Gramsci e as Relações Internacionais

Publicamos a comunicação de Bruno Góis, intitulada "Gramsci e as Relações Internacionais: um tubo de ensaio", sobre as origens e a evolução do pensamento das Relações Internacionais.

06 de setembro 2012 - 18:39
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Foto de Paulete Matos

Como seria o pensamento das Relações Internacionais se as suas “origens tivessem derivado da vida e obra da Doutora Zungu, essa admirável chefe tribal zulu, negra, feminista e médica de profissão”?

Inspirando-se na referida personagem real, Ken Booth provocou assim a demais comunidade académica das Relações Internacionais (RI), no 75º aniversário do primeiro departamento das RI, para que imaginassem que futuro poderia ter tido caso a sua origem e decorrente história não estivesse ligada ao patrocínio financeiro do industrial e parlamentar liberal David Davies.

É aqui que entra em cena Gramsci, não pela mão de Booth que apenas deu mote a estas notas, mas pela mão de Robert W. Cox. Quem é esse senhor?! Isso é secundário agora, o que importa é que Cox introduziu uma perspetiva “Crítica” nas RI, inspirado no marxista italiano Antonio Gramsci. É neste momento que os estudantes e os curiosos das RI dão pulos de alegria a pensar que já encontraram a “perspetiva de esquerda” que os vai safar das teorias dominantes nas RI. Calma, ainda não é agora! Pelo menos é o que eu defendo.

‘Idealismo ou Realismo?’ É com esta pergunta com rasteira que costumamos perder a bússola que indica a esquerda. O Idealismo diz-nos que a política é ‘a arte do bom governo’. O Realismo diz-nos que a política ‘é a arte do possível’. Vemo-nos forçados a escolher entre a ingenuidade/bondade do otimismo antropológico Idealista e o cinismo/maldade do pessimismo antropológico Realista. Nada disso.

Talvez Gramsci ajude quando populariza a expressão “pessimismo da razão, otimismo da vontade”. Já mudámos as coordenadas do esquema conservadores vs liberais. Afinal havia outra, ou outras. Mas Gramsci não chega e, em meu entender, é preciso realismo crítico, uma superação e não um compromisso entre positivistas e pós-positivistas.

É aqui que chega o tubo de ensaio, mete-se lá o Gramsci e a ver o que dá (!?)

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