
O debate sobre a "Encruzilhada da Europa em Crise e a Alternativa da Esquerda" juntou no Socialismo 2012 a eurodeputada Marisa Matias e dirigentes do Parti de Gauche francês e do Syriza grego.
07 de setembro 2012 - 10:52
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Foto Paulete Matos