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O desemprego está para durar!
Estamos a chegar ao final do ano e é tempo de balanços, confesso que não tenho grande jeito nem feitio para os fazer, mas, enquanto trabalhador e sindicalista, não posso deixar de escolher, como "personagem do ano" de 2009, o Desemprego.
Basta dizer que desde 1983, há 26 anos, que os números não eram tão elevados.
523 mil desempregados são o número oficial, mas todos sabemos que a verdadeira dimensão desta chaga social ultrapassa na realidade os 700 mil homens e mulheres que se encontram sem trabalho e mais de metade não tem acesso ao subsídio de desemprego.
Esta insuportável realidade é, só por si, mais um factor de crescimento de pobreza que não podemos deixar acrescentar à que já existe em tão elevada escala.
Alterar esta situação e reforçar a protecção social dos desempregados tem de ser a primeira prioridade que se exige do governo. É preciso que todos os desempregados sejam abrangidos por uma prestação substitutiva do salário perdido.
O desemprego é transversal a todas as camadas de trabalhadores, embora atinja com especial incidência as mulheres e os jovens com vínculos precários, e acontece nos vários tipos de empresa, sejam pequenas, médias ou grandes, sendo que nestas últimas as multinacionais estão a aproveitar a onda da crise para "levantar a tenda" e deslocarem-se para mercados onde a mão-de-obra é ainda mais barata e as condições sociais quase inexistentes.
Longe vai o tempo em que o governo Sócrates I prometia 150 mil postos de trabalho.
O combate ao desemprego deve ser travado a montante e passa essencialmente por evitar a destruição dos actuais postos de trabalho existentes, não permitindo por exemplo despedimentos colectivos sem justificação séria e comprovada nem recurso ao lay-off de forma abusiva e sem qualquer fiscalização, como tem vindo a acontecer. É preciso evitar as falências fraudulentas e ao mesmo tempo limitar os contratos a termo ao máximo de 1 ano e devidamente justificados, acabar com os falsos recibos verdes, o que implica na prática a revisão do Código do Trabalho, coisa que a actual ministra diz rejeitar, mas para os trabalhadores é uma batalha que tem de continuar a ser travada.
Para inverter esta elevada taxa de desemprego, sabemos que não basta evitar a perda de postos de trabalho, é fundamental criá-los.
Isso passa por reforçar os apoios às empresas que garantam de facto a criação de emprego digno, estável e de qualidade, dando assim combate às diversas formas de precariedade laboral.
Passa sobretudo por uma alteração do modelo económico que não pode mais assentar nos baixos salários e na prioridade às exportações. Impondo-se uma alteração do actual perfil produtivo para ganharmos competitividade e espaço na actual economia global.
A ruptura com este modelo económico tem de ser feita, mas certamente não será através da proposta de "Pacto para o Emprego" que este governo Sócrates II apresenta e onde claramente aposta na "adaptabilidade do tempo de trabalho" como peça fundamental para apoiar o emprego, a competitividade e reduzir a precariedade. Nada mais falso, pois esta medida visa particularmente a redução do custo do trabalho com evidentes quebras nos salários ao mesmo tempo que põe em causa o normal equilíbrio que deve existir entre a vida profissional e a vida familiar e social.
O caminho a seguir é instituir um programa de criação de emprego, com carácter de urgência que tenha em conta a sustentação da procura no mercado interno, que desde logo obriga ao aumento do poder de compra da generalidade dos que vivem do trabalho e também dos pensionistas. Que assegure a expansão do investimento público no sentido da qualificação da economia e tenha efeitos a curto prazo na geração de emprego e na actividade da economia real. Que dê combate efectivo à precariedade eliminando por esta via um potencial foco de desemprego.
Por outro lado, é do interesse dos desempregados organizarem-se quer de forma autónoma quer nos sindicatos onde estejam filiados, ao mesmo tempo que para os sindicatos e/ou federações sindicais é urgente criarem condições para que este enorme conjunto de cidadãos tenha voz e possa continuar a lutar pelo direito ao trabalho. Só com essa luta será possível limitar a procura do lucro a qualquer preço, evitar a perda de direitos e a degradação das condições de trabalho, sacudir a enorme violência a vários níveis, a que os trabalhadores estão sujeitos, e estancar o desemprego no ano de 2010.
Não basta termos imposto nas eleições legislativas de 27 Setembro uma derrota ao PS tirando-lhe a maioria absoluta, com a consequente nova configuração da Assembleia da Republica, para que as políticas anti-sociais e anti-laborais se alterem do pé para a mão.
Torna-se fundamental estar disponível para lutar no campo social e político para não permitir àqueles que, em nome da recuperação económica, injectaram milhões a rodos do nosso dinheiro na salvação dos Bancos, "esquecendo-se" entre outras coisas de garantir a todos os desempregados condições de vida com o mínimo de dignidade, vindo agora anunciar que a redução do défice público tem de se fazer já a partir do próximo ano, o que acarretaria ainda mais sacrifícios para os trabalhadores. Vamos ter de estar muito atentos ao Orçamento de Estado para 2010.
Se queremos dar a volta a isto, temos de dizer ao governo, que não tomar medidas sérias e eficazes contra o desemprego não é só cruel e desumano, é também sinal de vistas curtas.
Francisco Alves
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