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Os oportunos críticos de Murdoch

Oh isto é tão divertido! A cada passo fica ainda melhor, mas há sempre uma advertência de que “o pior está para vir” deixando-nos a tentar imaginar o que poderão ter feito que seja pior do que isto. Provavelmente, amanhã, eles terão colocado um insecto* na perna falsa de Heather Mill e terão invadido a caixa de voz de Stephen Hawking.
A única coisa que mancha tudo um bocadinho é que agora toda a gente odeia Murdoch. É como quando se gosta de uma banda desconhecida e torna-se famosa.
De repente, os políticos, que passaram as suas carreiras prostrados diante de Murdoch estão em choque perante o horror destas revelações. Este espanto poderia ser razoável se a News International fosse gerida por Susan Boyle ou por Judi Dench, mas era gerida pelo Rupert-Maldito-Vilão-Murdoch, seu idiota!
Os políticos não podem ser culpados porque, como disse Peter Mandelson, “receamo-lo.” Pode-se entender isto porque as pessoas no Egipto e na Síria que resistem aos tiranos enfrentam apenas tortura e a morte, mas Murdoch pode publicar uma fotografia de si com a cabeça numa lâmpada e ninguém é capaz de suportar isso, especialmente se for alguém com um trabalho humilde e sem poder nenhum como é o caso do primeiro-ministro.
Então que poderiam eles fazer senão voar à volta do mundo para vê-lo e ser fotografado a rir e a jantar com ele uma e outra vez? Ao fim e ao cabo, não vale a pena ser um mártir.
Cameron prometeu continuidade contratando uma das pessoas mais próximas de Murdoch e pondo de lado um ministro em caso de este se pôr no caminho de Rupert. E ainda convidou Rebekah Brooks – a vice da News International até se ter demitido no fim-de-semana pouco tempo depois de ter sido presa – para o jantar de Natal o que aconteceu, explicou ela, por pertencer ao seu círculo eleitoral. Então, este Natal, todos os cidadãos do círculo eleitoral deveriam aparecer para jantar, e sem dúvida que vão poder entrar e conversar sobre os canos atrás do Lidl enquanto tomam um cálice de porto.
Mas, agora, os líderes do partido estão desconcertados e enojados e nunca poderiam ter adivinhado, é tão convincente como alguém que protesta, “passei 10 anos com um gang de lutas de cães, mas não tinha ideia de que eles estavam envolvidos nisso.”
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A polícia também está em choque porque como poderiam saber que 11 mil páginas de documentos sobre escutas ilegais poderiam conter provas de escutas ilegais?
Deveria haver uma série de detectives baseada no Inspector Yates, que liderou a investigação sobre os jornais de Murdoch. Todas os episódios acabariam com os suspeitos todos juntos numa sala com ele a dizer, “nesta caixa estão documentos que provam que um de vós é um assassino. Mas não tenho tempo para ver isso em pormenor, portanto, podem ir em liberdade.”
Até mesmo a própria Brooks está “espantada” e, antes de ir pela prancha, estava desejosa de investigar. Então o jornal ia investigar ele próprio, a polícia investiga-se a si própria e os políticos serão investigados através de um inquérito decidido por eles próprios.
Eles são favoráveis à lei e ordem estritas, talvez seja este o plano deles para acelerar a justiça. Em vez de julgamentos dispendiosos, os acusados podem abrir inquéritos sobre eles próprios e regressar daqui a três anos para nos dizer se fizeram ou não algo de errado.
Apesar disto tudo, cada dia é glorioso para aqueles que viram as organizações de Murdoch quebrar governos, apoiar guerras e massacres, e esmagar sindicatos, porque está a fugir, a cair como um ditador cujo poder está sob ameaça, e abismado porque as pessoas já não se curvam perante ele.
Como bónus parece que cada dia alguém desagradável é apanhado no problema, então, este fim-de-semana, espero que o apresentador da BBC Rádio 1, Chris Moyles, seja forçado a demitir-se, e que o tipo que me cortou quando eu fazia a curva para a Streatham High Road seja pressionado.
E como todos os regimes despóticos em queda, histórias surgirão sobre a loucura interna como aquela em que Rebekah Brooks pede a um jornalista para ir à conferência de imprensa na manhã do 11 de Setembro vestido de Harry Potter. Se ele ao menos tivesse aceitado e voltado para tranformá-la numa coruja.
[*] O autor utiliza a palavra earwig que tem um duplo significado: é um insecto e também alguém que escuta ou invade a privacidade de forma oculta (N.T.)
Tradução de Sofia Gomes. Artigo original publicado no Independent.
Mark Steel é um comediante, colunista do jornal The Independent, e é um socialista e activista no Reino Unido. É autor de duas colecções sobre a Grã-Bretanha, It's Not a Runner Bean: Dispatches de Slightly Successful Comedian and Reasons to Be Cheerful, e ainda Vive la Revolution: A Stand-up History of the French Revolution.
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