José Eduardo Reis era um destacado militante do MPLA quando foi preso no dia 30 de maio de 1977, acusado de ser “fraccionista”. Só seria libertado dois anos e quatro meses depois, sem nunca ter sido julgado. Nesse período, esteve preso, foi torturado na cadeia de São Paulo, e depois internado num campo de trabalhos forçados. Um dia, chegou a cavar a própria sepultura, sendo salvo in extremis por uma contra-ordem. Amigo de Sita Valles, as suas memórias são uma peça essencial para compor o puzzle daquele evento fatídico da história contemporânea de Angola.
Este livro já era aguardado há muito pelos amigos, outros sobreviventes do 27 de Maio, e pessoas interessadas na história angolana. a editora é a Nova Vega. A Casa de Goa fica na Calçada do Livramento, nº 17
Aqui fica um pequeno extrato, escolhido pelo autor para o Esquerda.net:
«NÃO HAVERÁ PERDÃO!»
Esta sentença perversa provocou danos irreparáveis e perenes na sociedade angolana. O seu autor, ao ditá-la, inscreveu o nome numa das mais sombrias páginas da história de Angola, pois, ao proclamá-la, deu o mote à violação malvada, uma ofensa aos direitos humanos, vergonha que assolou o país e da qual ainda hoje padece. Tinha chegado a hora para mais um acerto de contas e a crueldade que sobreveio foi um flagelo que perdurou no país por décadas. Agostinho Neto propalou em voz alta a firme intenção de não perder tempo com julgamentos. Depois, valeu-se da propensão dos humanos para a selvajaria – Joseph Conrad em O Coração das Trevas admitiu a alteração comportamental de algumas pessoas quando as interdições sociais são suspensas – e mandou prender, torturar e matar os estorvos, fossem eles crianças, jovens, homens ou mulheres. Nem as grávidas tiveram melhor sorte. Estava-lhes destinada a morte, mesmo que para tal fosse necessário escondê-las e nesse horrendo cativeiro aguardarem pelo fim da gestação. Perseguiram-se famílias inteiras como se o parentesco fosse crime.