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Os socialistas e o SIM
O Scottish Socialist Party sempre apoiou a independência e fê-lo sobretudo por duas boas razões, entre outras.
Em primeiro lugar, porque a Escócia tem uma oportunidade de ouro para se libertar do estrangulamento que, sob diversas formas, nos tem sido feito pelo Estado Britânico partindo de Westminster, via Banco de Inglaterra, a City de Londres, e com não menor importância, via as direções das empresas. Para o SSP os escoceses não estão em melhor situação dentro da união porque o Reino Unido é uma pesada carga económica, social e política.
A independência só por si não será uma cura para todos os males nem significa a automática introdução de reformas. Mas deverá trazer-nos uma possibilidade de fazer essas reformas. O que é um passo significativo na direção certa.
Em segundo lugar, porque a classe trabalhadora escocesa tem mais a ganhar com a Independência que a tornará livre dessa carga.
É significativo neste debate que os opositores da Independência concedem que é nosso inalienável direito, enquanto escoceses, decidir se desejamos ou não autogovernarmo-nos.
Em debates precedentes o lado do NÃO nunca aceitou o princípio da autodeterminação extensível à Escócia. É certo que no referendo de para a Devolução em 1979, o Partido Trabalhista organizou a campanha “A Escócia é Britânica” e recusou liminarmente que os escoceses tivessem esse direito – negando-nos aquilo que nunca teriam imaginado negar a outros povos.
Desta vez, os seus homólogos, como o deputado trabalhista Ian Davidson concede “os Escoceses têm certamente direito à autodeterminação”, mas acrescenta “mas também têm o direito de não a ter, se assim o entenderem”.
O Scottish Socialist Party insere-se nessa antiga e honrosa tradição de apoio à Independência, que remonta a mais de um século até ao lendário John Maclean, do tempo do Red Clydeside. O marxista Maclean e o seu companheiro de Edimburgo James Connolly – executado pelos britânicos por ter tomado parte no Levantamento da Páscoa (Easter Rising) de 1916 em Dublin – foram ambos apaixonados defensores da Independência Escocesa mas nenhum dos dois teria sido alguma vez descrito como “nacionalista”. Eram internacionalistas que entenderam cabalmente o papel que a questão nacional desempenhava como suporte da luta da classe operária contra os seus opressores.
Porque ficariam as classes trabalhadoras em melhor situação com a Independência? Responder a esta questão de forma compreensível exige uma análise das suas condições de vida nos dias de hoje. Para socialistas como os do SSP a evidência é flagrante. O Estado Britânico de hoje ocupa uma posição de primeiro plano no que respeita à exploração económica neoliberal em todo o mundo. Foi ele que exportou as privatizações, o ataque aos direitos dos sindicatos e às organizações de trabalhadores, o belicismo, as regras do comércio internacional construídas sobre um preconceito em relação ao ocidente industrializado a expensas dos outros países, o financiamento da economia global deslocando as manufaturas para países com a mão-de-obra mais barata do mundo, “economias de mercado livre” que permitem às grandes multinacionais funcionar sem competidores através de monopólios, fusões e outros meios.
A economia escocesa dos nosso dias é fortemente controlada pelo capital financeiro, pelas petrolíferas e pelo Governo destas. Desigualdade grotesca e pobreza são as realidades do dia a dia, agravadas de dia para dia com o abandono dos fracos e vulneráveis nas ruas para sobreviverem sozinhos. Estes não são os nossos valores.
A classe trabalhadora escocesa confronta-se com uma gigantesca tarefa se quiser contornar esta situação. Teremos de promover os valores/princípios/virtudes social-democratas e socialistas da propriedade pública, a intervenção nos “mercados” para diminuir os excessos, redistribuição da riqueza através de subsídios estatais, impostos progressivos e igualdade de acesso à riqueza e aos meios de produção.
A independência só por si não será uma cura para todos os males nem significa a automática introdução de reformas. Mas deverá trazer-nos uma possibilidade de fazer essas reformas. O que é um passo significativo na direção certa.
Colin Fox é porta-voz do Scottish Socialist Party. Publicado inicialmente no site da campanha Yes Scotland, a 02/04/2014. Traduzido por Isabel Gentil
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