Há pouco mais de um mês, o especialista em tecnologia Edward Snowden, de 29 anos, terminou o seu trabalho no escritório da Agência Nacional de Segurança (NSA), no Hawai, e copiou sigilosamente uma grande quantidade de documentos. Disse então aos seus superiores que ia viajar para Hong Kong por motivos de saúde, já que sofre de epilepsia. Mas o verdadeiro motivo da viagem era deixar o território americano para estar longe quando o resultado de suas ações viesse a público. Snowden é um dos responsáveis pela fuga de documentos secretos que mostram como o governo americano monitoriza os seus cidadãos e espia cidadãos, instituições e governos de outros países, incluindo os seus aliados.
Obama nunca encerrou programas de Bush
A história de Snowden foi revelada no domingo 9 de junho, pelos jornais Washington Post e The Guardian - os dois veículos que receberam e publicaram os documentos secretos. Graças a Snowden, o mundo soube que o presidente Barack Obama nunca encerrou os programas de vigilância doméstica da Era Bush, e que milhões de telefonemas e e-mails privados de cidadãos americanos sem relação com terroristas são monitorizados pelas agências de espionagem dos EUA.
Que os Estados Unidos espiam a missão da União Europeia em Nova York e 38 embaixadas, entre elas as de França, Itália e Grécia e dos países do Médio Oriente.
Que os serviços de informação britânicos espiaram o G20.
Que a NSA usa parcerias com empresas telefónicas americanas para aceder a redes de comunicação de países como o Brasil, China, Índia ou Paquistão.
E muitas outras revelações.
Vida muito confortável
Snowden já trabalhou como consultor da CIA. Quando saiu dos Estados Unidos, era funcionário da empresa do setor de defesa Booz Allen Hamilton, onde fazia um trabalho para a NSA. Disse ao Guardian que tinha uma vida "muito confortável", com um salário de 200 mil dólares por ano, uma namorada e uma vida boa no Hawai. Mas esse conforto não se refletia na sua consciência. "Estou disposto a sacrificar tudo porque não posso permitir que o governo dos Estados Unidos destrua a privacidade e a liberdade com essa máquina de vigilância que está a construir", disse.
Snowden soube desde o início que o que ia fazer poderia causar-lhe grande dano, a exemplo do que aconteceu com Bradley Manning, o militar americano que está a ser julgado por um tribunal militar acusado de divulgar documentos diplomáticos à Wikileaks. Por isso, Snowden já calculava que nunca mais poderá voltar aos Estados Unidos. "Tenho a intenção de pedir asilo a qualquer país que acredite na liberdade de expressão e se oponha a que a privacidade global seja a vítima", disse.
Não se arrepende
Apesar disso, o ex-técnico da CIA não se arrepende de ter divulgado a informação classificada como "altamente secreta". Acredita que sua ação vai ajudar o povo dos EUA, que agora tem "o poder de decidir por eles mesmos se estão dispostos a ceder a sua privacidade a um estado de vigilância constante".